A Praça da Bandeira foi palco de um manifesto em busca do fortalecimento da educação antirracista neste sábado, 15. O momento foi uma forma de protesto contra o caso de injúria racial que ocorreu em uma escola de Santa Cruz do Sul na última semana. Por volta das 14h30, mais de 50 pessoas já estavam reunidas para repudiar o crime e ouvir relatos individuais de manifestantes.
Entre eles, o de Cláudia Regina da Silva, 45 anos, integrante do Movimento da Mulher Negra de Santa Cruz do Sul (Movine), que comandou o ato. “A gente precisa trazer essas histórias e vivências para a comunidade em momentos como este, por visibilidade, para as pessoas que não entendem que o racismo existe e está presente na nossa cidade”, disse.

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Além das falas, a reunião serviu para valorizar a arte e religiosidade de diversos segmentos que, muitas vezes, também são discriminados pela sociedade. Fiéis estiveram presentes com tambores e camisetas representando o Templo Escola de Umbanda Beira Mar, além de artistas do hip hop e da dança, que realizaram apresentações.
Além disso, foi reservado um momento para prestar homenagens aos professores presentes na manifestação. Eles foram levados para a frente do grupo e aplaudidos ao som de “Na sala de aula não há idade nem cor, por isso aceite e respeite o meu professor. Batam palmas para ele [x3] porque ele merece”, música de Leci Brandão, entitulada “Anjos da Guarda”.

Tânia Barros, 48 anos, trabalhadora da área da saúde, esteve na Praça desde o início. Ela é mãe, integra o Movine e busca, nestes momentos, que as vivências sejam expostas e resultem em mais respeito e atenção da população para casos de racismo. “Por tudo que eu passei, hoje eu ensino meus filhos a se cuidarem. ‘Vocês são de vila, pretos, pobres, vocês precisam se cuidar’. Uma professora negra foi ofendida, que estudou e é qualificada para estar lá. Precisamos de mudanças”, falou.
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Quem também esteve no ato foi a própria professora vítima do crime em sala de aula, que não será identificada por proteção dos menores de idade envolvidos no ocorrido. “Estou cansada de me sentir diminuída. Senti pelo meu aluno negro e por mim. Situações como essa devem ser tratadas com seriedade, envolvendo a coordenação pedagógica e, se necessário, órgãos responsáveis pela proteção dos direitos da criança e do adolescente”, revelou.
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Em busca da educação antirracista
Ao longo das manifestações, também foi ressaltada a importância de ações que combatem os crimes de racismo e injúria racial. Uma das formas é que sejam realizadas ações dentro das escolas, na inclusão da educação antirracista na rotina e ao trabalhar a autoestima dos estudantes pretos desde os primeiros anos.
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É o que a professora Marilene Marlise da Silva, 49 anos, sempre tenta desenvolver dentro das salas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Menino Deus. “A gente trabalha muito mais voltada para o protagonismo negro do que aquela velha história da escravização. E também trazer essa parte do continente africano, que é o berço da humanidade”, conta.
No microfone em frente ao público, ela reforçou a importância de chamar o caso que aconteceu na escola como ele é: um crime.
No mesmo sentido, pensa a professora que vivenciou a situação: “É preciso criar espaços de diálogo, abordar a diversidade nas aulas e promover atividades que desconstruam estereótipos. Precisamos ensinar e valorizar a cultura negra, que constituiu a história do nosso país”, explicou.
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Professora relembra o caso
A ocorrência policial por injúria racial foi registrada nesta semana em Santa Cruz do Sul. O caso ocorreu na sala de aula, quando uma aluna de quatro anos disse para um colega que não poderia encostar nele e na professora por causa da cor da pele.
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As palavras criminosas foram reforçadas pela mãe da criança, segundo relatado pela professora. “A mãe da criança chegou e relatei para ela o que havia acontecido. Ela disse ‘profe, já falei pra ela que a raça de vocês é bagaceira’. Nessa hora eu fiquei muito abalada. Fiquei triste, meu coração começou a bater mais forte. Depois deste episódio, chorei muito”, disse em entrevista exclusiva ao Portal Gaz.
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A mãe da vítima realizou a denúncia na delegacia. Já a professora, está amparada por uma advogada especialista em legislação antirracista e analisa o caso. A mãe da criança que realizou a fala foi contatada pela reportagem na quinta-feira e prefere não se manifestar por enquanto. O espaço segue aberto.
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