Houve uma época no Brasil em que punir alguém por opinar era bem mais que uma possibilidade. Podia dar prisão, ou até exílio. Tão logo esse período terminou, veio o oposto – falar o que se pensava virou um valor e foram criados conselhos disso ou daquilo, ampliando os espaços de participação. Hoje vivemos novamente um “surto” de opinião, de uma quase guerra de argumentos, mas o cenário é diferente. Se no pós-ditadura queríamos estimular a troca de ideias, nem que fosse para confirmar que vivíamos novamente a liberdade, agora falamos no público ou no privado mais para impormos nossas convicções. Mesmo que muitas vezes elas venham de outras pessoas ou que até resultem de raciocínios “esquisitos”, para dizer o mínimo.
Não é novidade para ninguém, até porque quase ninguém escapa: há hoje um bombardeio de textos e vídeos contra ou a favor do Lula, contra ou a favor do Moro, contra ou a favor do Temer, e por aí vai. Quase ao ponto de desafiar nossa capacidade de julgamento. Em meio a isso, uma que outra voz surge perguntando que tipo de futuro nos aguarda, uma vez que a situação atual é de aparente desagregação. Seremos uma nação de pessoas em trincheiras diferentes ou haverá um momento de encontro, ou pelo menos de apaziguamento.
Se nos cabe fazer alguma previsão que seja mais consistente que um palpite, ela precisa se basear mais no “mundo real” – ou se preferir, no mundo cotidiano – do que nos espaços de opinião. Porque no mundo real, independente do que pensamos sobre política e quetais, é preciso conviver. As pessoas que vociferam na internet, nas redes sociais, nos softwares de trocas de mensagens, não podem abrir mão do dia a dia com outros que pensam diferente. Há uma interdependência, às vezes até uma dependência… A vida ficaria insustentável se nosso parâmetro único fosse o lado em que este ou aquele se coloca nas atuais polêmicas nacionais. Ou melhor dizendo, todos temos mais o que fazer do que ficar discutindo, às vezes de forma vazia, situações em que nossa chance de influenciar é quase nula. Em algum momento é preciso deixar essas coisas de lado e ir tratar da vida.
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Portanto, não considero que o País vá pegar fogo nos próximos meses, ou que haja uma grande movimentação social além daquela que se pode esperar de uma disputa eleitoral que se avizinha. Nem que essa disputa venha a ser mais acirrada do que as anteriores. Ao contrário de quem acredita em uma quase guerra a partir de certas decisões judiciais, saídas de Curitiba ou de Porto Alegre, penso que a realidade do cotidiano vai se impor. Cada um vai se empenhar para fazer algo no seu círculo de influência, até onde sua mão alcança, deixando as opiniões enraivecidas para o espaço virtual. De onde não deveriam jamais sair.
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