No ano de 1972, dez agricultores brasileiros foram até Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, para receber o benefício previdenciário, um marco nos direitos dos trabalhadores rurais. Entre eles estava Olivo Furlan, residente em Sobradinho, que representou o Rio Grande do Sul, tornando-se o primeiro homem do campo gaúcho a receber a aposentadoria e um dos primeiros do País. Furlan, natural da localidade de Cortado, antigo território de Cachoeira do Sul, tinha 75 anos de idade quando ocorreu o ato. Ele recebeu do ministro do Trabalho, Júlio Barata, um certificado de aposentadoria, cujo benefício lhe renderia o equivalente a meio salário mínimo.
Na ocasião, segundo o então assessor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Sobradinho e ex-prefeito, Lademiro Dors, o agricultor viajou acompanhado do representante da entidade, Daniel Bavaresco. Dors conta que o convite veio de Osni Osvaldo Lindemaier, superintendente do Funrural no Rio Grande do Sul, que mantinha contato com o município. Ainda conforme o ex-assessor, Olivo Furlan foi escolhido por ser um dos primeiros trabalhadores rurais associados ao sindicato e também por residir próximo à cidade, facilitando o deslocamento e organização para a viagem.
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Em reportagem publicada no jornal O Globo em 1º de maio de 1972, o ministro afirmava que a aposentadoria rural iria modificar a infraestrutura social do País. Juntos, os dez primeiros aposentados rurais somavam 799 anos. O de mais idade, Antônio Joaquim da Cunha, de Mandaguari, no Paraná, conforme o registro do periódico, tinha 118 anos. Os estados representados foram, além do Rio Grande do Sul e Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Amazonas, Pernambuco, Sergipe, Pará e Piauí.
De acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), em 1971 foi aprovada a lei complementar nº 11, que instituía o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e criava a aposentadoria por idade ao trabalhador rural aos 65 anos. Esta era direcionada apenas aos homens e tinha o valor de meio salário mínimo. Da mesma forma, foram criados o auxílio-doença e do acidente de trabalho, assim como a pensão por morte deixada para as mulheres, com o mesmo valor.
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Por ocasião do ato em Belo Horizonte, Olivo Furlan aguardava a chegada do ministro do Trabalho, naquele 1º de maio de 1972, junto aos demais agricultores. Segundo consta no O Globo, Júlio Barata, ao vê-lo com trajes típicos, disse: “Você é gaúcho”. Para um dos netos de Olivo, o advogado previdenciário Alencar Furlan, a participação do avô representa um marco também para a família. “Ele trabalhou sempre na lavoura. Morava em Linha Tupi, na terra onde atualmente fica minha residência, hoje denominada Bairro Pinhal”, conta.
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Olivo tinha ainda terras em Linha Apolinário, de onde foram retiradas pedras para pavimentação da cidade. “Para mim, que trabalho nesta área previdenciária, isso foi realmente onde tudo começou, onde teve início a proteção dos trabalhadores rurais, pois não existia nada até então”, observa o advogado. Para ele, hoje o agricultor está protegido em todos os sentidos, não apenas na aposentadoria, mas com todos os benefícios que o trabalhador urbano possui.
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Segundo Alencar, o avô era um homem trabalhador e de grande religiosidade. Dedicado à comunidade, Olivo contribuiu com a doação de pedras e areia para a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes. Nascido em 10 de abril de 1897, foi casado com Maria Farinon Furlan, com quem teve seis filhos: Olinda, João Luiz, Alcides, Alfonso (pai de Alencar), Luiz e Luiza. Associou-se ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sobradinho em 19 de setembro de 1967, cinco anos após a fundação da entidade. Olivo faleceu em 17 de julho de 1982, aos 85 anos de idade.
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