Polícia

ÁUDIO: delegado Luciano Menezes revela histórias inéditas em entrevista à Gazeta

Há quase sete anos como responsável pela Polícia Civil no Vale do Rio Pardo, o delegado Luciano Menezes, de 51 anos, coleciona histórias. Em longa entrevista concedida ao jornalista Ronaldo Falkenback no programa Estúdio Interativo, da Rádio Gazeta FM 107,9, Menezes falou sobre o trabalho realizado pela Polícia Civil no primeiro semestre deste ano, sobretudo em relação aos crimes de estelionato, que se multiplicaram desde a pandemia. Responsável por algumas das principais abordagens feitas na região ao longo de mais de 20 anos como agente, detalhou histórias inéditas na entrevista.

Em uma delas, revelou um diálogo, durante um interrogatório, que teve com um grande traficante que comanda a facção Os Manos em Santa Cruz do Sul. “Ele me disse, ‘seu Menezes, não sou bandido. Sou um homem de negócios. Vendo uma mercadoria que as pessoas querem comprar. Se eu não vender, outro venderá. Se o senhor está achando ruim comigo no comando, imagina se eu perder pra facção Bala na Cara, aí o senhor vai ver o derramamento de sangue’”, contou Menezes. Ele preferiu manter em sigilo o nome do traficante com quem teve a conversa.

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Em uma linha do tempo, detalhou o crescimento do tráfico de drogas na região. “Esse mercado da drogadição tem várias facetas. Quando apreendemos, em 14 de junho de 2012, 451 quilos de cocaína no interior de Candelária e desarticulamos o chamado Sindicato do Crime, comandando pelo ‘Sapo’, acenderam-se as luzes para esse mercado. A facção Os Manos veio e se instalou em Santa Cruz para tomar conta. Cooptaram alguns traficantes, mataram outros, como o ‘Tatu’ e o ‘Anão’, e se estabeleceram aqui pela força”, salientou.

Segundo ele, nesses últimos 10 anos, são mais de 70 homicídios relacionados a desajustes e vingança entre faccionados. “Temos um trabalho de inteligência dentro da Draco. Não estamos mais nas esquinas, biqueiras. Isso é trabalho da Brigada. Hoje nos concentramos em desarticular os caras que estão organizados e, com isso, temos grandes apreensões de drogas, muitos presos e processos com praticamente 100% de condenação. Nós vamos atrás do cabeça de chave.”

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Vítima não acreditava que havia caído em golpe

Sobre o primeiro semestre de 2022, o delegado regional Luciano Menezes, que atualmente também responde pela 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP), diz que assusta a quantidade de pessoas que vêm caindo em crimes de estelionato. “Desde o golpe dos nudes, em que os homens se apaixonam por ‘corpinhos’ que aparecem no Facebook, depois evolui a conversa até envio de fotos pornográficas e eventual extorsão. Outro que acontece muito é o do Pix: alguém se passa por familiar no WhatsApp, a partir de um espelhamento do aplicativo, e pede dinheiro”, explicou.

De acordo com Menezes, a maioria dos autores dos crimes virtuais de estelionato está dentro dos presídios. “Em interrogatórios, eles nos revelam que de cada dez tentativas, sete a oito pessoas caem.” Sobre o antigo golpe do bilhete, o delegado regional revelou algumas peculiaridades. “Ninguém sabe explicar o porquê, mas todos os autores desse crime por aqui são de Passo Fundo. Parece que lá tem uma faculdade do conto do bilhete. Na maioria, as vítimas são mulheres que nasceram entre os anos de 1940 e 1950”, disse ele.

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“Lembro de um que foi preso perto do Banrisul com roupa social e pasta. Tinha saído às 6 horas do semiaberto em Passo Fundo, pegou o carro, veio aqui e foi preso pelas 10 horas. Se ele consegue cometer o delito, volta para dentro do presídio, e vou achar ele como? É aquilo que meu pai dizia, ‘olho grande é para juntar remela’. As pessoas ficam seduzidas pela perspectiva do lucro fácil.”

Menezes mencionou um caso que aconteceu há alguns anos. Agentes da Polícia Civil capturaram os autores de um golpe, explicaram a uma senhora que ela estava sendo vítima do conto do bilhete e, mesmo assim, a mulher não acreditava. “Ela dizia para os policiais: ‘vão embora, vocês estão estragando meu negócio’. A pessoa havia sido intoxicada pela lábia e pela perspectiva de trocar um pedaço de papel de R$ 1 milhão por R$ 50 mil que tinha na conta. Os criminosos se aproveitam do olho grande das pessoas”, enfatizou o delegado regional.

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“Não desconsidero a possibilidade”, diz Menezes sobre carreira política

Perguntado sobre quais crimes teriam um foco especial da Polícia Civil regional, Luciano Menezes salientou a importância de combater todos. Mas disse que um trabalho em relação aos feminicídios deve ser feito. No entanto, salientou que a prevenção total é difícil, pois muitas peculiaridades das relações acontecem dentro das residências, onde não há interferência dos policiais. “Quando somos procurados, encaminhamos as medidas protetivas, mas não há um policial para fiscalizar cada comportamento ou agressor de lar. E se fôssemos recolher todos, teríamos que quadruplicar o sistema carcerário.”

Menezes não fugiu da pergunta sobre o envolvimento dele com a política. Ao longo das últimas eleições, tem sempre o nome comentado como uma possibilidade de candidatura a prefeito de Santa Cruz. “Não é um sonho de consumo, mas não desconsidero a possibilidade. É uma evolução. Há três anos eu não tocava no assunto, hoje já penso. Não fecho porta para nada. O futuro a Deus pertence.”

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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