No ano em que celebramos o Bicentenário da Imigração Alemã no Rio Grande do Sul (e os 175 anos da mesma saga na Colônia Santa Cruz), é bom ler e saber que desde a chegada, os imigrantes, antepassados de grande parcela da população local e estadual, deixavam boas impressões por muitas qualidades que evidenciavam nas áreas que passavam a habitar e faziam progredir.
Ao ler o clássico gaúcho Os varões assinalados – O grande romance da Guerra dos Farrapos, de Tabajara Ruas, chamam atenção passagens sobre o que observavam membros dos grupos em choque no conflito, entre 1835 e 1845, ao chegarem a São Leopoldo, colonizada pelos alemães a partir de 1824. Diziam, por exemplo: “Como produziam, os alemães! Eram ferreiros, marceneiros, sapateiros, alfaiates, funileiros, magníficos seleiros – tão magníficos que já mudaram os hábitos de montar dos gaúchos com o serigote” (encilho, que recebeu esse nome porque os comerciantes alemães se referiam a ele dizendo: “sehr gut” – muito bom!).
A referência elogiosa prosseguia: “Eram ainda melhores agricultores. …Olhou ao redor e viu o cuidadoso cultivo, subindo e descendo morros, os caminhos para carroças, cruzando-se por toda parte e abertos penosamente, as casas cuidadas, rigorosamente asseadas. A vila também era assim. Casas pintadas, cortinas nas janelas, ruas limpas. Que grande diferença dos hábitos do resto do País!”.
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Apreciações semelhantes surgiam, também em livro, sobre a recém-iniciada colônia santa-cruzense nos idos de 1850, como fez o médico alemão Avé-Lallemant, patrono do colega Romar Beling na Academia de Letras local, e que a percorreu em 1858. Comentou “o prazer de passear pela Picada de Santa Cruz a cavalo” e perceber “as prósperas colônias”, enquanto na área ainda inicial do futuro núcleo urbano, com quadrado já demarcado para praça, via aspecto animado de colonos cavalgando com alforjes carregados de produtos, para venda, e também em compras.
Por falar em livros, é oportuno lembrar que a nossa Feira do Livro está começando na Praça da Catedral, onde por certo serão encontrados títulos sobre a temática (pessoalmente, disponibilizo no Espaço Dona Boleira a publicação Carl & Ciss – Crônicas da Colônia Alemã). Também vale muito reiterar o lançamento, dia 21 de abril, em Alto Linha Santa Cruz, área inicial da colonização na região, da obra Primeiro Cemitério Evangélico Comunitário de Santa Cruz do Sul – RS. Quem participou, ou viu pela Gazeta o capricho e o cuidado presentes no local, confirma plenamente a forma especial como os alemães tratam as propriedades.
A área de repouso eterno dos ancestrais recebeu ali um tratamento primoroso, que vem de anos e partiu de jovens, o que surpreende, pois normalmente os mais velhos se voltam a essa tarefa, fato que, por si só, merece elogio redobrado. Atuante grupo juvenil (com líderes como Cláudio Kistenmacher e Rogério Harz) já se dedica desde 1989 a esse louvável trabalho, que acaba de ser reconhecido agora também por essa publicação, coordenada pelos pastores Regene Lamb e Elio Scheffler, contando essa história e incluindo frases alemãs traduzidas nas lápides, tais como: “Onde o amor chora, a fé consola”.
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Ver pessoas mais novas assumindo a frente da preservação de nossas tradições e dos legados dos antepassados é extremamente gratificante, servindo de exemplo a exaltar neste ano de comemorações da imigração. Que possamos seguir nesta trilha, para continuar a merecer referências elogiosas como as aqui lembradas, que nos orgulham, mas que também nos desafiam.
Precisamos permanecer à sua altura.
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