“Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.” Pois é. O mundo anda tão maluco que sequer se pode confiar nos ditados, que mudam a cada dia. Prova disso é a repetição do quadro devastador que atingiu mais de cem municípios gaúchos no último final de semana. Em dois dias – na sexta-feira e no sábado – foram despejados milhões de litros d’água que atingiram principalmente as comunidades do Vale do Taquari. As cidades mal conseguiram iniciar os trabalhos de recuperação da tragédia de setembro. Naquele episódio foram mais de 50 vidas. As cicatrizes continuam expostas, e a população foi atingida por uma nova tragédia.

Sou natural de Arroio do Meio, cidade devastada mais uma vez. Por milagre, o município não registrou vítimas fatais na enchente ocorrida há três meses. Estive na minha terra natal somente uma vez desde a devastação anterior. Confesso que o clima é o pior possível. Nota-se um sentimento que mistura desolação, revolta e desânimo diante do ocorrido. Com a repetição do fenômeno do final semana, o final de ano será de depressão ao invés dos ruidosos reencontros entre famílias e amigos.

A indignação, como sempre, tem como alvo a morosidade imposta pela burocracia oficial. Por outro lado, é compreensível que os órgãos públicos – estaduais e federais – imponham medidas de segurança para assegurar a correta aplicação do dinheiro público enviado às comunidades. Em alguns casos, no entanto, os atingidos pelas enchentes argumentam que há exageros nas exigências, através de detalhamento desnecessário.

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Os empresários, em especial os pequenos empreendedores, não possuem recursos para realizar reformas estruturais nas lojas e empresas, muitas delas totalmente destruídas pela força das águas. Eles também não dispõem de capital para a aquisição de insumos e mercadorias necessárias para reabrir os negócios. O desafio, com a repetição do fenômeno do final de semana, se mantém. Enquanto isso, os boletos mensais se acumulam, gerando desespero, apesar do esforço diário para viabilizar a retomada das atividades.

O Vale do Taquari também está indignado com a demora na implementação de mecanismo de alerta para prevenir enchentes. Isso inclui a instalação de sirenes, entre outras estruturas de advertência. Prefeitos, em especial, argumentam que o modelo adotado em Santa Catarina deveria ser implantado com maior agilidade. Em 1983, Blumenau foi destruída por uma enchente histórica. De lá para cá, o uso de tecnologia foi responsável por soluções que serviram de modelo para diversos Estados, inclusive para outros países.

Lama, falta de energia elétrica e internet, destruição de patrimônios construídos ao longo de uma vida inteira, perda de vidas e sonhos. Até quando?

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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