Os dias de frio intenso na região Centro Serra, que acompanharam o clima de todo o Sul do país, protagonizaram cenários históricos em diversas localidades. Mas, além de compor belas paisagens, as baixas temperaturas costumam impactar na vida humana, bem como na de animais e plantas.
Na agricultura, conforme explica o engenheiro agrônomo e assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar de Soledade, Josemar Parise, o frio, no atual período, não chegou a trazer grandes impactos negativos para as produções, muito em razão de que, para as culturas de inverno (trigo, cevada, aveia, centeio), nesta fase inicial de desenvolvimento, em que a planta se encontra em perfilhamento, o frio chega a ser benéfico. “Mesmo com as temperaturas negativas, nestas culturas de inverno não houve impactos, a não ser em pontos de baixadas onde o gelo se acumulou por mais tempo ao longo do dia e pode ter ocasionado alguns danos”, explicou.
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O risco para as culturas de inverno com a formação de geada, segundo Parise, se dá na fase de florescimento, espigamento, que costuma ocorrer entre a segunda quinzena de agosto e início de setembro. “Nesta época, se ocorre geada, acaba congelando as estruturas internas da flor e inviabiliza a formação do grão. Então, os danos por causa da geada são muito mais acentuados na fase reprodutiva dos cereais de inverno e também da canola”, destacou.
Em regiões de baixa altitude, sinaliza o engenheiro agrônomo, produtores começaram o transplante do tabaco, levando as mudas para o campo, muito em razão de tentar se antecipar e escapar das adversidades climáticas do fim do ano, como as altas temperaturas e possibilidade de estiagem, bem como liberar a área dentro do período de zoneamento para plantio da soja. Em algumas lavouras já plantadas, houve perdas, mas boa parte dos agricultores se precaveu em razão do risco de frio intenso e a partir de orientações técnicas.
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No caso de outros cultivos, como as hortaliças folhosas, por exemplo, o frio intenso tende a gerar mais prejuízos, especialmente com a formação de geada. Contudo, muitas plantas cultivadas nesta época já são mais adaptadas ao frio. Como explica o extensionista e chefe do escritório da Emater/RS-Ascar de Sobradinho, Rotiére Guarienti, já sabendo dos desafios, os produtores costumam se preparar com sistemas protegidos, coberturas, estufas, revestimentos especiais nestas plantações. Segundo ele, por enquanto não há estimativa de prejuízos na região.
No caso de árvores frutíferas de clima temperado, como a videira, ameixa, pêssego, maçã, caqui e kiwi, com o excesso de folhas caducas que caem nessa época, servem exatamente para proteger do frio. “Esse frio para elas é benéfico, pois na primavera estas espécies conseguem ter uma florada mais intensa”, destacou Parise, acrescentando que o frio intercalado com picos de calor, pode trazer danos a algumas frutíferas precoces, que tentam quebrar a dormência e entram em florescimento, sendo que com o retorno do frio pode causar danos à flor, causando abortamento e inviabilizando a formação do fruto.
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Rotiére reforça que esse problema da variação térmica, que pode desequilibrar o desenvolvimento da planta. “Se pegarmos o exemplo do pessegueiro, em boa parte já estão floridos. Isso quer dizer que a planta já entrou em processo de frutificação. Pode ser que ainda para frente tenhamos mais geada e acabe ocasionando na perda de boa parte desta produção. Já para outras culturas o frio é essencial”.
Por falar em horas-frio, explica o extensionista, “normalmente existem pessegueiros com necessidade desde abaixo de 100 até mil horas de frio, frio este abaixo de 7,2 graus, para que assim possam florescer e enfolhar. Por isso, é importante no momento da encomenda para o plantio atentar-se para estas necessidades que mudam de variedade para variedade”. Para o extensionista também é preocupante a falta de chuva, com baixas precipitações nos últimos tempos.
Ainda, conforme Parise, o frio e a geada nesta época têm benefício, pois eliminam muitas plantas invasoras, guaxas, especialmente nas culturas de verão, diminuindo também a infestação de pragas e incidência de doenças que ocasionam prejuízos à produção.
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Eliandro Guerreiro, de Linha Carijinho, em Sobradinho, ficou atento à previsão do tempo e às orientações dos meteorologistas. Na propriedade dele, o tabaco é o carro-chefe da produção. Para evitar perdas, o produtor reforçou a cobertura nos canteiros onde ficam as mudas. “Fiz um estaleiro em cima do canteiro, tirei da água e deixei coberto. Já tinha duas lonas, coloquei mais uma para não ter problema de perder alguma muda. Já teve anos que aconteceu de perder por falta de colocar essa proteção melhor”, enfatizou.
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Na propriedade de Alessandro Rosa, em Linha Pinhal, interior de Sobradinho, o registro é de impacto negativo em pelo menos 30% da plantação de pitayas. “A última geada forte foi a que me prejudicou bastante, as demais não, por conta do sombrite 50% que tenho nas plantas. Minhas pitayas queimaram bastante por conta da chuva congelada e, como à noite não teve vento para secar a umidade, amanheceram congeladas, então foi aí que queimou a parte das espigas. Vou ter que raspar, fazer um tratamento, mas ali não vai vir brote, nem botão, infelizmente. Mas, bola pra frente. Próximo ano proteger um pouco mais. Já nas hortaliças que a mãe cultiva na horta, com auxílio do sombrite, não afetou em nada”, relatou.
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