Neste dia 15 de novembro, feriado alusivo à Proclamação da República, vale lembrar, entre outros dizeres, o que afirmou Laurentino Gomes, autor de 1889, livro publicado em 2013 e que trata a respeito desse ato ocorrido naquela data e do sistema que implantou e que se estende aos dias atuais. Ele reproduz o que se nota ao nosso redor: “O quinze de novembro é uma data sem prestígio”, evidenciando que apenas se aproveita o feriado, sem maiores comemorações ou reflexões a respeito.
Para pelo menos trazer alguma avaliação sobre o assunto, sigo com o referido autor a esclarecer que “esta indiferença coletiva encontra explicações na forma como se processou a troca de regime (…). A República brasileira nasceu descolada das ruas”. Recorda que foi estabelecida por ação militar, comandada pelo Marechal Deodoro da Fonseca, depois o primeiro presidente, “com escassa e tardia participação das lideranças civis”. Assinala que “houve contradição e estranheza entre as promessas e a prática republicana”, e que, “derrubada a Monarquia, o sonho de liberdade e ampliação dos direitos rapidamente se dissipou”.
Isso porque, como prossegue, “em alguns anos, o País estava mergulhado na ditadura sob o comando de Floriano Peixoto, o “Marechal de Ferro”, e a devolução do poder aos civis, com Prudente de Moraes e Campos Salles, terceiro e quarto presidentes, “não o aproximou das ruas (…), quem mandava era a mesma aristocracia rural da época da Monarquia” (…), o antigo sistema do toma lá dá cá, inaugurado na chegada da corte ao Brasil, mediante a troca de privilégios nos negócios públicos, por apoio ao governo, manteve-se inabalável”, entre outros aspectos. E ainda dizia que assim permanecia pelos cem anos seguintes, marcados por diversas rupturas democráticas, até enxergar algum alento no recente mais longo e continuado exercício da democracia, com o povo incorporado na construção do seu futuro, um permanente desafio.
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Nesta hora, ainda é oportuno pensar sobre o que é “ser republicano”, palavra muito usada, mas pouco aprofundada. Para tanto, recorro ao que disse o historiador José Murilo de Carvalho, em 2009, sublinhando que “ser republicano é crer na igualdade civil de todos, sem distinção de qualquer natureza, rejeitar privilégios (…), repudiar práticas patrimonialistas, clientelistas, familiaristas, paternalistas, nepotistas, coporativistas”. Citava afirmação feita já em 1663 pelo jesuíta Simão de Vasconcelos, que atuava no País no Período Colonial: “Nenhum homem nesta terra é repúblico, nem vela nem trata do bem comum, senão cada um do seu particular”, revelando que o problema é antigo.
Para saber melhor o que é “repúblico”, ou “republicano”, vale sempre recorrer ao nosso “Aurelião”, segundo o qual é “aquele que se interessa pelo bem comum” e que a República (do latim res publica, coisa pública) diz respeito à organização com “vista a servir à coisa pública, o interesse comum”. Neste dia dedicado à República, que pouco se comemora, a não ser pela fruição do feriado, mas que em nossas cidades inclusive tem referências nos nomes de suas principais ruas, é preciso pelo menos refletir um pouco a respeito e renovar os ideais que fundamentam esse sistema.
Por certo, isso haverá de contribuir para que possamos ser cidadãos cada vez mais conscientes e responsáveis em nossa participação na manutenção e aperfeiçoamento da democracia, que pode ser difícil de ser exercida, como é complexo o ser humano, mas se coloca como a melhor opção de cada um continuar a expressar sua vontade e interferir no andar dos assuntos públicos.
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