No próximo dia 29 de novembro, ocorre a X Black Friday Brasil. A Black Friday Brasil já é considerada uma das mais importantes datas do varejo e que está crescendo de ano para ano. Nesta edição, a previsão é de movimentar R$ 3,15 bilhões no comércio eletrônico, da meia noite de quinta até a meia-noite da sexta-feira.
Diferente de outras datas, criadas para homenagear pessoas ou eventos especiais, como o Natal ou o Dia das Mães, mas que, com o tempo, agregaram motivos e interesses comerciais, a Black Friday nasceu única e exclusivamente para vender. Iniciada em 1961, na Filadélfia, nos Estados Unidos, a Black Friday é um dos maiores eventos de compras dos americanos. Acontece na sexta-feira posterior ao Dia de Ação de Graças – celebrado sempre na quarta quinta feira do mês de novembro – e dá início à temporada das compras natalinas, na maioria das lojas de varejo. Era um dia de muitas confusões, envolvendo pessoas exaltadas que disputavam aos empurrões e tapas, literalmente, artigos em promoção, num legítimo vale tudo. Além disso, ruas da cidade ficavam um caos por causa do grande número de pedestres e o intenso tráfego de carros, provocando enormes congestionamentos, o que gerava problemas de toda ordem; daí o nome de Black Friday, na avaliação da polícia.
Vendedores
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O ideal seria que quem quer vender na Black Friday já tivesse começado os preparativos em meados do mês de setembro, quando teria tempo para preparar toda a estratégia, envolvendo fornecedores, marketing e sua estrutura – atendimento, logística e plataforma de vendas online, além de ter coletado dados de possíveis consumidores. Mesmo assim, quem não se planejou pro-ativamente, ainda há tempo para se preparar e participar com mais segurança no grande dia das promoções, cuidando de alguns pontos como:
1) definir quais itens terão descontos;
2) pensar na estratégia de marketing para atrair os clientes, tanto para a loja física quanto para virtual;
3) aproveitar o dia da Black Friday para fidelizar clientes, procurando conhecer o comportamento do consumidor, que, nesse dia, pode variar bastante; muitos se deixam levar pelo impulso;
4) reforçar a segurança: tanto nas lojas físicas, com maior movimento de pessoas, quanto das virtuais, em que a quantidade de visitas e pedidos aumenta muito, gerando um volume maior de transações;
5) lembrar-se de fazer a gestão de estoque, à vista da proximidade do Natal.
Junto com a cada vez maior empolgação e crescente adesão de lojistas à Black Friday, algumas empresas cometem gafes, que podem comprometer sua imagem e reputação. A principal delas é ficar de fora do evento, perdendo a oportunidade de atrair novos clientes e fidelizar consumidores antigos. Rodrigo Ricco, CEO da Octadesk, lista mais algumas gafes ou até crimes: prometer o que não pode cumprir; maquiar preços, com falsas promoções; ficar sem produto; oferecer descontos e ficar no prejuízo; negligenciar a experiência do consumidor; descuidar do atendimento ao cliente; não pensar no depois. Como diz um lojista, hoje o espaço para malandragens é cada vez menor porque as redes sociais facilitam a troca de informações entre usuários; eventual falcatrua é rapidamente replicada entre pessoas próximas e grupos, detonando com lojas, às vezes até sem motivo legal, que dirá quando existem indícios ou até provas de ações para enganar o cliente. Mas, mesmo com essa possibilidade, na Black Friday do ano passado, o site Reclame Aqui registrou 230 reclamações por hora, denunciando principalmente propaganda enganosa e maquiagem de preços.
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Compradores
Já para o consumidor, existem muitas recomendações e dicas para se dar bem na Black Friday. A primeira e principal, diante de tantas oportunidades, é estar atento para não comprometer suas finanças. Se não tiver uma reserva, pelo menos fazer um diagnóstico de sua situação financeira para, então, responder essas perguntas básicas: quanto posso gastar? Preciso comprar isto? Qual o valor do produto fora da Black Friday, quer dizer, o desconto vale mesmo a pena?
