Outro dia, o Carlos Pfaffenzeller, mecânico, fez-me um convite inusitado. Relatou que ele, juntamente com dois amigos, havia comprado um barco em Guarujá (SP) e iria trazê-lo navegando pela costa brasileira, sendo que o trajeto daria 750 quilômetros de mar.
Era um barco de oito metros de comprimento, inflável, sendo tocado por dois motores de 120 hp, a diesel, e de início fiquei receoso. Nunca tinha enfrentado aventura semelhante e o tamanho da embarcação realmente assustava. Ouvi muita história de naufrágios acontecidos nos oceanos e esse pavor passa pela cabeça da gente.
O Pfaffen argumentou que o passeio seria inesquecível e o Valdomiro Schramm, natural de Pantano Grande, experiente aviador agrícola, já havia feito o percurso, solitariamente, com um barco a vela.
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Toda a rota foi elaborada seguindo a Carta Náutica da Marinha Brasileira, gravada no GPS. As condições climáticas seriam monitoradas por um computador, levado a bordo e, antes de navegarmos em mar aberto, teríamos a certeza de que estaria em condições normais de navegação.
Diante dos argumentos favoráveis, aceitei o desafio, mas sempre com aquele sentimento de medo do desconhecido.
Embarquei no avião no Salgado Filho e segui direto a São Paulo. Havia saído de casa de madrugada e, em Mariante, passei acima da velocidade permitida no pardal. Estava distraído e apreensivo, rumo a uma aventura absolutamente desconhecida para mim. O máximo que tinha navegado era com meu barco no Rio Jacuí.
Meus amigos Carlitos Hammes, jovem, e o veterano Marcão, contador radicado em Florianópolis, estavam esperando minha chegada em São Paulo e de carro fomos até Guarujá. Fiquei deslumbrado com a descida da serra, muito bonita, principalmente o túnel que atravessa os morros rumo às praias. Não conhecia o litoral paulista, lindo! À noite nos encontramos numa pousada, jantamos e tomamos cerveja. O Valdomiro aproveitou o momento e nos explicou sua estratégia de navegação.
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No outro dia, bem cedinho, saímos de Guarujá e nos deslocamos até Bertioga, quando tivemos a oportunidade de conhecer o barco que nos levaria para esta aventura. Uma embarcação pequena para a grande empreitada. Seja o que Deus quiser!
A nossa saída foi emocionante, pois os canais de Bertioga, de mar abrigado, têm uma natureza deslumbrante. Guiados pelo GPS, fomos desbravando aquelas águas calmas rumo ao Porto de Santos.
Encontramos muitos pescadores durante o percurso, que, preguiçosamente, esperavam fisgar o seu peixe ou simplesmente desfrutavam da calmaria do lugar rodeado de morros verdejantes, fugindo do estresse de São Paulo.
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As cidades industriais, que praticamente abraçam este local abençoado pela natureza, simplesmente ignoram esses aventureiros do Sul, pois para que o Brasil tenha progresso, alguém tem que trabalhar. Não era o nosso caso. (Continua)