Há anos as mulheres e homens têm buscado um padrão de beleza que, muitas vezes, é inalcançável. Muitos fazem dietas absurdas, por vezes encontradas na internet, sempre em busca do ideal da magreza, do corpo sarado e “trincado”. Mas no município de Sobradinho um grupo decidiu que quebraria regras, que enfrentaria o preconceito e mostraria que ser gordo ou gorda não é sinônimo de descuido ou doença.
A esteticista Danusa Rech, que sempre trabalhou com a área da beleza e é gordinha, afirma que sempre sofreu preconceito por estar acima de um suposto peso ideal. “Eu já fiz trabalhos na linha plus size e acredito que tenha inspirado outras a se unirem para cobrar respeito”, comenta. E foi justamente por ouvir de suas clientes outras histórias de preconceito que no último domingo, 8, um grupo de mulheres se reuniu para fazer fotos e mostrar que, sim, todos têm direito à beleza, à valorização, ao amor e a dignidade. “Nunca vi tanta gente comentando na minha postagem, apoiando a nossa iniciativa. Todos me diziam para que eu militasse nas causas pertinentes às mulheres e ao respeito”, afirma Danusa.
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O grupo criado — denominado “GGs” —, destaca ela, não será somente para debater sobre a gordofobia, mas para discutir a respeito do protagonismo feminino, empoderamento das mulheres, saúde e outros temas que envolvem o preconceito. “Não estamos fazendo apologia à gordura. A gente sabe das nossas condições de saúde hoje, e estamos sempre acompanhando isso, pois nossa luta não é para criticar quem busca o padrão, é somente pedir respeito a todos”, explica.
A iniciativa prevê rodas de conversa a respeito de temas de interesse das participantes. “Temos de discutir, pensar em estratégias para que nós, mulheres, sejamos melhor reconhecidas em nossas particularidades. Quem disse que ser gorda é feio? Quem falou que gordo é doente?”, questiona Danusa.
Inicialmente, o Grupo GGs é formado somente para mulheres gordinhas que querem respeito, inclusive do comércio. “Isso também é uma cutucada nas lojas, pois são raras as empresas que oferecem roupas de tamanho grande que estejam na moda. Queremos peças bonitas e joviais, pois merecemos uma melhor atenção”, afirma.
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Avalanche de apoio
Tão logo as fotos do grupo foram publicadas no Facebook, as pessoas começaram a manifestar apoio, curtir e compartilhar a publicação de Danusa Rech. “Eu fiquei de certa forma surpresa com tamanho apoio à nossa ideia. Isso me dá muita força para continuar e mostrar que todos têm direito e espaço”, comenta. Trabalhar com a saúde mental de quem sofreu preconceito, seja da forma que for, é uma prioridade do Grupo GGs.
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Gordofobia?
A gordofobia é um neologismo criado para indicar o preconceito de pessoas que julgam o excesso de peso e a obesidade como um fator que justifique desprezo. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) defende que o estigma contra essa população deve ser combatido com informação.
“Evidências científicas mostram que o aumento de peso não ocorre apenas por falta de disciplina ou de responsabilidade pessoal mas sim por efeitos biológicos, metabólicos e genéticos”, explica o vice-presidente da SBCBM, Dr. Fábio Viegas. “A obesidade é uma doença crônica e incurável e essa população merece respeito e acolhimento. O estigma e a discriminação pelo peso não podem ser tolerados em sociedades modernas”, afirma o especialista.
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No Brasil, uma em cada cinco pessoas está com sobrepeso ou obesidade, segundo dados do Ministério da Saúde. A projeção da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que cerca de 2,3 bilhões de pessoas estejam acima do peso, sendo 700 milhões obesas, até 2025.
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Estigma social
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Além das doenças associadas à obesidade, como o diabetes e a hipertensão, essas pessoas enfrentam grave estigma social. Um periódico científico publicado neste ano pela Nature Medicine, assinado por mais de 100 instituições de todo o mundo, incluindo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, constatou que o preconceito contra a obesidade compromete a saúde, dificulta o acesso de pessoas acima do peso ao mercado de trabalho e a tratamentos adequados, afeta suas relações sociais e a saúde mental.
Dados desta revisão apontam que, entre os adultos obesos, de 19% a 42% sofrem com a discriminação. A taxa é maior principalmente entre as mulheres e naqueles em que o Índice de Massa Corporal (IMC) é maior.
Um estudo canadense utilizou acelerômetros para medir a atividade física de crianças e adolescentes de 6 a 19 anos entre 2007 a 2009. A pesquisa concluiu que as meninas com obesidade deram mais passos diários do que as que estão na faixa de peso considerada ideal. Achados semelhantes também já foram observados em adultos.
As evidências científicas também indicam outras causas para a obesidade, incluindo a genética, fatores epigenéticos, fatores de origem alimentar, privação de sono, disritmia circadiana, estresse psicológico, desreguladores endócrinos, medicamentos e efeitos.
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Entre as crianças, os efeitos do estigma social também são preocupantes. Estudos apontam que crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade vítimas de bullying são significativamente mais propensos a sofrer com ansiedade, baixa autoestima, estresse, isolamento, compulsão alimentar e depressão, se comparados a adolescentes magros.
Segundo a psicóloga, Michele Pereira, coordenadora do Núcleo de Saúde Mental da SBCBM, a gordofobia reforça preconceitos e sofrimento daqueles que não atendem ao padrão estético. “O aspecto físico não interfere nas outras capacidades. Não há conexão direta sobre a doença obesidade e as capacidades cognitivas. Já o sofrimento emocional e a marginalização por conta da obesidade, sim, podem levar a prejuízo em outras áreas da vida. Precisamos encontrar meios de combater todas as formas de discriminação”, explica a especialista.
“Grande parte das pessoas que atendo dizem que na infância, ou até na fase adulta, sofreram algum tipo de restrição social por conta da gordofobia e isso traz efeitos sobre comportamentos e até na saúde mental. Existem evidências que o preconceito e o estigma que o obeso sofre no dia a dia acabam ocasionando problemas emocionais que estimulam comportamentos alimentares disfuncionais como o comer emocional e a adição à comida, o que perpetua o ciclo da obesidade”, reforça Tonelli.
Fonte: https://www.sbcbm.org.br/gordofobia-e-estigma-da-obesidade-precisam-ser-combatidos-com-informacao/
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