Com dito anteriormente, até a edição do ano passado, ainda ocorreram muitas reclamações, especialmente relacionadas a propaganda enganosa e maquiagem de preços; mas, não só: consumidores tiveram problemas para finalizar a compra e constataram divergências de valores. Assim, de modo geral, o consumidor deve 1) não confiar em que tudo que é anunciado – comparar o valor real dos produtos com o valor da promoção; o ideal seria que o consumidor estivesse acompanhando, há algum tempo, a variação do preço do item desejado; como isso raramente é observado, vários sites oferecem esse monitoramento (Reduza, Blackfriday.com.br, Buscapé, Google shopping, Black Friday de verdade, Mais barato, Já cotei, Bondfaro, Mais barato, = Proteste); 2) ter paciência para evitar comprar rapidamente; 3) pesquisar.
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Dos cuidados que o cidadão deve ter, relacionados por diversas entidades e especialistas, muitos se repetem, sendo básicos os seguintes:
1º) lojas falsas: criadas por criminosos apenas para aplicar golpes, costumam aparecer durante as Black Fridays; geralmente oferecem produtos muito procurados por preços muito vantajosos, mediante pagamento no boleto ou transferência bancária;
2º) reputação da loja: consultar em sites de referência, como o Reclame Aqui, se a loja consta no cadastro e qual o tipo de reclamação; o Procon-SP divulgou “lista suja” atual com 419 lojas virtuais que os consumidores devem evitar na próxima Black Friday porque receberam reclamações de clientes, foram notificadas, não responderam ou não foram encontradas;
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3º) informações básicas: verificar a Razão Social, CNPJ e endereço para saber se a loja é confiável ou não; lojas seguras tem o cadeado no browser e aplicação do selo de segurança; além disso, a letra S no HTTP é sinal de ambiente seguro; erros de português e linguagem inconsistente podem alertar tratar-se de loja falsa;
4º) descontos falsos: o ideal seria que o consumidor já estivesse monitorando os preços dos produtos que pretende comprar na Black Friday, com o que teria certeza de pagar mais barato mesmo; tem lojas que, semanas antes, aumentam o preço dos produtos para baixá-los no dia da Black Friday, configurando uma falsa promoção; algumas plataformas reúnem ofertas confiáveis, comparativos e gráficos de evolução de preços de diversas lojas, o que pode servir, também, para alertar que um mesmo produto com desconto numa loja custa mais que o preço normal de outra;
5º) uso das redes sociais: os comentários nas redes sociais podem ser fonte de informação e termômetro da confiabilidade de uma loja;
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6º) forma de pagamento: se existe a opção de cartão de crédito já é bom sinal porque este tipo de pagamento exige uma extensa documentação, o que é uma barreira para o fraudador; cuidado, portanto, com sites que só aceitam boleto ou transferência bancária;
7º) frete e data de entrega: observar se tem despesa com frete o que pode tornar o produto mais caro; atenção especial ao prazo de entrega, principalmente se tratar-se de item para presente, porque nesses eventos, por conta da alta demanda, os prazos são mais longos, o que pode fazer com que o produto chegue atrasado, gerando algum constrangimento;
8º) ficar atento às propagandas: exigir seus direitos caso o preço cobrado seja maior que o anunciado;
9º) buscar descontos, tanto nas lojas físicas quanto nas online: nas lojas físicas, existe a possibilidade da negociação de um desconto maior ou condição melhor, ainda mais se tiver em mãos proposta de outra loja;
10º) tirar um “print” de todas as telas das etapas de compra: os prints dos e-mails de confirmação de compra e de prazo de entrega que os sites costumam enviar valem como prova, caso haja algum problema com a compra, seja de valor ou de não recebimento ou recebimento do produto após a data estabelecida.
