Caminho pelas ruas e, ao dizer bom dia, as pessoas parece que se assustam. Cedo, os mais diferentes perfis de rostos carregam seu corpo ao primeiro destino da jornada que se inicia. Para muitos, a noite ainda não acabou ou foi insuficiente; exibem visível cansaço, certa irritação, caras fechadas, não toleram ser importunados, porque provavelmente estão ainda organizando a confusão que os sonhos promoveram durante seu descanso. Os primeiros instantes da manhã constituem um momento de passagem do leito profundo ao mundo agitado da vida cotidiana.

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Mas é muito agradável e surpreendente desejar um bom dia. Alguns respondem murmurando, sentindo-se incomodados em seu recolhimento. Outros atendem com entusiasmo e visível alegria, porque alguém estranho está compartilhando um desejo de que o dia seja feliz, sem percalços, sem tropeços, e, sim, recheado de sucesso, de saúde, de bom humor. Os que acolhem a saudação já vêm com esse desejo estampado no rosto. Os que não estão habituados, os que nem esperam, olham para o lado, desinteressados. Porém, também eles merecem a saudação.

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A saudação precisa carregar o sentido, não pode partir vazia. Não pode ficar restrita à expressão pronunciada, sem calor, sem significado. Costumo dizer que uma leitura em voz alta precisa enviar junto o sentido; caso contrário, não alcança o seu propósito, é exercício jogado no vazio. Ao dizer bom dia, vão junto os meus desejos de que o outro tenha, de fato, um dia bem sucedido, de agradáveis acontecimentos, de suave convivência, de êxito em sua vida pessoal e profissional.

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Não sei como é hoje, mas lembro que, no interior, passar pela estrada e não desejar um bom dia ou uma boa tarde era considerado ofensa, desaforo. Todos se cumprimentavam, mesmo que houvesse distância entre o caminhante e o morador sentado à sombra ou abrigado em sua moradia. Na cidade, onde somos milhares, onde praticamente a cada passo topamos com alguém, perdemos o senso dessa gentileza mínima e fazer a saudação soa estranho, invasão de privacidade, pequeno e dispensável pecado civilizatório.

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Uma bem conhecida canção – Alô, bom dia –, em letra muito singela, lembra que bom dia nada custa ao nosso coração e que é bom fazer feliz o nosso irmão. Não custa distribuir um largo sorriso e até oferecer um aperto de mão. Quem não gosta de receber um bom dia natural (não obrigatório e profissional) do atendente do supermercado, da farmácia, do posto de combustíveis, da loja, do professor, do aluno, de todos com quem convivemos?

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Guten Morgen, bonjour, buongiorno, good morning, buenos días, não importa o idioma, o que cabe é nos conectarmos com o outro e fazê-lo importante, notado, feliz. E tudo isso pode ser feito a custo zero. Em tempos de tanto ódio gratuito, de tanta mentira para espalhar o medo e pisar nos outros, de tantos absurdos e doídos desencontros sem sentido, talvez seja interessante recuperar os pequenos gestos, reaprender a gentileza, ser porta-voz a anunciar um bom dia, mesmo a quem nunca tenhamos visto na vida.

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A saudação nos aproxima, nos aconchega, é sempre uma cortesia, um singelo ato de amor. Pessoas de bem com a vida são mais leves, mais suaves, mais humanas. Só me resta dizer, leitores: bom dia!

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