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Baile de Damas

No meu tempo de guri, uma festa tradicional que se realizava nas localidades do interior era o Baile de Damas. Esse evento era organizado pelas senhoras, esposas e filhas de maior idade dos colonos, que se reuniam e jogavam o bolão de mesa (tischkegel).

Esse esporte era jogado com um taco, que impulsionava uma bolinha de madeira, que corria por um pequeno túnel cheio de curvas, construído artesanalmente sobre uma mesa. No final desse trajeto, estavam armados os pequenos pinos que deveriam ser derrubados.

A sociedade das mulheres todos os anos organizava o tradicional Baile de Damas. As demais sociedades do interior eram convidadas para um grande torneio, que se realizava aos sábados à tarde. 

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À noite, acontecia o baile. As mulheres se organizavam em grupos do lado de fora e entravam no salão num grande desfile. Na frente de cada agremiação, a presidente do grupo carregava a sua bandeira, seguida pelas demais, todas uniformizadas.

Na pista do salão era colocado um pó sobre o piso de madeira, a fim de que se tornasse mais liso à medida que as danças acontecessem na pista. As danças iniciavam bem cedo e, conforme a tradição, as moças solteiras escolhiam seus pares para dançar. Os rapazes esperavam nas mesas ou ficavam enfileirados à beira do salão. Era proibido o homem tomar a iniciativa.

A extrema timidez de alguns rapazes era motivo de gozação dos mais espertos. O Fernandão era um daqueles tímidos inveterados. Magérrimo, com quase dois metros de altura, sofria de complexo de inferioridade. Jamais pensaria que uma menina da localidade iria convidá-lo para dançar. Torcia para que isso jamais acontecesse. 

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Estava estancado na beira do salão, admirando seus colegas dançarem, quando observou uma moça fazendo o sinal com o dedo. Olhou para os lados para se certificar se o gesto era para ele mesmo. Infelizmente, era. Não poderia retroceder. Era proibido dar carão, mesmo que a moça fosse feia. Qualquer negativa poderia ofender os pais.  
Vermelho como um pimentão, o desengonçado dançarino deu início ao seu martírio. Ainda bem que não existia luz elétrica no salão e, sim, algumas lamparinas , que proporcionavam uma iluminação fraca.

Não era a noite de sorte para o avexado magricela. Nos primeiros passos, bateu com a cabeça no lampião. Passada a primeira vergonha, a Graciela iniciou uma conversa com o Fernandão. Orgulhosa, contou que seu pai havia comprado uma flamante e maravilhosa Vespa. O atrapalhado rapaz não entendeu o diálogo e, querendo ser agradável, perguntou qual a quantidade de caixas de abelha que seu pai havia comprado.

A “Crasi” não aguentou. Agradeceu a companhia do rapaz. Dançaria com um guri mais evoluído.  Aliviado, Fernandão tratou de ficar longe da mira das meninas. Baile de Damas nunca mais.

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