“Quando passava pela garagem me imaginava chegando com um dos ônibus, e hoje consegui, graças a Deus e ao apoio de muitas pessoas. Dirigir é o que gosto de fazer, nem sei mais ficar sem fazer isso”. A fala é da sobradinhense Simoni Batista da Silva, que completou 36 anos neste domingo, 30 de abril, atual moradora de Passa Sete e motorista de transporte coletivo intermunicipal.
Antes de migrar para a profissão sobre rodas, Simoni trabalhou como merendeira, auxiliar de limpeza, como funcionária em indústria de calçados e também na agricultura. Foi na fábrica da área calçadista que surgiu a oportunidade de trabalhar com transporte.
A habilitação para dirigir grandes veículos, como ônibus, já havia sido feita por Simoni, inspirada pelo marido Cirineu Joelson, que é motorista da área da Saúde em Passa Sete. “Como eu queria fazer alguma coisa diferente, resolvi fazer a carteira, pensando que algum dia poderia surgir algo como motorista. Na época foi algo sem muitas intenções, mas logo depois surgiu a primeira oportunidade em realizar o transporte para a fábrica de calçados em outro município. Foi então que abrimos nossa própria empresa, a CS Tur. Neste período eu trabalhava na fábrica e também fazia o transporte dos funcionários”, conta sobre a primeira experiência, quando começou a dirigir veículos de maior porte, há pouco mais de seis anos.
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Com algumas mudanças de rota, foi necessário se reinventar. “Trabalhei para alguns Municípios fazendo o transporte na área da Saúde. No início não sabia nem onde ficava o trevo de Cachoeira do Sul. Quando comecei foi muito difícil, mas meu marido e outros motoristas me auxiliaram. Não foi fácil, mas fui aprendendo”, relata, citando especialmente Porto Alegre e o vai e vem da capital gaúcha.
Mais uma vez a direção mudou, e o destino passou a ser Santa Maria, onde transportava militares para o Exército. A experiência por lá oportunizou tempo para que ela concluísse os estudos no Ensino Médio e realizasse cursos, após ter ficado quase duas décadas distante da sala de aula, onde havia concluído o Ensino Fundamental.
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Há alguns meses, Simoni ingressou na Viação União Santa Cruz, onde trabalha com a linha de transporte coletivo Arroio do Tigre – Santa Cruz do Sul, transportando estudantes e passageiros cheios de sonhos. Ela é, atualmente, a única mulher motorista na empresa. “Tenho muito orgulho. Quando chego nos lugares, nas rodoviárias, é um acontecimento. As pessoas ficam olhando, ‘uma mulher motorista’, pois ainda são poucas trabalhando no ramo, e eu sou de estatura pequena, então dizem ‘uma menina’. É um carinho tão bom que a gente recebe”, ressalta, salientando que, tal estranhamento, em alguns momentos no passado, já chegaram a ser motivo de fala como “além de ir com uma mulher, ainda grávida”, mas por outro lado, muitas pessoas a elogiando pela atenção e o cuidado.
Mãe de quatro filhos, Simoni passou a maior parte de suas gestações atrás do volante. Cirineu Eduardo, tem 9 anos, Stefany Karoliny, 6 anos, Alice Isabella, 3 anos, e Simony Eduarda, 1 ano e 7 meses. Em uma das ocasiões, durante uma viagem da área da Saúde, recorda que começou a sentir as contrações para o parto. O ‘fim da linha’, após cumprir o roteiro completo, foi no hospital, onde a filha Isabela nasceu.
Essa é uma ligação que se mantém. Os filhos, segundo Simoni, ficam encantados com a mãe sendo motorista de ônibus. “No primeiro dia eles correram para me ver passando com o ônibus lá no Passa Sete. Eles acham lindo, hoje ainda querem ir ver. Fico muito feliz de conseguir passar isso para eles, de terem orgulho da mãe. É muito bom”, salienta.
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A rotina hoje tem possibilitado a Simoni estar mais próxima dos filhos e revezar com o marido e a ‘tata’ os cuidados com os pequenos. “Costumo chegar tarde, eles já estão dormindo, mas ao longo do dia tenho a oportunidade de levar na creche, na escola, de estar junto. A menor mama no peito, então às vezes me espera acordada. A gente trabalha para poder mantê-los e oferecer o melhor. Muitas pessoas dizem ‘tu tem quatro filhos. Fica em casa’. Mas, como mulheres, também queremos ser independentes. Então, por mais que ame eles, preciso trabalhar. Também é por eles. Eles acabam entendendo. Sentem saudade, mas já entendem, sentem orgulho pelo meu esforço”, conta Simoni.
A motorista gosta de estar na estrada e, especialmente, do contato com as pessoas, de poder auxiliar uma mãe com criança ou um idoso a entrar e descer do ônibus. “Gosto disso, de ajudar. Luto todo dia para fazer o meu melhor. Cada dia que eu chego em casa e vejo que consegui fazer um pouquinho melhor que no dia anterior, fico satisfeita comigo mesma para então poder dar o meu melhor aos outros”, frisa.
Para Simoni, exercer o trabalho que realiza, só é possível com o suporte de outras pessoas, que também desenvolvem seus trabalhos e mostram a importância de todas as profissões para a vida em sociedade. “As professoras da creche, Josiane, a Geila, a Cris, a Daiana, e demais, são pessoas maravilhosas, que cuidam as crianças como se fossem seus filhos. Elas nasceram para isso, para ser professoras. São pessoas maravilhosas”, faz questão de ressaltar e assim lembrar a relevância do “trabalho em equipe”.
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