Quando chega o verão, as lembranças de guri criado na colônia ficam muito nítidas para mim. Era tempo de passar os dias em arroios, em busca de lambaris, carás e jundiás. Admito que fazia muitas coisas tenebrosas para alguém que até hoje não sabe nadar.
Muitos desses episódios chegaram ao conhecimento da minha mãe anos mais tarde através de colunas que mantenho em diversos jornais. Ela sempre me advertiu sobre os perigos, mas encarava com bom humor.
Hoje parece que o perigo existe desde uma inocente praça até o shopping, onde proliferam pedófilos e sequestradores de crianças. É um comportamento compreensível, diante da espiral de violência que assola inclusive as pequenas comunidades.
O flagelo da droga atrai um universo de crimes, como a presença de facções, que impõem toque de recolher e intimidações. Seria falacioso dizer que os entorpecentes não existiam na minha adolescência, mas era em escala muito menor.
Meu pai sempre foi um grande parceiro para jogar bola, plantar mudas no Dia da Árvore e falar sobre a importância dos amigos. Mas, em outras pautas, sempre foi um homem sisudo. Sexo e drogas jamais estiveram em nossas conversas.
Tive a sorte de contar com amigos mais velhos, que legaram noções básicas sobre esses assuntos controversos. Também lembro de um saudoso professor de Educação Física, Aldo Thomé, capitão do Exército. Nos dias de chuva, ensinava “como tratar com educação as gurias” e cuidados para evitar uma gravidez indesejada. E isso em um colégio de freiras! Ele é inesquecível para a minha geração, pela naturalidade com que abordava conteúdos vedados.
Hoje, as redes sociais implodiram os mistérios. Tudo está ao alcance da gurizada pelos smartphones e pelos relógios de última geração. Há precocidade em todos os assuntos, que rapidamente se tornam descartáveis. Poucos personagens da vida real são eternizados. Ídolos sobrevivem por pouco tempo, modas duram dias ou horas.
Mas é preciso reconhecer que as pessoas estão mais próximas, embora nem sempre para compartilhar opiniões em comum. Viajar pelo mundo, todavia, é rotina. Destinos jamais imaginados estão em qualquer catálogo de agências de turismo.
A ciência evoluiu rapidamente, permitindo a cura de diversas doenças, salvando vidas, minimizando dores e sofrimento. Não importa a época. Valem, sempre, o bom senso e o equilíbrio no emprego dos meios disponíveis no momento.
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