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Aumento da produção reduz o preço pago ao agricultor

A tendência de supersafra agrícola este ano no Estado e no País não representará bolso cheio para os produtores rurais. Embora a produção de arroz, milho, soja e tabaco tenha aumentado nas lavouras gaúchas – favorecida pelo clima e por novas tecnologias –, os preços pagos aos agricultores não têm acompanhado esse crescimento. Pelo contrário: eles estão inferiores aos praticados no ano passado. 

Carro-chefe da economia da região, a safra de tabaco vive um momento completamente diferente do ano passado, quando a produção foi prejudicada por intempéries e a oferta acabou inferior à demanda. Segundo o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner, enquanto os produtores receberam em média R$ 10,07 pelo quilo do tabaco Virgínia em 2016, na safra atual o preço médio está em R$ 8,93. “Quando a oferta é maior, as empresas são mais rígidas na classificação. Mas a qualidade neste ano está muito próxima da do ano passado, não justifica a queda do valor”, comenta.

Segundo Werner, a produtividade está 26% maior que na safra 2015/2016. No entanto, ele explica que a produção não é tão superior se comparada a uma safra considerada normal, como a de 2014/2015. Nos três estados do Sul, a produtividade naquela safra foi de 2,3 toneladas por hectare (ton./ha). Na safra 2015/2016 ficou em  1,9 ton./ha, e agora a estimativa é de 2,4 ton./ha. O presidente da Afubra sugere que os produtores pressionem orientadores e empresas para obter um preço mais justo, a exemplo do que as entidades estariam fazendo.

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Média da variação de preços* (R$)

2016    2017
Soja        80,00 (saca)    58,00 (saca)
Milho        de 30 a 35,00 (saca)    de 18 a 25,00 (saca)
Arroz        de 38 a 40,00 (saca)    de 32 a 34,00 (saca)
Tabaco**        10,07 (quilo)    8,93 (quilo)

* Dados disponibilizados pelos sindicatos da região 
** Média do tipo Virgínia

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Preço do arroz não compensa custo da lavoura

O preço pago pelo arroz não condiz com o alto custo das lavouras, segundo o chefe do escritório da Emater de Rio Pardo, Matias Streck. “Deveria ser de R$ 46,00 para cima a saca de 50 quilos, para valer o investimento feito pelo produtor. No início do ano estava em R$ 46,00 e depois começou a baixar.”

Streck frisa que o baixo preço é mais um agravante para a situação de produtores da região que ficaram descapitalizados devido a enchentes nos dois últimos anos. Ele entende que o aumento da produção não compensa a queda no valor. “Preço ruim precisa de superprodução para compensar.” 

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 O chefe do escritório da Emater acrescenta que R$ 38,00 normalmente cobrem o custo de produção, mas não todas as necessidades do agricultor – como a de ter um maquinário em boas condições. Ele orienta os orizicultores a armazenar os grãos a fim de esperar melhor momento para venda.

O presidente do Sindicato Rural de Candelária, Mauro Flores, também sugere esperar. “Sabemos que alguns têm urgência por conta das despesas pendentes, mas recomendo que se venda o mínimo neste momento.” Flores ainda destaca a variação dos valores de uma safra para outra. “Os produtores estão recebendo entre R$ 32,00 e R$ 34,00 pelo saco de arroz nesta safra e, no ano passado, obtiveram entre R$ 38,00 e R$ 40,00. Já no milho, enquanto em 2016 foram pagos entre R$ 30,00 e R$ 35,00, neste ano os valores ficam entre R$ 18,00 e R$ 25,00.”

Venda de grãos tende a melhorar no segundo semestre

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O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Cruz do Sul, Renato Goerck, é mais otimista em relação às safras de soja e arroz. Para ele, a tendência é de que os preços melhorem no segundo semestre. “Os produtores que têm capacidade para estocar podem esperar até setembro”, sugere. Goerck também pensa positivo quanto ao fumo e acredita que, entre maio e junho, as empresas devam pagar melhor “para incentivar o fumicultor para a safra seguinte”. 
Com a possibilidade de venda antecipada, a soja deve assegurar melhores rendimentos aos produtores de grãos, segundo o presidente do Sindicato Rural de Rio Pardo, Ramiro Goulart Pereira Rêgo.

Segundo ele, nessa modalidade, a maioria dos agricultores conseguiu comercializar a metade da produção por R$ 70,00 o saco. Quem puder esperar para vender o restante a partir de agosto terá uma margem maior de lucro. “Contudo, essa não é a realidade de cerca de 90% dos produtores rio-pardenses, que precisam vender logo”, observa. A área plantada no município aumentou de 55 mil a 60 mil hectares para 60 mil a 65 mil hectares. 

O engenheiro agrônomo Felipe Piccin, da Cooperativa Agrícola Mista General Osório (Cotribá), de Rio Pardo, afirma que a área plantada aumentou e a produtividade também. No Vale do Rio Pardo, no ciclo anterior, a produtividade foi de 50 sacas por hectare e agora deve ficar em 54 ou 55. Já o preço, no último mês despencou de R$ 69,00 para R$ 58,00, devido à grande oferta e à baixa do dólar. A situação nos Estados Unidos também interfere: por lá, os estoques estão cheios do grão e a expectativa é de grande área plantada. Em abril de 2016, o sojicultor recebia R$ 80,00 pela saca de soja.

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O aumento da produção, de acordo com Piccin, não está compensando atualmente a queda no valor pago pela safra. “A rentabilidade das lavouras será menor do que na safra  2015/2016”, salientou. Ele explica que hoje o custo de produção médio equivale ao valor de 50 sacas por hectare, mas está se produzindo, em média, 55 sacas/hectare. “O ganho do produtor é muito baixo, o que inviabiliza maiores investimentos para a próxima safra”, salienta, acrescentando que os agricultores precisarão acessar crédito em banco ou cooperativa para o próximo plantio. Ele ainda recomenda aos produtores que aguardem maior valorização do grão.

Cautela

O presidente da Associação dos Produtores de Milho do RS, Cláudio Luiz de Jesus, observa que o preço desse grão, inferior a R$ 25,00, não estimula o produtor, mesmo que a colheita esteja acima da esperada. E, dependendo da tecnologia usada no cultivo, não compensa o investimento. O preço da saca de 60 quilos está em R$ 20,00. No ano passado, nesse mesmo período, estava em R$ 38,00/R$ 40,00. Conforme Jesus, o custo de produção de uma lavoura com tecnologia média fica entre R$ 1,8 mil e R$ 2 mil por hectare.

Esse investimento assegura a produção de 100 sacos por hectare. “Com o preço pago hoje ao produtor, ele não vê vantagem em plantar e só permanece na atividade porque está no negócio”, comentou. Segundo ele, há uma tendência de melhora do valor porque os consumidores estão procurando o grão. Porém, pode haver uma supersafra no Mato Grosso e Paraná, capaz de alterar a situação. Sua recomendação é que o agricultor tenha cautela. 

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