Faz alguns dias, está à disposição na televisão por assinatura, precisamente na Netflix, a minissérie brasileira Senna (seis episódios), um drama biográfico que conta sua história pessoal e sua trajetória profissional. Tricampeão mundial de Fórmula Um (1988-1990-1991), e possivelmente o mais extraordinário piloto de todos os tempos, haja vista uma sucessão de fatos e circunstâncias bem representadas na minissérie. Não deixe de assistir!
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No dia 3 de maio de 1994, dois dias após sua morte acidental, sob o título Ayrton Senna do Brasil, escrevi o artigo abaixo, publicado na Gazeta do Sul. Uma pretensão interpretativa acerca da comoção nacional, possivelmente comparável com o falecimento de Tancredo Neves (1910–1985). O artigo:
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“Ayrton Senna (1960–1994) não era apenas um piloto de automóveis. Era o piloto de nosso inconsciente, de nossos desejos e vontades mal realizadas. Era o piloto da força que sonhamos, da loucura que invejamos e da coragem demente que desejamos, às vezes.
Através do automobilismo, a Fórmula Um, especialmente, Ayrton Senna, melhor do que ninguém, desafiava os limites extremos, os limites simbolizados pela morte. Muitas vezes, comportava-se como um jogador de pôquer, blefando e vencendo o desconhecido, o imponderável.
O estado de comoção, de profunda emoção, que se abateu sobre todos os brasileiros, me leva a tentar interpretar e compreender esse sentimento, essa reação coletiva.
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Fiz uma rápida enquete entre várias pessoas, sugerindo outros nomes nacionais que poderiam provocar tamanho sentimento de dor. Resultado: nenhum nome, rigorosamente nenhum, alcançaria este índice de identidade.
Comparativamente, os nomes sugeridos eram tão ilustres, tão famosos, tão queridos quanto Senna. Mas, então, por que nenhum outro nome provocaria tal reação popular?
Acredito que não foi só seu carisma e simpatia a força maior que determinou este profundo sentimento de perda, de dor. Creio que ‘morreu’ em cada brasileiro um pedaço de coragem, de loucura, um pedaço de demência e inconsciência. Aquela porção maluca que necessitamos, às vezes, para dar uma ‘virada’ em nossas vidas, para dar uma ‘virada’ nas coisas.
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Morre Ayrton Senna. Morre em todos nós um pouco da vontade de romper, do desejo de modificar, de superar barreiras incômodas que permanecem em nosso cotidiano, que habitam nossa alma!”
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