Mesmo com todos os cuidados, o consumidor pode constatar, frustrado, que fez uma compra errada. Nas compras por online, catálogo ou telefone, o Código de Defesa do Consumidor garante que o comprador pode pedir o cancelamento, sem qualquer justificativa, até sete dias depois de finalizado o pedido. Nas compras em loja física, a loja não é obrigada a cancelar o pedido, a menos que não tenha aplicado o desconto prometido. Outros casos, como a falta do produto, produto com defeito, prazo de entrega não cumprido, produto não se parece com o oferecido ou está errado, etc, o consumidor deve procurar a loja e, caso não consiga resolver a pendência, encaminhar o assunto a órgãos de defesa do consumidor.
Cuidado com as compras por impulso
Ao comprar, vale aquela máxima das bebidas alcoólicas: aproveite com moderação. Muitas vezes, as promoções fazem o consumidor extrapolar nos gastos, já que, em sua mente, está fazendo um bom negócio, pois está pagando menos por algum produto e, portanto, economizando. Mas, o que leva as pessoas a comprarem tanto em um único dia, como se não houvesse amanhã? Para Flora Victoria, mestre em Psicologia Positiva Aplicada pela Universidade da Pensilvânia e presidente da SBCoaching, o “ato de comprar proporciona uma breve sensação de felicidade e bem-estar. O problema é que, uma vez satisfeito, o desejo de consumo é rapidamente substituído por outro, fazendo com que a busca pelo prazer no consumo represente uma satisfação substitutiva”. O varejo sabe explorar os impulsos dos consumidores ligados à necessidade de gratificação instantânea. Por isso, a psicóloga sugere algumas reflexões para o consumidor evitar a compra por impulso: 1ª) eu realmente preciso disso? 2ª) qual o meu estado emocional: as emoções impulsionam o consumismo e, neste caso, existem dois tipos de compra por impulso – aquela em que a pessoa compra algo que queria, mas que talvez esse não seria o melhor momento; e aquela em que acaba levando algo que não queria e não precisava ; 3ª) possibilidade de perder a oferta do ano: promoções com grandes margens de desconto são altamente sedutoras; 4ª) companhia de pessoas que adoram comprar: evitar, principalmente as consumistas, que certamente vão tornar fácil o processo de convencimento de que você deve comprar tal produto a todo custo; 5ª) cabe no meu orçamento? A falta de equilíbrio financeiro, associada a impulsividade consumista, geralmente leva ao gasto por impulso, agravando o endividamento pessoal ou familiar.
Realização de sonhos – Qualquer promoção, especialmente a Black Friday, é uma oportunidades para adquirir algum bem que se estava “namorando” já há algum tempo, mas que o preço muito alto ou além das possibilidades não permitia adquirir. É, também, uma ótima oportunidade para antecipar a compra dos presentes de Natal. Mesmo assim, deve ser antecedido por um planejamento. Mais importante do que fazer uma compra com um desconto significativo, às vezes no “ôba-ôba”, influenciado pela propaganda e levado pelo impulso consumista, é fazer compras de forma racional. A Educação Financeira pode ajudar. Muito mais do que só cuidar de algumas questões técnicas, usualmente trabalhadas e divulgadas, como a necessidade de elaborar e cumprir um orçamento, saber fazer alguns cálculos, pesquisar preços, aproveitar promoções, etc. que são cuidados importantes, sem dúvida, mas que precisam ser acompanhados pela mudança de comportamento. O princípio fundamental é o consumo consciente, independente de eventuais promoções, evitando, principalmente, as compras por impulso e possível endividamento.
Gratidão – Por fim, lembrar-se de agradecer. No Brasil, a Black Friday está sendo aceita cada vez mais, mas o mesmo ainda não acontece com o Dia de Ação de Graças, celebrado na véspera, que passa batido por aqui.