As rodovias RSC-153 e RSC-471, vitais para o escoamento da produção gaúcha, especialmente no Vale do Rio Pardo, foram concebidas com o propósito de encurtar distâncias e agilizar o transporte de cargas entre o Norte e o Sul do Rio Grande do Sul, conectando diretamente à importante saída marítima do Porto de Rio Grande. No entanto, desde sua inauguração, enfrentam sérios problemas de manutenção e conservação. Nos últimos anos, a Gazeta do Sul tem informado com frequência sobre os desafios enfrentados por essas vias, divulgando as queixas contínuas de motoristas e moradores.
A falta de investimentos em infraestrutura tem sido um ponto constante, refletido nas páginas do jornal. Ambas as estradas estão sob responsabilidade do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagens (Daer), órgão vinculado ao governo do Estado. Apesar da responsabilidade de realizar melhorias, os esforços têm se mostrado insuficientes para manter as rodovias em condições adequadas. Nesta reportagem, vamos mostrar as atuais condições da RSC-153 e da RSC-471, ouvindo não apenas os relatos dos cidadãos afetados, mas também autoridades locais, representantes de entidades civis, deputados estaduais e o próprio Daer. É fundamental destacar a importância estratégica dessas rodovias para o desenvolvimento econômico e social do Rio Grande do Sul.
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Antes denominada RSC-471, devido à sua conexão com o trecho sul que se estende a partir de Pantano Grande, a rodovia RSC-153 foi inaugurada em 15 de dezembro de 2010, junto com a ERS-412. Essas vias compõem o eixo norte do corredor da exportação, conectando-se à BR-471 em Santa Cruz do Sul.
Com extensão de 111,6 quilômetros, a 153 atravessa de Soledade até Vera Cruz, onde se conecta ao viaduto que cruza a RSC-287. A obra, inaugurada pela então governadora Yeda Crusius, foi celebrada como uma das maiores das últimas décadas na malha rodoviária estadual e demandou um investimento total de R$ 466 milhões.
Diariamente, aproximadamente 1,5 mil veículos trafegam pela via. Nos últimos anos, a RSC-153 tem sido motivo de queixas dos motoristas devido à falta de manutenção e conservação. Na terça-feira, a Gazeta do Sul percorreu o trajeto e identificou vários problemas, incluindo desnivelamentos na pista, buracos, ausência de sinalização adequada e marcas da recente enchente, com terra de deslizamentos sobre a via.
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Percorrendo esse caminho, logo se percebe a falta de sinalização na faixa de rodagem. Grande parte dela não conta mais com as linhas longitudinais que indicam os lugares proibidos para ultrapassagem; mudança de pista; o centro da via e as margens viárias, entre a estrada e o acostamento.
O problema se torna mais grave à noite ou em dias de forte cerração, já que também não há tachas refletivas na pista – conhecidas como olhos de gato –, que servem para reforçar a sinalização horizontal para orientar o motorista a se manter na faixa correta. Placas informativas também são escassas.
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Nas margens da estrada, é possível observar uma vegetação alta, em grande parte queimada devido às geadas recentes. Alguns guardrails estão danificados em decorrência de acidentes envolvendo carretas. Essenciais para a segurança, essas estruturas não foram reparadas após os incidentes.
Em maio, fortes chuvas causaram deslizamentos de encostas ao longo da RSC-153, resultando em bloqueios temporários. Em trecho próximo a Alto Formosa, em Vale do Sol, a terra continua sobre a via, sem sinalização adequada. Durante o pico da enchente, as prefeituras de Herveiras, Vale do Sol e Vera Cruz mobilizaram máquinas para desobstruir a rodovia, tornando-a uma das poucas acessíveis, enquanto outras rotas, incluindo a RSC-287, permaneciam bloqueadas ou severamente danificadas pelas águas.
Além dos desafios mencionados, buracos ao longo de toda a extensão têm forçado motoristas, especialmente de carretas, a desviar para a pista contrária a fim de evitar danos. Embora alguns pontos tenham recebido reparos, áreas críticas, como próximo ao trevo de Gramado Xavier, apresentam asfalto esfarelado, sem nenhuma sinalização, inclusive com acúmulo de água na pista em dias de chuva.
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Na sequência do caminho da exportação, antes de se chegar à RSC-471, os motoristas passam pela BR-471, rodovia federal. No trecho de Rio Pardo, nesta semana, estavam ocorrendo obras na pista. Por essa razão, os condutores enfrentaram o pare e siga em três pontos.
