A dois dias da posse como prefeito de Santa Cruz do Sul pela terceira vez, imagino que a adrenalina esteja em alta no convívio da família de Sérgio Moraes nesta virada de ano. Não por receio diante dos desafios que vêm à frente e, muito menos, por falta de habilidade e experiência para conduzir uma nova administração municipal.
Mas, com a bagagem e vivência política que acumulou ao longo de quatro décadas, sabe que pesa sobre ele a expectativa de majoritária parcela da população que quer ver atendidas demandas em áreas importantes onde se espera mais do poder público. Saúde, mobilidade urbana, infraestrutura e um olhar mais atencioso ao interior, por certo, estão entre os maiores desafios.
Fui editor e, depois, diretor de Redação da Gazeta do Sul ao longo dos oito anos de administração municipal do Sérgio. Nos primeiros anos de governo, tivemos embates frequentes. E na maioria das vezes, por questões que, para nós, da Redação do jornal, eram pouco relevantes, mas na visão do então prefeito assumiam uma dimensão que desconhecíamos.
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Lembro bem de um dos episódios. Recém havíamos chegado no Litoral para as férias de verão quando recebi uma chamada. Ah, importante dizer: meu celular era aquele cascudinho que se abria na palma da mão e que, pelo menos naquela área, não ligava e muito menos recebia chamada de alguém. Não por culpa do aparelho, mas porque o sinal de telefonia móvel no Litoral, naquela época, era sofrível.
Mas ele soou naquela manhã. Fui atender – imagine! – era o prefeito. Não sei como, mas ele conseguiu me contatar. “Estou ligando para dizer que o jornal errou. Está escrito aqui no Panorama que a Avenida Castelo Branco [que liga a Avenida Euclydes Kliemann à BR-471] está intransitável. Não é verdade! Eu passei por lá agora há pouco. E se eu passei, é porque ela não é intransitável. Tem defeitos na pista, sim, mas vamos consertar”.
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Não recordo o que falei. Devo ter dito que estava de férias, que vamos ter mais cuidado, ou algo parecido. Mas aquilo me marcou: o sentido (ou o peso) da palavra. Estávamos acostumados a dar voz aos reclames da população que julgava “intransitável” uma rua, uma estrada, uma rodovia em condições precárias de trafegabilidade. E a Castelo Branco estava muito esburacada e, mais que justo, foi logo recapeada por ordem do prefeito com uma camada de asfalto.
Cito esse episódio porque, como tantos outros, nos fez avaliar, evoluir, aperfeiçoar nosso trabalho sem abrir mão da essência do jornalismo: o compromisso com a verdade. Entendo a contrariedade do gestor público quando se sente cobrado. Mas a experiência, por certo, ensina que sugestões, reclamações, pedidos da comunidade não são necessariamente críticas, mas contribuições para uma ação mais eficiente da gestão pública.
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Hoje, aposentado, não terei mais esse contato frequente com o prefeito. Mas torço que, ao lado do seu vice Alex Knak e de sua equipe de trabalho, o Sérgio – maduro e experiente na vivência política e na gestão pública – deixe para trás qualquer caminho “intransitável” e pavimente um futuro seguro para Santa Cruz do Sul e sua gente.
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