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SANTA CRUZ DO SUL

Avenida Independência completa um século

Foto: Bruno Pedry

Hoje uma das mais movimentadas vias de Santa Cruz do Sul, a Avenida Independência nem sempre foi assim. Ela foi inaugurada no dia 8 de setembro de 1922, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, e foi a primeira estrada que saía do centro da cidade no sentido Norte, em direção a Rio Pardinho.

Naquela época, os atuais bairros Independência, Universitário e Renascença não existiam e a região era um descampado conhecido como Entrada Rio Pardinho. A área onde hoje está o campus da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) era chamada de Chácara Meinhardt e não possuía maiores infraestruturas.

Todos esses locais foram cortados pela nova via, que teve uma evolução progressiva de seu entorno ao longo dos anos. Esse desenvolvimento se intensificou muito após a inauguração do campus da Unisc, que trouxe consigo milhares de novas casas e condomínios para a região. Junto com a nova população, instalaram-se também nas cercanias diversos estabelecimentos comerciais.

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Hoje, com seus pouco mais de 3,7 quilômetros de extensão, a Avenida Independência não está entre as mais longas do município, mas exerce um papel fundamental na mobilidade urbana e é uma das principais ligações de Santa Cruz
do Sul com a RSC-287.

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A evolução detalhada por quem a viu de perto

Não há forma melhor de recordar acontecimentos históricos do que ouvir os relatos de quem os vivenciou. É o caso da aposentada Traudi Knak, de 73 anos, que viveu boa parte de sua infância e adolescência na Avenida Independência, ao longo das décadas de 1950 e 1960. Seu pai, Willy Fritsch, era proprietário de um armazém localizado onde até há pouco tempo havia a Farmácia Independência. Além da venda de secos e molhados, o estabelecimento funcionava como churrascaria, tinha chopeira, cancha de bolão e foi também a primeira sorveteria de Santa Cruz do Sul.

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Nessa época, relembra Traudi, a via permanecia como uma estrada de chão batido. Apesar da precariedade do pavimento, havia intensa movimentação de carroças, ainda o principal meio de transporte utilizado para o transporte de pessoas e mercadorias entre a cidade e as colônias de Rio Pardinho e Sinimbu e a Região Serrana. Assim, o comércio da família servia como um ponto de referência e de encontro para aqueles que percorriam o trecho. Além de alimentação e bebidas geladas, o lugar oferecia vasta sombra para o descanso e ainda água e espaço para os animais.

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Dona Traudi Knak viveu boa parte de sua infância e da adolescência nessa região | Foto: Iuri Fardin

O Cemitério Municipal já estava instalado na subida do trecho desde 1898, muito antes da inauguração da Avenida Independência. Traudi recorda que nas proximidades existia uma espécie de funerária e nela havia um automóvel fúnebre, um luxo para a época. “Era um carro preto com dourado, muito chique. Quando morria alguma pessoa rica, o corpo era levado naquele carro. Já quando o morto era uma pessoa pobre, algum funcionário da Prefeitura carregava o caixão de carroça mesmo”, conta. Certa feita, afirma a aposentada, o carroceiro perdeu um caixão no meio do percurso e só percebeu quando parou em frente ao armazém para conversar com Willy.

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Do outro lado da via, onde está atualmente o Miller Supermercados, havia um enorme pavilhão. “Lá ficavam armazenadas as cargas de tabaco excedentes que não haviam sido compradas pelas empresas. No final da safra, quando voltava a ficar vazio, o lugar se transformava em um grande salão de bailes, as pessoas vinham de longe para participar”, acrescenta. Ao lado, a praça Gerson Luís Künzel já existia. No lugar da atual marmoraria, um pouco mais para trás, havia a cooperativa Padre Amstad, que comercializava gêneros alimentícios e outros produtos vindos de várias regiões do Rio Grande do Sul e até de outros estados.

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Um pouco mais adiante, em direção ao Centro, o Arroio Jucuri ainda era uma sanga não canalizada e nela eram lavados os couros de um curtume. “Não sei quais produtos eram usados no processo, mas eram muito fortes. As mulheres que trabalhavam ficavam com alergias na pele, e o cheiro era insuportável nas casas do entorno”, lembra Traudi.

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Por esse mesmo curso de água vinham as enchentes do Rio Pardinho, que, segundo a aposentada, aconteciam entre dezembro e janeiro e provocavam inúmeros prejuízos na região. “Quando a água baixava, tudo ficava coberto pelo lodo. Na avenida, que era de chão batido, quase não dava para transitar.”

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Quando as atuais referências ainda não existiam

Quem transita pela atual Avenida Independência não tarda a perceber seus vários pontos de referência. Logo no início da via, após a Igreja Evangélica, está a praça Hardy Elmiro Martin, inaugurada em 8 de setembro de 1922, juntamente com a nova avenida, e que na época foi batizada de Praça Independência. Na quadra seguinte, onde está hoje a Escola Ernesto Alves de Oliveira de um lado e o Parque da Oktoberfest do outro, não existiam construções, lembra Traudi. “Havia plátanos dos dois lados da rua. No lugar da escola e da vila militar era um descampado, onde se instalavam os circos e também os grupos de ciganos.”

