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Aventuras na colônia

Para muitos, as férias são um período de exercícios intensos, de recuperar o atraso nas atividades físicas que, por falta de tempo, acabam negligenciadas no resto do ano. Esses corajosos têm enfrentado o calor sufocante dos últimos dias às voltas com caminhadas, corridas, ciclismo… Haja fôlego.

Quanto a mim, tenho dedicado as férias a um exercício de outra ordem, talvez bem menos desgastante nestas tardes abrasivas: o exercício da escuta. De certa maneira, é também uma forma de recuperar o atraso, de colocar em dia, principalmente com as crianças lá de casa, tantos assuntos adiados no corre-corre do ano que passou. E as gurias, que não são bobas, têm aproveitando essa oportunidade repentina para tagarelar sobre tudo.

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Outro dia as três passaram a falar das suas aventuras na colônia, durante as visitas à propriedade do saudoso bisa, em Rio Pardinho. Então lembraram do tumulto que provocavam no galinheiro, durante as caçadas aos ovos. Bastava uma galinha cacarejar, supostamente anunciando a chegada de um potencial rebento, para que as marotas se precipitassem em desabalada carreira ao galinheiro, causando um revoar de aves e penas, para revistar os ninhos em busca do prêmio.

Porém, uma vez encontrado o ovo, sempre ficava uma dúvida:

– Como saber se aquele ovo poderia ir para a frigideira, sem ter certeza de que não havia um pintinho nele? – comentou Yasmin.

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Para sanar essa dúvida, Ágatha desenvolveu uma teoria que mantém até hoje – ainda que possa soar desacertada, na ótica dos entendidos nas coisas do campo.

– É preciso verificar se a galinha que colocou o ovo está ou não acompanhada de um galo – explicou. – Se estiver, é porque são casados e estão formando família. Então, certamente será um ovo com pintinho.

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As gurias então lembraram da algazarra que faziam na hora de alimentar os porcos. Era uma festa – para elas e para os porcos. Primeiro, as traquinas assaltavam o paiol de milho, de onde saíam com as mãos carregadas. Depois, davam início a um bombardeio de espigas sobre o chiqueiro, até que os suínos desistissem, rendidos, de tanto comer.

– Aposto que os porquinhos ficavam faceiros assim que percebiam nosso carro chegando na casa do bisa – comentou Ágatha. – Quando nos viam, até nos cumprimentavam, fazendo oinc, oinc, oinc…

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Outro relato foi de uma das muitas explorações pelo potreiro. Para as crianças, essas eram verdadeiras aventuras, repletas de perigos, dada a presença ameaçadora de vacas e bois com chifres imensos no ambiente – motivo pelo qual minha companhia era sempre requisitada para tais expedições. Isadora lembrou que certa feita passamos a ser seguidos por um boi enorme, o qual – nas palavras dela – tinha até um “piercing” em forma de argola no nariz.

– O pai tentou enxotá-lo, mas o boi não deu a mínima e continuou nos seguindo, com aquele rosto mal-encarado…
As gurias ainda hoje especulam sobre as razões do interesse daquele boi em nossa presença. Em meio a nossa conversa, fizeram um esforço para tentar lembrar se alguém estava vestindo vermelho naquela ocasião. Expliquei então que isso não faria diferença, dado que os ruminantes – diferentemente do que se acredita – não distinguem cores. A crença de que o vermelho irrita bois e touros deve-se tão somente à tradição do uso dessa cor nas touradas.
A explicação contribuiu para manter o mistério: o que o boi queria conosco? Isso, jamais saberemos.

O fato é que, naquela aventura, tal enigma nos forçou a bater em retirada. Conduzi minha tropa de pequenas expedicionárias pela pinguela, rumo a outra margem do arroio, enquanto o boi, sem ter como cruzar o córrego, ficou do outro lado, sozinho, encarando-nos com seus olhos sem expressão.

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– O problema – recordou Ágatha – é que fomos obrigadas a dar uma baaaaiiita volta para retornar à casa do bisa por outro caminho… Mas não faz mal. Foi muuuiiiito divertido!

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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