Nesta nova série de reportagens, intitulada “A Vida no Bairro”, a Gazeta do Sul vai mostrar a diversidade do município ao observar atentamente onde os santa-cruzenses fazem seus lares e conduzem os seus negócios. O primeiro visitado e explorado nesta matéria é justamente o mais populoso de Santa Cruz do Sul: o Santo Inácio.
Uma pesquisa de 2019, feita pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), aponta que a população estimada do bairro é de 17.294 habitantes. Ou seja, 13% do total de habitantes de Santa Cruz do Sul. Da região do Vale do Rio Pardo, apenas mais cinco municípios têm população maior que a do Santo Inácio: Candelária, Encruzilhada do Sul, Rio Pardo, Venâncio Aires e Vera Cruz.
A menos de dois quilômetros do Centro, o bairro acaba sendo uma boa alternativa para quem deseja viver mais afastado da movimentação intensa da área central e, mesmo assim, residir em um local onde se encontra tudo o que for preciso, como farmácias, mercados, praças, escolas, restaurantes, entre outras necessidades. Ele faz divisa com o Bairro Universitário e está próximo da Unisc, trazendo também estudantes para residirem nos prédios que foram sendo construídos ao longo do tempo, na vizinhança das antigas casas.
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Além disso, também fica perto da saída da cidade para a RSC-287 e conta ainda com um shopping, localizado em uma das entradas do bairro. Tudo isso faz com que o Santo Inácio se torne não somente um bom lugar para residir, mas também um centro comercial dinâmico e pujante.
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A HISTÓRIA
“Dar-se-á a denominação de Bairro Santo Inácio à área da cidade com as seguintes delimitações. Ao Norte, inicialmente com a Rua Augusto Spengler, seguindo-se em direção Oeste até a Avenida Alberto Pasqualini, por onde se continua sentido Sul até a Rua Coronel Oscar Jost, prosseguindo-se para o lado Leste até encontrar a Rua Rio Branco, de onde se segue para o Sul até o Corredor São Pedro, estendendo-se então a linha divisória em direção Leste por este Corredor e pela Rua Juca Werlang até o seu final.
Segue-se pela Rua Vereador Benno João Kist até a Travessa 1o de Maio, encontrando-se, então, a Rua Carlos Maurício Werlang e Acesso Grasel, até o Monumento São Cristóvão, ao Norte, de onde se retorna em linha reta para o lado Oeste até encontrar-se a Rua Albino Assmann e, por fim, vai-se na direção Sul, através da Rua Gaspar Silveira Martins, até atingir novamente a Rua Augusto Spengler.”
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O trecho que você leu foi retirado da lei de autoria do então vereador Benno Bernardo Kist, aprovada em 19 de novembro de 1990, que dá nome ao bairro mais populoso de Santa Cruz do Sul, o Santo Inácio. Mas muito antes disso, movimentações já pediam que o local, antes chamado de Três Barulhos, tivesse o mesmo nome da Igreja e da comunidade que ali se instalava e está até hoje. Outro nome também se destaca, já que muitos conhecem parte do Bairro Santo Inácio como Verena, que foi realmente bairro por um tempo, mas, em meados de 2010, após um plebiscito, foi incorporado ao Santo Inácio. Contam os mais antigos moradores que Verena era a filha de um dono de terras, e acabou herdando os lotes. Quando algum interessado ia comprar terreno naquele local, falava-se “é lá nas terras da Verena.” Assim o local foi sendo conhecido e, até os dias de hoje, condomínio, praça, posto de saúde, entre outros, carregam consigo a palavra que dava nome à mulher.
Contudo, chamar o local de Bairro Santo Inácio já era um pedido muito antigo do bispo Dom Alberto Frederico Etges. “Um dia, o bispo me pediu para entrar na sala dele porque ele queria conversar. Ele disse que era muito feio o nome Três Barulhos, e pediu que eu prometesse que ia trabalhar para mudar o nome e chamar de Santo Inácio”, recorda Armindo Kessler, de 83 anos, que também foi presidente da Comunidade Santo Inácio.
Dom Alberto foi, no final das contas, um dos grandes incentivadores para a alteração do nome. “O bispo me orientava a colocar de remetente nas cartas Bairro Santo Inácio e não colocar Centro ou Verena”, relata outro antigo morador. e que também presidiu a comunidade, Wonibaldo Hippler, de 81 anos.
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Com relatos históricos anotados da época em que presidiu a comunidade, na década de 1980, Armindo Kessler lê as memórias que guarda daquele tempo. “Posso dizer que me orgulho de ser um pioneiro dessa querida comunidade Santo Inácio. Houve muitas rosas no caminho, mas onde há rosas há também espinhos”, diz o trecho escrito no caderno guardado com esmero por Kessler.
A vontade era tanta de que o bairro levasse o mesmo nome da comunidade que Wonibaldo Hippler chegou a pendurar uma faixa como forma de protesto, que dizia: “Queremos que o bairro seja Santo Inácio”. Ele relembra que a conquista foi de diversos moradores. “Nós lutamos por isso. Foi um pedido do bispo Dom Alberto.”
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DIVERSIDADE EM UM LUGAR
A Comunidade Santo Inácio atualmente
A Comunidade Santo Inácio, vinculada à Paróquia Santo Inácio, está presente no bairro com uma diversidade de atividades. A instituição religiosa acaba sendo também um centro de convivência social que oferece interações como clube de mães, ginástica para a terceira idade, grupos de violão e de canto, grupo de bolão e outros.
