A necessidade de trabalhar fez do jovem Olívio Soares, rio-pardense de natureza, criar em Pantano Grande uma referência em barbearia na região. O estabelecimento que funciona há 54 anos é o ponto de encontro da beleza masculina, que volta a estar em alta, com a moda das barbearias. Seu Olívio inspira pela retidão, postura e exemplo de pai, sogro e avô, pelo cidadão que é, e por ter sido empreendedor.
Ao todo são sete barbeiros, cinco em Pantano: seu Olívio, com 77 anos, o filho Clai Soares, a nora Patrícia Soares, os netos Victor Clay e Ttamires Wictória Prade Soares. Em Venâncio Aires, o outro filho, Cassius, e o neto Cassius Soares Júnior. “O Cassius começou primeiro. Quando eu troquei a cadeira da barbearia, deixei a velha em casa. Ele levava os guris do colégio para cortar cabelo. Depois, eu tinha que arrumar tudo”, revela, em meio ao riso.
Remanescente de uma época em que a barbearia era um dos pontos mais importantes em uma cidade, seu Olívio sobreviveu ao tempo. Passou por cima da “moda” dos cabeleireiros e na onda vintage das barbearias, iniciada nesta década, a tesoura dourada dele segue firme na missão de deixar homens com barba e cabelos alinhados. “Eu criei minha família toda. Fácil nunca foi, mas também não foi tão difícil. Sempre tivemos muitos clientes e amigos para manter o nosso padrão.”
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Conhecedor do serviço, seu Olívio entrega os homens contemporâneos: eles estão mais vaidosos e cuidadosos do que no início da sua carreira, nos anos de 1950. “Hoje eles pedem para fazer sobrancelhas, solicitam a retirada de pelos. O capricho precisa vir em primeiro lugar, para que o cliente sempre volte”, ensina o barbeiro.
A localização estratégica de Pantano Grande favorece a fama de seu Olívio. Caminho de quem vai a Porto Alegre e ao Litoral Norte, rota até mesmo dos argentinos que buscam as praias gaúchas, o município é uma vitrine de clientes. Faz o homem de pouco mais de 1,60 metro ficar gigante sobre a centenária cadeira de barbeiro. “Nós temos clientes de Santa Catarina e de todas as partes do Rio Grande do Sul. Graças a Deus somos muito conhecidos.”
O gentil barbeiro, fiel conselheiro
Seu Olívio atende a todos como se fossem filhos, netos ou parentes próximos. Quem senta em uma das cadeiras da barbearia é sempre bem tratado. “O freguês senta na cadeira e tudo que tem, do pescoço para cima, é nossa responsabilidade”, ensina.
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Ele e sua equipe recebem clientes exigentes, menos criteriosos, cabeludos e quase carecas. Como dizer para um homem com pouco cabelo que o corte, em degradê, um dos mais modernos, não é possível de ser feito? “A gente precisa caprichar o máximo, fazer tudo que dá e dizer, mesmo quando não dá para fazer igual ao pedido, que vamos tentar”, ensina.
O barbeiro de Pantano conta hoje com modernos produtos para cabeludos e para aqueles que poucos fios têm. Existem máscaras de queratina que ajudam a disfarçar as falhas em meio ao cabelo. Para fazer uma transformação e atender ao gosto do cliente, ninguém na barbearia faz corpo mole.
Clai, o filho que acompanha seu Olívio no dia a dia, conta que, às vezes, as exigências são difíceis de serem contempladas. “Alguns clientes não querem só o cabelo de um artista ou modelo. Eles querem o rosto do cara. E aí, como fazer isso? Tem cliente que pede uma transformação e a gente tenta”, explica Clai.
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E quanto a vontade do cliente é difícil de ser atendida – e isso acontece com frequência – a educação faz-se necessária. O pessoal da Barbearia do Olívio tem técnicas de convencimento. “A gente pergunta se pode dar uma sugestão, esta é a senha”, diz seu Olívio, ao dar uma piscadinha para o filho Clai. Como se fosse um combinado, os dois caem na gargalhada. Ao final, eles fazem a vontade do cliente, mesmo que ela não seja o melhor caminho. “Cabelo cresce não é, meu filho?”
Família
Comandada por seu Olívio, a barbearia dele é um ambiente familiar. Devido à presença da nora Patrícia e da neta Ttamires, o respeito é fundamental. “Antigamente até se comentava sobre mulher e tudo mais. Mas o novo modelo de barbearia é formatado em cima da presença da família. Mulheres trazem filhos para cortar e o próprio ofício, ao redor do país, conta com mulheres na funções de barbeiras”, diz Clai.
Assim como Olívio, que levou para sua barbearia filhos, nora e netos, clientes trazem filhos, os filhos dos filhos e familiares para cortar, aparar a barba com as precisas tesouras da família Soares.
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Ttamires tem 20 anos e diz que foi influenciada a vir para a barbearia. Na época, o irmão Victor fazia faculdade em Porto Alegre e ela foi meio que obrigada a pegar na tesoura. “Quando eu vim para cá, os clientes estranharam. Esta foi a maior transformação, foi aí que nossa barbearia passou a ser da família.”
Hoje a jovem é indispensável ao bom funcionamento do negócio. É dela a missão de organizar caixa e pagamentos. “Teve um ano que eu tirei férias, depois tinha vontade de fugir, por causa da bagunça deles”, reclama.
Um cidadão pantanense
Embora tenha nascido no interior de Rio Pardo, seu Olívio é cidadão pantanense. No pequeno município, é celebridade. Não tem quem não conheça o barbeiro. Além de inspirar filhos e netos, Olívio é líder. Reuniu em um livro, para o qual ele mesmo buscou patrocínio, os principais fatos da sua querida Pantano Grande.
Não satisfeito, desde 1990 mede a quantidade de chuva. “Nas últimas três décadas, o ano mais chuvoso foi 2002: acumulou 2.346 milímetros. O mais seco foi 1991, com 1.260 milímetros medidos”, orgulhoso, informa. A quem visita a barbearia, ele oferece a régua com a medição da chuva nos últimos 29 anos.
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Se para a cidade ele é importante, para os filhos e netos, mais ainda. Seu Olívio vive rodeado de amor e transborda ternura pelo olhar. Na cadeira centenária de barbeiro, ele se emociona ao ver que inspirou a família com o dom da tesoura. “A gente tenta ser uma pessoa boa, sempre. O resto, é consequência, meu querido”, ensina o experiente barbeiro.