Com as novas regras do auxílio emergencial, o número de pessoas que recebem o benefício do governo federal caiu cerca de 45% em Santa Cruz do Sul. Enquanto ao longo do ano passado o programa alcançou 27,4 mil pessoas no município, este ano 15,1 mil foram contempladas até agora. Conforme dados do Ministério da Cidadania, do total de beneficiários em Santa Cruz, mais da metade recebe R$ 150,00, a menor faixa prevista no programa, destinada a pessoas que moram sozinhas. Pouco menos de um terço corresponde a famílias em geral, que têm direito a R$ 250,00, e o menor volume envolve famílias chefiadas por mulheres, que recebem R$ 375,00.
Concebido para mitigar a perda de renda da população em função da pandemia, o auxílio foi pago de abril a dezembro de 2020 e retornou em abril deste ano, porém mais restrito. O recebimento do benefício está agora limitado a uma pessoa por família – no ano passado, até duas pessoas do mesmo grupo familiar podiam ser contempladas. Em nota, o ministério alegou que busca alcançar “as famílias em situação de maior vulnerabilidade, assegurando uma renda mínima para essa parcela da população ao mesmo tempo em que, com responsabilidade fiscal, respeita-se o limite orçamentário estabelecido.”
Até o momento, considerando as três primeiras parcelas pagas (abril, maio e junho), cerca de R$ 9,5 milhões já foram liberados para Santa Cruz. No ano passado, o valor pago aos beneficiários era de R$ 600,00 e, em caso de mulheres chefes de família, R$ 1,2 mil. Já entre setembro e dezembro, os valores foram de R$ 300,00 e R$ 600,00. Com isso, foram repassados mais de R$ 114 milhões para o município. No início de julho, o presidente Jair Bolsonaro prorrogou
o programa por mais três meses – inicialmente, os pagamentos iriam apenas até agosto.
Publicidade
LEIA MAIS
Bolsonaro diz que vai manter auxílio emergencial se pandemia continuar
Caixa e WhatsApp fecham parceria para envio de mensagens sobre auxílio emergencial
“Está difícil pagar as contas em dia”
Para quem enfrenta dificuldade de se recolocar no mercado do trabalho em razão da crise gerada pela Covid-19, o auxílio emergencial, nos moldes adotados este ano, tem um impacto muito menor. Moradora do Bairro Schulz, Rosana da Silva, de 50 anos, passou a contar com o benefício do governo federal após o ateliê de costura onde trabalhava fechar por conta da retração na demanda no ano passado.
Com cinco filhos sob sua responsabilidade, ela está desempregada desde então. Além do auxílio, garante alguma renda com trabalhos de faxina e costura, que até então eram um complemento e se tornaram mais raros com o distanciamento social. E embora esteja à procura de um novo emprego com carteira assinada, ainda não teve sucesso. “Já larguei vários currículos, mas não me chamaram”, disse ela, que tem na baixa escolaridade um dos entraves para conseguir uma colocação.
Publicidade
No ano passado, Rosana recebia, na primeira etapa do programa federal, R$ 1,2 mil, por ser a única provedora do lar. Já este ano passou a receber apenas R$ 375,00. Com isso, embora a pandemia tenha desacelerado e haja sinais de reação na economia, sua situação particular é muito mais difícil do que no ano passado. “Está difícil pagar as contas em dia”, lamenta ela, que diz contar também com ajudas.
De acordo com o professor de Economia da Unisc, Silvio Arend, a redução no valor do auxílio emergencial tornou o benefício menos eficaz para o enfrentamento às dificuldades decorrentes da perda de renda, ainda mais com a alta no preço dos alimentos e de itens como combustíveis e gás de cozinha. Enquanto a maioria dos beneficiários recebe R$ 150,00, o custo da cesta básica em Santa Cruz chega a mais de R$ 500,00. “No ano passado, era possível que um casal recebesse R$ 600,00 cada, o que dava um salário mínimo. Não é muito, mas ajuda bem mais”, observa.
O quadro se torna ainda mais grave em função do desemprego, que atingiu nível recorde esse ano no país (14,2%). Embora não haja uma pesquisa em nível municipal, Santa Cruz não escapa a essa realidade, conforme Arend, ainda que o quadro seja amenizado pela demanda de trabalhadores temporários nas empresas de tabaco. “Tudo isso implica em menor poder de compra, tanto individualmente quanto na soma para o conjunto da população”, coloca.
Publicidade
LEIA MAIS
Governo quer Bolsa Família de, no mínimo, R$ 300,00
Caged: saldo na geração de emprego é positivo em todos os estados do país