No ano dedicado ao bicentenário da imigração alemã no Rio Grande do Sul, cabe uma pequena reflexão sobre alguns romances com personagens vinculadas a esses descendentes. Atenho-me a autores gaúchos, embora haja outros pelo Brasil que enfocam esse tema, como, por exemplo, Graça Aranha, um maranhense, autor de Canaã (1902), tendo como cenário o interior do Espírito Santo, que também conta com expressiva população imigrada da Alemanha. Escolho três obras emblemáticas que focam o tema da inserção de algumas personagens no solo e na sociedade rio-grandenses.
Começo com Erico Verissimo e seu extraordinário O tempo e o vento. Na primeira parte – O Continente –, desponta uma personagem inesquecível, dr. Carl Winter, médico formado em Heidelberg, emigrado para o Brasil, passando pelo Rio de Janeiro, Rio Grande, Porto Alegre, São Leopoldo, fixando-se definitivamente na fictícia Santa Fé, cenário maior da fascinante obra de Erico. Ali, o dr. Winter, homem culto, se depara com pessoas toscas, homens viris, mulheres reprimidas, num choque aparentemente insolúvel.
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Mas, o médico ali ficou e aos poucos foi absorvendo os costumes e o modo de vida daquelas pessoas que antes julgava insuportáveis. E chegavam mais alemães, inicialmente vistos como “bichos esquisitos”, no entanto, mesclando-se aos naturais, aos poucos formaram uma nova sociedade, enriquecendo-se mutuamente com as duas culturas. Sobre os alemães, Erico escreve: “Parece que a terra ia se entranhando não só na pele como também na alma deles”.
Outro autor que aborda o tema é Josué Guimarães, na obra A ferro e fogo (I e II). Aqui, o enfoque é o mesmo recorrente nas narrativas que contam a história de luta dos imigrantes, as dificuldades que enfrentaram no encontro com a nova terra. Atraídos por propostas tentadoras, chegando se deram conta de quão distante a realidade estava dos seus sonhos.
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Um romance mais crítico foi escrito por Clodomir Vianna Moog. Trata-se de Um rio imita o Reno (1938), situado numa fictícia cidade – Blumenthal –, mas que certamente se refere a São Leopoldo. Ali, duas culturas se cruzam, ou se chocam. De um lado, Lore Wolff, filha loira de imigrantes alemães; de outro, Geraldo Torres, moreno, amazonense, engenheiro que viera para construir uma hidráulica. Os dois se apaixonam, porém esse seria um amor impossível, indesejado e contrariado pela família da moça.
No fundo desse romance, pairam outras questões, mais contundentes. O Brasil vivia forte cenário de nacionalização, com intensa repressão aos valores estrangeiros cultivados e mantidos pelos imigrantes, de modo especial alemães e italianos, muitos deles fortemente atrelados ao Nazismo e ao Fascismo. Surge a proibição do uso das línguas alemã e italiana, escolas foram nacionalizadas, clubes e jornais foram fechados, entre outras ações mais. O romance mostra, por exemplo, a grande admiração que Karl Wolff, irmão de Lore, e a mãe Marta têm por Hitler, fato atenuado ao final quando esta descobre que há sangue judeu em sua própria família.
Uma excelente homenagem aos imigrantes é conhecer sua história. Para tanto, a literatura traz grande contribuição.
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