Andando por esta bela cidade, de ruas tão largas e bonitas, casas tão interessantes e jardins tão bem cuidados, mais um aspecto tem me chamado a atenção nos últimos tempos. Os muros construídos em residências e outros prédios, de que não se consegue mais prescindir diante da realidade da insegurança, estão acrescentando uma estrutura que incomoda o olhar e a percepção sensitiva: a colocação de cercas enroladas que parecem reproduzir barreiras de guerra e campos de concentração, expondo uma separação agressiva e jocosa de ambientes que se afasta demais do que se pode entender de civilização.
São compreensíveis as atitudes de defesa que tais iniciativas representam, na mesma linha da insegurança reforçada por constantes ataques dos “visitantes” indesejados, que acabam por ensejar atitudes impulsivas de resposta imediata e impensada. Inclusive, já vivi experiência própria, em que pessoas do grupo familiar tentaram partir para essa mesma reação intempestiva após a ocorrência de mais um roubo, mas acabou prevalecendo a argumentação mais equilibrada, com uma solução menos traumática, viabilizada por meio da colocação de cerca elétrica, que pelo menos gera um efeito estético não tão hostil.
O ideal seria que não precisássemos utilizar de tais recursos, porém a desigualdade que ainda vivenciamos em nossa sociedade, os problemas das drogas que se acentuam e redundam no recrudescimento dos crimes, em especial da subtração de objetos alheios para assegurar o vício, entre outras situações que envolvem a segurança pública, todas ensejam soluções cada vez mais caras e ostensivas. Mas não me parece que se necessite partir para a reação da mesma forma agressiva e excessiva, como denota a solução extrema que ora se vê crescer
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É difícil argumentar diante de sucessivos problemas que enfrenta aquele que tem bens a proteger, mesmo que estes não sejam tantos; porém, não custa refletir um pouco mais sobre a forma de reagir a tais situações. Sempre defendi que reações de maior sensatez e equilíbrio são melhores do que as que manifestam teor semelhante ao da ação negativa praticada, pois quanto mais se tomar atitudes de conotação bélica, mais belicismo e agressividade serão alimentados e o ambiente como um todo se torna mais corroído de exclusão, confronto e difícil convivência.
Residindo numa cidade tão bela, com tantos recursos naturais valorizados e tantos esforços de embelezamento expostos em vias e edificações diferenciadas, que trazem consigo uma tradição cultural histórica, seria oportuno pensar em estancar esta onda de defesa já irracional das nossas divisas. Uma bela cidade não poderia entrar na onda da belicidade que se estabelece cada vez mais nas relações pessoais na sociedade em geral, que, ao invés de evoluir em humanidade, em muitos aspectos involui para as priscas e primitivas eras, das quais já nos deveríamos ter distanciado há muito tempo.
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