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Igreja Evangélica Luterana localiza-se praticamente no início da avenida, no Centro | Foto: Divulgação

O Parque da Oktoberfest, da mesma forma, não existia e o espaço não possuía construções e outras infraestruturas; era apenas um campo vazio. “No lugar do Ginásio Poliesportivo, formava-se uma piscina quando chovia muito. As pessoas iam até lá para tomar banho quando estava calor”, diz a aposentada. Do outro lado da Rua Coronel Oscar Jost ficavam várias casas cedidas aos trabalhadores da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), que formavam uma espécie de vila. “O meu tio Adão inclusive morava ali. Depois chegaram alguns gringos, a família Rossa, e também se instalaram nas redondezas”, completa.

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Junto à rotatória do 2001, outro ponto importante, ficava na década de 1960 o primeiro estabelecimento que fornecia refeições às grandes empresas de Santa Cruz, como as fumageiras e a Metalúrgica Mor, entre outras. No lugar do atual posto de combustíveis havia um cinema ao ar livre, pertencente a Gilberto Meinhardt e que fazia a alegria das crianças. “Era uma estrutura simples, um tecido branco que ficava preso a uma estrutura. Um dia veio um vento e derrubou tudo por cima da gente”, lembra.

Após o Cemitério Municipal, em direção a Rio Pardinho, havia só campos e vegetação nativa. No campus da Unisc ficava a chamada Chácara dos Meinhardt, e sua única estrutura visível da Avenida Independência, conforme Traudi, era um grande salão de bailes construído sobre uma elevação no terreno. No trecho final, já próximo à RSC-287, ficava a Escola Normal Rural Murilo Braga de Carvalho, inaugurada em 1952. A instituição era uma referência e recebia alunos de diversas partes do Estado. “Às vezes, minha mãe alugava os quartos da casa como uma pensão para as meninas que vinham estudar. Eu mexia nas coisas delas e por isso não gostavam de mim”, recorda Traudi.

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Desenvolvimento foi impulsionado pela Unisc

Com o passar do tempo e a expansão urbana, a cidade foi avançando aos poucos em direção ao Norte. Mesmo com o crescimento do Bairro Avenida e a posterior formação do Bairro Independência, a região ainda era pouco desenvolvida de maneira geral. Essa realidade começou a mudar em meados da década de 1980, quando foram construídos os primeiros blocos do futuro campus da Unisc. A instituição só seria fundada, de fato, em 1993, mas antes disso os acadêmicos que estudavam no prédio da Faculdades Integradas de Santa Cruz (Fisc), em frente ao Ginásio Poliesportivo, começaram a ser deslocados para a nova área.

A Independência desemboca na RSC-287, e, a partir de lá, do outro lado, na rodovia que conduz a Sinimbu | Foto: Bruno Pedry

Conforme recordou em outra oportunidade o professor Elenor José Schneider, que fez parte de todo esse processo, a escolha do local não agradou à comunidade santa-cruzense da época. O desagrado se dava tanto pela distância em relação ao Centro como pela infraestrutura precária do bairro, conhecido como Vila São Luiz antes de ser denominado Universitário.

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“Eram muitas críticas. ‘O que querem lá naquele descampado’, diziam alguns.” Apesar da descrença de muitos, a universidade prosperou e alavancou o desenvolvimento de toda a região. Junto dos inúmeros moradores, surgiram também os estabelecimentos comerciais para atender à crescente demanda.

Com milhares de novas residências, moradores e um número cada vez maior de alunos na Unisc, a Avenida Independência tornou-se ainda mais importante para Santa Cruz e passou a atrair mais interessados, seja para morar ou mesmo para empreender. Atento a esse crescimento, o empresário Celso Müller escolheu a avenida para ser a sede da primeira filial de sua rede de supermercados, em 2005. Hoje, 17 anos depois, o Supermercado Miller da Independência está consolidado como um dos principais pontos comerciais da via e também uma referência para aqueles que transitam por ela pela primeira vez.

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A Paróquia Ressurreição também está localizada na via. A comunidade foi fundada em 24 de setembro de 1960 e a igreja foi erguida em 1963, em frente ao portão do Cemitério Municipal. Atualmente, o prédio encontra-se em reforma e a paróquia conta com ampla infraestrutura, como salão comunitário e secretaria, entre outros. Logo ao lado, destacam-se as capelas funerárias e um condomínio de apartamentos composto por duas grandes torres.

Apesar da expressiva evolução que a avenida teve nas últimas três décadas, o futuro parece ser igualmente promissor. Ao transitar pelo trecho, não é necessário um olhar muito atento para perceber o grande número de novas obras previstas ou mesmo já iniciadas.

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No trecho final, próximo ao entroncamento com a RSC-287, há um loteamento pronto e outro em construção, empreendimentos que indicam que a Avenida Independência ainda tem potencial para crescer. Assim, da mesma forma, a infraestrutura da via deve demandar investimentos públicos no futuro para garantir a trafegabilidade e a segurança.

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