Encontrar lichia não é exatamente uma tarefa fácil, mesmo quando se procura em centrais de abastecimento ou mercados especializados. Mas quem foi à feira rural central de Santa Cruz do Sul nos últimos dias deparou-se, logo na primeira banca à direita de quem ingressa no pavilhão a partir da Rua Fernando Abott, com cachos da fruta pendurados, além de uma caixa com uma porção delas, a granel. Quem as oferece é o feirante e produtor Ronaldo Wenning, 66 anos, e sua esposa Brunilde, 65, que ali comercializam, para delícia e privilégio dos santa-cruzenses, a safra de dois pés da espécie que possuem em sua propriedade na Travessa Stoelben, em Cerro Alegre Alto, no interior do município.
À primeira vista, no aspecto, a fruta lembra o moranguinho e, não por acaso, também é chamada de moranguinho-de-árvore. Por baixo da casca rugosa, de tom vermelho escuro, esconde-se uma polpa branca carnuda e muito saborosa, que traz, dentro, uma semente de porte médio. Apesar de seu apelo visual e ao paladar, a lichia ainda tem cultivo bastante limitado no Sul do Brasil. Em parte, isso talvez se deva ao tempo que a planta, muito popular em países asiáticos, demanda para entrar em produção, que pode chegar a oito ou dez anos. Ela se disseminou um pouco mais a partir de mudas enxertadas, mas ainda assim só começa a produzir efetivamente com cinco a seis anos.
Seu Wenning, movido pela curiosidade por frutas diferentes das convencionais, decidiu plantar duas mudas, que hoje estão com quatro a cinco metros, e que nos últimos anos oscilaram muito em produção. A razão, descobriu, estava nas floradas, que acabavam caindo sem que as frutas se formassem. Bastava uma chuva forte e se perdia a florada. Neste ano, conta, as duas árvores floresceram três vezes: numa, a chuva fez a flor cair; na segunda teve mais sorte e a frutificação ocorreu bem, ao menos em uma das árvores; e a terceira novamente foi prejudicada.
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Assim, ao menos de um dos pés pôde oferecer lichias na feira, na qual comercializa há 12 anos. Expondo as frutas a granel, vendia a porção a R$ 25,00 pelo quilo, quando, como diz, em outros mercados costumam ser oferecidas a R$ 40,00 pelo quilo – “isso quando não é bem mais”, como refere.
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Alimento saboroso e árvore ornamental
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Além de brindar a família com frutas deliciosas e nutritivas, a frutífeira conhecida como lichieira ou lecheira ainda pode constituir uma árvore ornamental. Por suas folhas de porte médio, de verde intenso e vistosas, e pelo formato de sua copa, pode ser plantada em pátios abertos ou em quintais, sozinha, em espaço mais isolado, ou ainda em maciços com diversas plantas.
Quando estiver em período de frutificação, os cachos com suas lichias de tom vermelho intenso certamente chamarão a atenção. Ou seja, além da oportunidade de saborear uma fruta não exatamente fácil de ser encontrada, ou ainda de assegurar receita com a comercialização dela, a sua contribuição visual ajuda a valorizar a propriedade. Isso vale tanto para a lichia quanto para as uvaias e as goiabas que seu Ronaldo e dona Brunilde cultivam em Cerro Alegre Alto, e que podem ser implantadas, a baixo custo, em toda a região.
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Todos ficam curiosos e perguntam a respeito
Se não chega a ser uma fruta de larga aceitação ou oferecida em grande quantidade, a lichia tem o dom de chamar muito a atenção. É raro algum cliente passar pela banca de Wenning, nas edições da feira em segundas, quartas e sextas à tarde, e não querer saber do que se trata, afinal. E, se calhar, pedir uma provinha. Que seu Ronaldo, com sorriso, não nega. Pode não ter grande oferta neste ano, mas assim está começando a difundir a curiosidade em torno da lichia e, quem sabe, formando a clientela para o futuro.
Sobre a fruta, não poupa elogios quanto a seus benefícios nutricionais e à saúde: ela contém aminoácidos incomuns, com excelentes propriedades antioxidantes. Em resumo: faz muito bem ao organismo. Por isso, cogita inclusive plantar mais algumas mudas nos próximos anos. Em sua propriedade, de 6,5 hectares, há 11 quilômetros do centro de Santa Cruz, já possui igualmente uns 25 pés de uvaia, também conhecida como uvalha ou ubaia. Esta, uma fruta de amarelo intenso, tem sabor agridoce marcante (com quatro vezes mais vitamina C do que a laranja), sendo excelente para doces, sobremesas ou licores, na infusão em cachaça. Nativa do Brasil, pode ter porte de seis a 13 metros em campo aberto.
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Em breve os frequentadores da feira poderão adquirir frutinhas de uvaia com seu Ronaldo. Que ainda implantou um pomar de uns 30 a 40 pés com diversas espécies de goiaba. “Gosto de lidar com essas frutas diferentes”, comenta, enquanto Brunilde providencia as conservas e as schmiers variadas que eles oferecem em sua banca na feira. Ronaldo e Brunilde têm três filhos: dois (Roger e Simone) morando em Rio do Sul, em Santa Catarina, onde o casal residiu por vários anos antes de retornar a Santa Cruz, terra natal de Wenning; e o mais novo, Henrique, atuando como professor em Santa Cruz.
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