A RSC-471 também está sob administração do Daer, assim como a RSC-153. Ela vem sendo motivo de queixas de quem transita com frequência pelo trecho de 48 quilômetros entre os municípios de Pantano Grande e Encruzilhada do Sul. O trajeto apresenta velhos problemas e, na maioria das vezes, nos mesmos pontos.
A inauguração do último trecho do eixo sul da 471 foi em 16 de dezembro de 2008, na área conhecida como variante ambiental, interior de Encruzilhada do Sul. Esse era o ponto que ainda estava incompleto na rodovia, que se estende até o viaduto de entroncamento com a BR-392, em Canguçu.
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Nessa rodovia, a equipe da Gazeta do Sul percorreu o trecho na última quarta-feira. É possível observar que a via entre os dois municípios do Vale do Rio Pardo recebeu o serviço de tapa-buracos. São diversas as marcas no chão, algumas não feitas corretamente, formando desníveis. No entanto, mais problemas surgem na medida em que o trânsito de veículos se intensifica.
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As principais reclamações dos usuários da rodovia estadual referem-se à precariedade do asfalto em alguns pontos, ondulações na pista, falta de sinalização e inexistência de acostamento.
A primeira situação mais crítica encontrada está entre o trevo de acesso a Pantano Grande, a partir da BR-290, e a região de Monte Castelo. Pelo trecho, buracos que não foram cobertos e desníveis são um perigo. Além disso, não há acostamento e a vegetação lateral encobre as poucas placas.
Chegando em Encruzilhada do Sul, a rodovia apresenta trechos em boas condições, mas somente até o trevo de acesso. Após passar por esse local, em direção ao Sul do Estado, no entroncamento da RSC-471 com a ERS-350, os buracos tornam-se um desafio novamente.
A buraqueira na RSC-471 se intensifica no trecho a partir da empresa Rohden. Por ali, rachaduras e a degradação no asfalto chamam a atenção, sendo mais um desafio para motoristas que utilizam diariamente a rodovia.
Sobre a pista
Estacionados sobre a via, por não haver acostamento, estavam os caminhões dos motoristas catarinenses Edson Ezequiel Rodrigues e Fabiano Candido Pereira, ambos com 36 anos. Um dos veículos da empresa de cerâmica teve pane elétrica, e as duas carretas tiveram que parar sobre uma das pistas por não haver local adequado. Eles aguardavam o socorro para consertar o caminhão; enquanto isso, estavam sentados na sombra e cozinhando a refeição do dia, em uma cozinha improvisada na lateral da carreta.
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O motorista Edson, natural da cidade de Morro da Fumaça, queixou-se das condições da 153. “É muito buraco. A gente passa com frequência pela estrada e isso acaba estragando os caminhões. Um colega nosso recentemente teve os freios da carreta arrebentados ao passar por aqui.” A falta de estrutura também foi observada. “Tive que usar galhos para improvisar uma sinalização para alertar os outros motoristas, pois não tem um bom acostamento. Falta um serviço de atendimento ao usuário, com equipes para auxiliar quem precisa de ajuda”, sugere Edson.
Um dos pontos de ajuda é em uma borracharia na localidade de Pinhal Santo Antônio. Por lá, Marcos Roberto Elesbão, 42 anos, atende há quatro anos cidadãos que tiveram o pneu do veículo danificado na 153. “Presenciei vários acidentes e resgatei pessoas que ficaram empenhadas na rodovia. A estrada está muito feia. Eles [Daer] até fazem tapa-buraco, mas os problemas continuam”, reclama. O borracheiro conta que todo dia aparece gente com problema no veículo. Além disso, uma das maiores queixas que escuta dos motoristas é a falta de sinalização. “Se pintassem as faixas que ficam no asfalto, ajudaria a salvar muitas vidas.”
Problemas ocorrem com frequência na rodovia
Trafegando quase diariamente pela RSC-471, o motorista Jefferson Regert, 28 anos, lamenta as condições que a rodovia apresenta. “Nesses três anos em que sou caminhoneiro, essa estrada está a mesma coisa, sempre com buracos. Eles [Daer] arrumam os problemas, mas em poucos dias já volta a ser como antes.”
Natural de Mato Leitão, Regert transporta cargas até Rio Grande. “Já vi alguns acidentes de colegas de estrada que, ao bater em um buraco, saíram da pista e tiveram o caminhão tombado. Acredito que essa estrada poderia estar bem melhor.”
Quem também acompanha de perto a situação precária da rodovia é o borracheiro Guilherme Wasielewski, 26 anos. “São muitos carros que chegam aqui com pneu furado, rasgado ou estourado por terem passado por um buraco. Alguns eu preciso ir socorrer na via”, comenta.