Os banhos no inverno são penosos. Haja coragem para enfrentá-los. Começa pelas muitas peças de roupa que vestimos. Acredito que para os homens a tarefa é mais fácil. Não que essa facilidade seja barbada. Quando o frio aperta, usamos casacos pesados, blusão, camisa de lã, camiseta, manta, ceroulas, meias grossas, calçados adequados, bonés ou chapéus. Se falarmos dos trajes dos gaúchos, aí a coisa complica, começando pelas botas de cano longo.
Apesar de todas as dificuldades de despir as roupas, os chuveiros modernos compensam nosso esforço. Vocês se lembram daqueles primeiros aparelhos que surgiram há anos, quando tínhamos que chulear a pressão da água que saía?
Até já flagrei aquecedores elétricos no banheiro lá de casa. As mulheres, mais friorentas, usam esse aparelho, que considero perigoso. Defendem-se de que o problema é sair debaixo daquela água quentinha e se secar. Essa transição entre o quente e o frio castiga.
Essa crônica me fez relembrar o tempo de guri lá em Trombudo. Devia ter 7 anos, idade em que a mãe já me mandava buscar algum mantimento no armazém de secos e molhados do seu Boesel ou do Emmel. Sem contestar, montava no meu veloz cavalo de taquara e lá ia eu em desabalada corrida até a venda. O comerciante pegava um saco de papel e, com uma concha, servia o arroz armazenado em enormes caixas de madeira. Os produtos eram vendidos a granel.
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Não gostava de inverno. Acostumamos a não usar calçados durante a semana. Eram artigos de luxo e reservados só para os domingos na missa ou em alguma festa. Os dedos dos pés sofriam com o frio. O máximo que usávamos era um chinelo de couro e nossa roupa era herdada dos irmãos mais velhos. Chinelo de dedo não existia.
O nosso maior dilema no inverno eram os banhos aos sábados. Durante a semana fazíamos a meia-sola com a água do tanque, que vinha direto da cacimba. Antes de dormir, era obrigado a lavar os pés numa bacia.
Lá em casa o banheiro era de madeira e com frestas entre as tábuas. Quando o minuano soprava a gente quase congelava. Naquele dia, a mãe usava todas as panelas da cozinha e esquentava a água.
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O chuveiro de lata, fabricado pelo funileiro, tinha um chuveirinho soldado na ponta. Cabiam em torno de 20 litros de água. A mãe misturava a água quente com a fria. O banho tinha que ser rápido. Sabonete e xampu não existiam. Era usado o sabão de glicerina e, no caso de falta, o sabão comum mesmo.
Na hora do meu banho, vinham as recomendações da mãe Elzira: não se esqueça de lavar os cabelos; esfrega o encardido atrás das orelhas; use a esponja (colhia-se de uma trepadeira) e esfregue bastante teus pés; limpe as orelhas. Era uma missão difícil, mas obrigatória. À medida que o tempo passava, a água esfriava. O pior era quando acabava no meio do banho.
– Mãe, traz mais água.
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