O jornalista Benno Bernardo Kist é conhecido de longa data na região, seja como liderança pública (foi vereador em quatro legislaturas em Santa Cruz do Sul e atuou como secretário municipal), seja como profissional das comunicações, há cinco décadas na equipe da Gazeta. Nesta quarta-feira, 17, agrega mais um título a sua carreira paralela de escritor, o sexto de sua autoria: Peter & Lis: quando era proibido falar a própria língua, sob o selo da Editora Gazeta, junto à qual atua. Haverá sessão de autógrafos a partir das 17 horas na Casa de Clientes Gazeta, na esquina da Ramiro Barcelos com Tenente Coronel Brito.
O projeto dessa nova obra foi uma forma encontrada por Benno de marcar a passagem dos 200 anos de imigração alemã no Brasil, data que transcorre no dia 25 de julho. Ao mesmo tempo, remete aos 175 anos da colonização germânica em Santa Cruz, a serem completados em dezembro.
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E ele o faz com o resgate da história de vida de seus avós paternos, Peter e Lis, que estiveram entre os pioneiros a se fixar na região Norte da Colônia de Santa Cruz, na segunda metade do século 19. Em título anterior, lançado em 2019, Benno já homenageara seus pais, Carl e Cis, e com essa memória familiar recupera passagens marcantes da colonização em toda a região.
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Como foi o processo de pesquisa para revisitar o período de seus avós paternos, e da fixação de sua família na Colônia de Santa Cruz, no século 19?
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Foi um processo bem exigente, diante da falta de documentação em uma fase importante da imigração, antes de 1890, e mesmo ainda depois. Foram feitos sucessivos contatos em cartórios, em nível local e do antigo município-mãe, Rio Pardo, assim como busca de documentos cartoriais antigos guardados no Arquivo Público em Porto Alegre, que auxiliaram, mas nem tanto.
Revelou-se muito importante um material a que já tinha acesso, do escritor e padre jesuíta Arthur Rabuske, meu patrono na Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, que resgatou a história da sua ordem religiosa por quase 100 anos em Santa Cruz. Em seus diários e relatórios, sempre apontava fatos proeminentes e gerais também da história da comunidade. Ele ainda repercutiu as fases difíceis das guerras mundiais e respectivas proibições de uso da língua alemã com seus efeitos sobre a população que, em boa parte, dependia dela para sua comunicação e entendimento.
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Livros-tombo da Paróquia de Venâncio Aires também auxiliaram nesse sentido. Assim como a recuperação de amplo material de antigo professor particular no interior (o “Alte Schulerer Wagner”, como era chamado, que lecionou por 47 anos na Linha Araçá, na região da minha terra natal), bem como o acesso a belo material em alemão recuperado e traduzido pela amiga professora e acadêmica Lissi Bender, sobre a Colônia de Monte Alverne, originada de outro professor (Frederico Kops), além de valiosos depoimentos colhidos de familiares e outros.
O senhor chegou a ter contato pessoal com seus avós?
Infelizmente, não foi mais possível ter contato com o avô, que faleceu mais cedo, apenas de forma parcial com a vó, imigrante alemã, que morreu quando eu tinha apenas 3 anos, em 1958. Mas, como residiram sempre na casa em que eu nasci e convivi com os familiares, na Linha Eugênia, Cerro do Baú, distrito de Monte Alverne, foi possível obter deles muitas informações, e inclusive alguns documentos guardados que ajudaram a elucidar mais de sua história e de seu tempo, para compor a narrativa feita, e imaginar outras situações sobre a fase sem muita documentação.
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Em relação a valores que eles sempre seguiram, vejo que identificam muito do modo de ser da maioria dos imigrantes alemães vindos à região, foram espelhados pelos pais e pessoalmente procuro manter na medida do possível. Entre eles, salientam-se: a profunda religiosidade, o uso criterioso do dinheiro e dos bens adquiridos, evitando desperdícios e sempre buscando fazer uma poupança (guardada de preferência na já centenária instituição financeira com modelo alemão implantada na região, a antiga Caixa Rural e atual Sicredi), atenção à família, à vida associativa nos mais diversos aspectos e à educação, cultura e leitura como bases importantes na vida, além do compromisso com o trabalho e com deveres assumidos. São marcas que ficam não só no imaginário, mas que se buscam traduzir em realidade na vida e divulgar, para servirem de exemplo, pois se mostraram valiosos e exitosos em suas vidas.
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A questão da proibição da língua alemã foi um dos momentos mais traumáticos na área colonial, não é mesmo? Isso era comentado em família?
Sem dúvida, essa questão foi traumática para muitos dos imigrantes e descendentes alemães e ganha um foco especial no livro. Aconteceu não só na Segunda Guerra Mundial (1935-1945), quando coincidiu ainda com uma específica Campanha de Nacionalização conduzida no País e em que se cometeram muitos exageros, como também na Primeira Grande Guerra (1914-1918), onde esses fatos não são tão conhecidos. O que aconteceu na virada das décadas de 1930 e 40 era alvo de comentários esparsos no meio familiar e foi possível ampliar com mais fontes. Evidenciou-se que isso contribuiu para uma retração maior dos descendentes de alemães, que tentaram evitar exposições e complicações, e, por certo, também em posterior uso menor do idioma materno, com o qual se sentiam mais à vontade, pois, dependendo do ambiente, isso ainda lhes causava constrangimentos. Se tivesse havido maior consideração, deveria ser motivo de louvor o fato de conhecer mais uma língua além da nacional, a qual nunca se negaram a aprender num processo que fosse natural e não forçado.
A partir de sua família, o senhor amplia o olhar para a colonização como um todo no Sul do Brasil. É um tema sobre o qual lê e pesquisa há muito tempo?
Sim, a história familiar serve de pano de fundo para a história vivida de forma geral pelas famílias alemãs imigrantes e suas comunidades, como a de Santa Cruz e região, às quais se faz também referências constantes na obra, assim como a saga da colonização alemã como um todo no Estado, que se destacou nesse processo migratório. Sempre que possível, leio publicações a respeito e faço pesquisas, pois sempre há muito ainda a saber, o que considero fundamental, pois quem não valoriza suas origens perde muito da sua identidade.
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