Mapas e suas descrições são apaixonantes. O que você sentiria ao encontrar no fundo falso de um baú o traçado com a localização da fonte das eternas águas revigorantes? Ou se, ao folhear livros antigos, por entre as páginas amareladas pelo tempo, você descobrisse uma folha arrancada, justamente aquela que demonstrava onde se situa a mítica “Atlântida”, de Platão? Quem sabe, ao subir por um córrego, lá no alto da serra, você fosse surpreendido por um desenho numa rocha que mostrasse o caminho que o conduzisse às civilizações ancestrais, jamais descobertas?
E se você desembarcasse em Marte e fosse o primeiro a esboçar in loco as feições que ali se apresentam? Ainda, se você pudesse estruturar as profundidades dos sentimentos e das vontades de todas as criaturas? Como entender o desenho dançante que as abelhas fazem acerca da localização das fontes de néctar? Conseguimos compreender o reconhecimento territorial que os animais fazem? Assim, se os humanos representam graficamente os territórios e suas relações, também as demais criaturas encontram seu jeito de os identificar.
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Por certo, os mapeamentos revelam o que se sabia e o que se imaginava nos diferentes períodos. Existem estudos sobre isso. Alguns autores se dedicaram a contar a história do mundo através dos mapas. Das tabuletas de argila, passando pelas inscrições rupestres nas rochas e pela oralidade passada de geração em geração acerca dos lugares, chegamos às projeções em planta em diferentes escalas e padrões. Mesmo em tempos de “Google Earth”, vale a frase de Brotton: “O mundo está sempre mudando, e o mesmo acontece com os mapas” (Brotton, Jerry. Uma história do mundo em doze mapas. Rio de Janeiro: Zahar, 2014, p. 23).
Mudança que Heráclito (535 a 475 a.C.) já percebera ao dizer que nunca nos banhamos no mesmo rio. O sábio grego tentava entender como um rio poderia fluir sempre com novas águas e o quanto nós mesmos mudamos. A ideia de fluxo constante foi revolucionária e nos desafia até hoje, quando sabemos que as interações fluidais nos asseguram incertezas e não verdades imutáveis.
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Como representar as interações fluidais no cenário das mudanças climáticas? Como apresentar a evolução e sua dinâmica, quando se sabe que tudo flui e nossos juízos de valores são relativos ao que herdamos, desenvolvemos, vivenciamos e conhecemos? Aliás, o que de fato conhecemos? Distribuir conteúdos em sistemas físico (geomorfologia, geologia, hídrico, climático); biológico (flora, fauna, fluxos gênicos, habitats) e socioambiental (ciclos ocupacionais, fundiário, pressões) será suficiente? É aceitável distinguir o mundo natural do construído? Como integrar o que se trabalha segmentadamente? Pode um Atlas revelar a realidade em movimento interativo?
Por certo, o generoso leitor que nos acompanha nessas reflexões terá suas respostas e, quem sabe, até novas e mais instigantes perguntas. Questionamentos que nos encaminham para a proposição de um Atlas Socioambiental de nossa cidade. Não um Atlas engessado no tempo, mas lançado para o futuro, sem desconhecer a dinamicidade da trajetória até aqui percorrida. Dinamicidade que nos remete transformatoriamente para o antes de uma nova calamidade do que propriamente para o pós do último desastre.
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Aliás, o que você perguntaria, em tempos de extremos climáticos, a Heráclito se o encontrasse observando o Rio Pardinho?
No dia 11 de setembro, às 16 horas, no Salão Nobre do Palacinho, o Conselho Socioambiental irá se debruçar sobre o “Valor hidrológico do Cinturão Verde”. A apresentação do tema será realizada pelo engenheiro ambiental e conselheiro Marcelo Kronbauer.
Há muito por fazer, mas estamos coletivamente a caminho. Cada vez mais pessoas entusiasmadas se integram ao movimento de preservação e recuperação do Cinturão Verde no contexto de uma cidade socioambiental voltada para um futuro solidário, resiliente e transformador.
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