Conforme o atual presidente da Comunidade Santo Inácio, Wanderlei Machado, o papel da entidade é promover e desenvolver o lado social. “A integração é muito importante”, destaca. O presidente acrescenta, ainda, que a comunidade possui diversos voluntários e preza pela continuidade das ações, além de pensar na formação de lideranças futuras. “A gente tem todo esse cuidado. Estamos em renovação permanente, criando grupos de jovens para formar novos líderes”, diz Machado.
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Quem mora, adora
Por ser um bairro tranquilo e com tudo o que o cidadão precisa por perto, quem mora no Santo Inácio é só elogios para o lugar. Muitos que residem desde crianças estão há décadas nas mesmas casas ou nas mesmas ruas. “Quem mora aqui não sai mais”, destaca Edith Kothe, de 94 anos, e que mora no bairro há 69.
O casal Idorilda Barbian Miis, de 78 anos, e Eqon Miis, 82, também vive há muitos anos no local. Idorilda comenta que acabou se acostumando com o nome “Verena”. “Eu, se me perguntam, eu digo que moro na Verena.” Para o casal, morar no bairro é muito bom. “Nunca saí daqui, nem vou sair. Aqui o pessoal é tudo amigo, não tem violência, essas coisas”, completa Idorilda.
Feira de orgânicos
Também é no Santo Inácio que está localizada a única feira municipal de produtos totalmente orgânicos. Junto à pracinha da Rua Augusto Spengler, a feira oferece diversos produtos naturais, como frutas, verduras, bolachas e bolos. Os produtores rurais Herculano Frantz, de 71 anos, e Lori Frantz, de 69 anos, trabalham na Feira do Santo Inácio há mais de dez anos e há três no endereço atual. Eles comentam que ainda acham o ponto um pouco escondido, o que, por vezes, dificulta as vendas. “Mas em geral, as pessoas mais idosas, mulheres com crianças, grávidas, nos procuram bastante para comprar os orgânicos”, contam.
Bar Benfica: quase patrimônio
O Bar Benfica, localizado na Rua Coronel Oscar Rafael Jost, é um dos mais tradicionais do Bairro Santo Inácio. O estabelecimento existe há mais de cinco décadas e há 36 anos é administrado por Elton Breunig, de 62 anos. “Um dos melhores bairros para morar é esse aqui”, avalia. Atendendo de segunda a segunda, até 23 horas, o Benfica é quase como um patrimônio do Santo Inácio.
Bom para os negócios
Estão presentes no Santo Inácio diversas grandes empresas. Uma delas é o Miller Supermercados. Também é no bairro que se localiza o Shopping Santa Cruz. A Cremolatto Sorvetes é uma das empresas que se estabeleceram na Avenida Senador Pasqualini, num local que é uma espécie de “centrinho” do bairro. No espaço, próximo à Pracinha da Pasqualini, diversos empreendimentos se fixaram. “O Santo Inácio é um maravilhoso ponto para investimento em comércio e está crescendo cada vez mais. Sendo moradora há 30 anos, é notável a transformação desde antes da construção do Shopping Santa Cruz até atualmente”, salienta Letícia Bruxel Turra, uma das proprietárias da Cremolatto, junto ao marido Gilnei Turra.
Outro empreendimento do Bairro Santo Inácio é a Clínica de Estética Virtuosa, situada na Rua Gaspar Silveira Martins. Para Marlise Saath, proprietária do negócio, a decisão de instalar a clínica aconteceu porque encontraram uma sala que atendia aos requisitos necessários e igualmente pelo bom fluxo de veículos que passam pela frente da empresa. “É uma entrada da cidade e também uma região mais tranquila, de fácil estacionamento. Hoje, estamos muito satisfeitos com a escolha, que nos deu uma boa visibilidade”, assegura Marlise.
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Casa de Retiros Santo Inácio de Loyola
Desde os 2 anos de idade, Cláudio Haas, de 74 anos, mora no Santo Inácio, quando o terreno onde residia ainda fazia parte dos loteamentos da “Vila Verena”. Atualmente, após anos de atuação na Comunidade Católica, Haas é colaborador voluntário da Casa de Retiros Santo Inácio de Loyola, que acabou se tornando, além de uma instituição religiosa, também um ponto turístico de Santa Cruz do Sul.
No local, há uma cascata e uma gruta dedicada a Nossa Senhora de Lourdes. “Essa gruta foi inaugurada em dezembro de 1954, no mesmo ano em que foi inaugurada a Casa de Retiros, que foi construída pelos jesuítas”, observa o colaborador.
Todos os anos, uma procissão é realizada. “Dia 11 de fevereiro é o dia de Nossa Senhora de Lourdes. Então, sempre no sábado seguinte é feita uma procissão que sai da Igreja Santo Inácio e termina aqui na gruta, com a missa”, explica Ademar Thomas, de 57 anos, coordenador do Grupo Executivo Diocesano, que administra a Casa de Retiros.
Thomas também coordena o Movimento de Cursilhos da Cristandade. “É um grupo da Diocese de Santa Cruz, e na casa são feitos oito retiros por ano. É uma casa de formação religiosa”, enfatiza Thomas.
Cláudio Haas explica que Inácio de Loyola foi um padre jesuíta e a Casa de Retiros foi nomeada Santo Inácio em homenagem a ele, falecido em 1556 e depois canonizado. “Depois de muitos anos, os jesuítas doaram a casa para a Diocese de Santa Cruz do Sul”, diz Haas, que frisa que o Santo Inácio é um dos melhores bairros da cidade para morar. “É muito tranquilo.”
Haas e Thomas salientam que a Casa de Retiros Loyola sempre contou com o apoio das diferentes gestões da Prefeitura de Santa Cruz do Sul, para assegurar a manutenção do espaço e dos acessos que levam até a gruta.
GALERIA DO BAIRRO SANTO INÁCIO
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