Após a Rússia proibir a importação de tabaco brasileiro e de outros quatro países, produtores e empresas ligadas à agricultura tentam compreender quais os riscos que o inseto apontado pelo Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia oferece ao cultivo de tabaco. O departamento identificou, no ano passado, 33 casos da mosca Megaselia scalaris.
Em entrevista concedida à Rádio Gazeta FM 107,9 nessa terça-feira, 20, o biólogo Andreas Koehler, professor do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), explicou que o inseto não representa uma ameaça ao setor tabagista. “Essa espécie é parecida com moscas que saem de frutas, é relativamente pequena. No Brasil e na região dos Vales, é naturalmente encontrada em vários locais.” Além disso, o especialista observou que ela é generalista, o que significa que tem várias formas de se alimentar. “Consegue se alimentar de material vegetal em decomposição, e ela parasita outros insetos, como abelhas e formigas.”
Koehler enfatizou que o inseto não pode ser considerado uma praga, pois tem inimigos naturais que realizam seu controle. Ainda conforme o biólogo, a mosca pode ser encontrada perto do tabaco, em algum material em decomposição. “Porém, ela normalmente ocorre muito mais na parte do plantio do tabaco, e não no processamento e na exportação. O que ocorre é que em alguns países onde não é tão comum, quando ela é introduzida como espécie, pode sim se espalhar e virar uma praga relativamente potente”, salientou. “Esse inseto é de regiões quentes, ou seja, quando se introduz em um país como a Rússia, que é frio, pode causar uma mudança maior dentro do ecossistema onde essas espécies se proliferam.”
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Contudo, o professor ressaltou que, além de a espécie ter um ciclo curto de vida, não sobreviveria a todo o processo produtivo. “Temos um rígido controle de qualidade, ou seja, não existe a possibilidade de ser levado dentro da caixa para exportação.”
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SindiTabaco confia que situação será revertida
De acordo com a assessoria de imprensa do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), o assunto está sendo conduzido pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em Brasília, o qual já contatou autoridades russas do mesmo escalão hierárquico. Além disso, até sexta-feira, uma reunião entre as partes deverá ocorrer.
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Em nota emitida à imprensa, Iro Schünke, presidente do SindiTabaco, diz que a Rússia é um importante comprador do tabaco brasileiro, destacando-se entre os dez maiores clientes do produto nos últimos anos. “Em 2020, a Rússia importou cerca de 22 mil toneladas, gerando divisas de US$ 54 milhões. Até junho de 2021, o país russo embarcou US$ 22 milhões e 12 mil toneladas.” Schünke complementa que o Brasil se destaca no cenário mundial pela qualidade e integridade do seu produto e é o maior exportador mundial de tabaco há quase 30 anos. “Estamos confiantes de que se trata de um caso isolado e que, em breve, teremos uma resolução para a questão”, finaliza.
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Ministério não teve comunicação oficial
Nessa quarta, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informou que ainda não havia sido comunicado oficialmente sobre o fechamento do mercado russo para tabaco do Brasil. “A pasta teve conhecimento por meio da comunicação do nosso adido agrícola na Rússia, que encaminhou a publicação das autoridades russas em seu site”, disse o Ministério, em nota. Ainda de acordo com o Mapa, foram solicitados esclarecimentos sobre as interceptações publicadas no site das autoridades russas, que teriam sido o motivo da suspensão das exportações, além de informações técnicas sobre o inseto interceptado e da falta de evidências científicas de que ele seja uma praga relacionada a tabaco. “Uma reunião bilateral foi solicitada para tratar diretamente do tema. A pasta aguarda resposta do lado russo a essa demanda.”
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