Na semana passada descobrimos um novo traço da personalidade da nossa caçula, Ágatha, até então desconhecido para nós lá de casa – o gosto pelo que ela chama de “brinquedos radicais”. Constatamos isso ao levar as gurias ao parque de diversões instalado na Feira da Produção, em Vera Cruz. Logo ao chegar, Ágatha topou com o barco viking e impôs uma condição: não sairia dali sem saber como é andar naquela geringonça.
– Tu anda ali comigo, pai?
Primeiro achei que a traquinas estivesse apenas blefando e decidi entrar no seu jogo. Respondi que sim, sem problemas, a acompanharia se ela tivesse coragem de embarcar no brinquedo. Mas não tardei a descobrir que não era um blefe. Ágatha não estava para conversa mole. Estava firmemente decidida a andar no barco viking e munida de coragem para tanto.
E então, quem se apavorou fui eu.
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Não que o barco viking seja lá um brinquedo perigoso ou fosse o mais radical entre todos ali instalados. Basicamente, ele força os tripulantes a suportarem profundos mergulhos no vazio, paradas bruscas no ar e novos mergulhos, de frente e de costas. Mas tem uma característica que, desde a infância, sempre me incomodou nesse e em outros brinquedos de parques de diversões: a sensação de impotência frente à impossibilidade de comandar seus movimentos.
Os vikings de verdade, por exemplo, tinham a chance de comandar seus barcos, mesmo em mares agitados. Podiam manejar o leme para contornar alguma onda traiçoeira, baixar a vela em caso de tormentas repentinas, saltar ao mar na iminência de um naufrágio e, então, contar com a salvaguarda dos escombros para sobreviver.
Já o barco viking dos parques de diversões obriga os ocupantes a aceitarem passivamente seu movimento de pêndulo. Se a brincadeira perde a graça por força de um embrulho no estômago, de uma queda na pressão arterial ou de um ataque de pânico, o pobre tripulante não tem alternativa, a não ser esperar a passagem do tempo estipulado para o sobe-e-desce.
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Certa feita presenciei, em um parque de diversões, o caso de um sujeito assaltado por uma repentina onda de terror a bordo do barco viking. Passou a gritar por socorro, pedindo que o operador do brinquedo freasse o movimento. Mas este último – mexendo no celular com uma das mãos e segurando o cigarrinho com a outra – não escutou a vítima em meio à algazarra dos demais ocupantes. Ou fingiu não tê-lo escutado, obrigando o pobre sujeito a lidar com sua crise de pânico durante todo o tempo regulamentar.
É por essas e outras que sempre evitei não só o barco viking, mas também a montanha-russa e aquelas outras geringonças que forçam os ocupantes a toda sorte de rodopios pelo ar. Juro, não é por medo. É pela sensação de impotência que provocam.
E então, lá estava eu, confrontado pela vontade inabalável da caçula em subir no barco viking – obviamente, não desacompanhada. Ainda tentei negociar, sugeri outras alternativas:
– Que tal andarmos na xícara?
Mas Ágatha estava irredutível em sua decisão.
– Xícara é coisa de criança. É hora de experimentarmos brinquedos radicais…Vamos no barco viking!
E então pedi uns minutos para comprar um chope.
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Comprei um copo de 400 ml de red ale. O chope veio a calhar, não pela coragem (ou falta de lucidez) proporcionada pelo álcool, mas porque me impedia de subir a bordo, sob risco de dar um banho de cerveja no resto da tripulação.
– Só espera o pai terminar a bebida – pedi, sorvendo a cerveja vermelha beeeem devagarinho.
Ágatha, por sua vez, percebeu que aquilo iria demorar. E passou a assediar a mãe, para que a acompanhasse. E a Patrícia, habituada aos incontáveis desafios da maternidade, topou o convite.
Ainda prometi que as filmaria na aventura e lá fiquei, em terra firme, aliviado – celular em uma mão, copo de chope na outra – sem conseguir distinguir se os gritos de minhas filha e esposa eram de alegria ou terror.
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