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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Até 2023, Brasil vai se tornar o país em que mais entram cigarros contrabandeados

Pátio da Receita Federal de Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul, está no limite de sua capacidade em razão das dezenas de caminhões e carretas apreendidas com cigarros estacionadas por ali

No pátio da Receita Federal de Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul, há dezenas de carretas e caminhões com caçambas apinhadas de cigarros de marcas paraguaias estacionados. São cargas interceptadas pelos órgãos de repressão desde os últimos meses do ano passado, à espera dos trâmites legais para que os maços sejam destruídos e os veículos encaminhados para leilão. “Vai começar a faltar espaço”, conta um agente. “Só esse ano apreendemos 30 cargas. Está aumentando muito.”

Dados oficiais confirmam a percepção: apesar dos esforços do poder público, o contrabando de cigarros segue crescendo no Brasil. Segundo um relatório da Receita, o valor apreendido passou de pouco mais de R$ 700 milhões em 2015 para mais de R$ 1,3 bilhão em 2018. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Inteligência (Ibope) apontou que 57% dos cigarros consumidos no País em 2019 tinham origem ilegal, produzidos no Paraguai (a esmagadora maioria) ou em fábricas clandestinas dentro do território nacional. Além disso, a participação do contrabando no mercado, que era de 54% em 2018, deve chegar a 60% em 2020.

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Para piorar, segundo projeções da empresa Kantar, o Brasil, que ostenta o titulo de segundo maior produtor e principal exportador de tabaco do planeta, muito em breve vai se tornar o líder mundial em penetração de cigarros ilegais – superando a Malásia, que atualmente está no topo do ranking. Isso deve acontecer até 2023. Tudo indica que a nova política cambial, que prevê o dólar em um patamar mais elevado a partir de agora, estimule o comércio irregular, já que, dentre os produtos contrabandeados, o cigarro é de longe o que oferece as maiores margens de lucro.

Informações como essas foram agrupadas no estudo “A economia do mercado ilegal de tabaco no Brasil” , apresentado há poucos dias pela Oxford Economics e anteriormente em um seminário da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em Brasília.

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A mesma pesquisa da Kantar indica que a fidelidade aos cigarros contrabandeados se multiplica. Em 2015, 2% dos consumidores eram fiéis à Gift e 11,8% eram fiéis à Eight – duas das três marcas mais consumidas no Brasil. No ano passado, esses índices saltaram para 7% e 16,2%, respectivamente. “O volume de cigarros legais vendidos no Brasil cai, em média, 8,5% ao ano desde 2013” explica o economista da Oxford, Marcos Casarin.

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As apreensões

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Quantidade de maços de cigarros apreendidos
2015 – 177,5 milhões
2016 – 199,6 milhões
2017 – 218,1 milhões
2018 – 276,3 milhões
2019 – 235,3 milhões

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Valores de cigarros apreendidos
2015 – R$ 702,4 milhões
2016 – R$ 910,2 milhões
2017 – R$ 1 bilhão
2018 – R$ 1,3 bilhão
2019 – R$ 1,1 bilhão
Fonte: Receita Federal

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Menos arrecadação
O estudo da Oxford Economics também relaciona os reflexos nefastos do contrabando em todos os aspectos da economia brasileira. O mais óbvio é a evasão fiscal, já que os cigarros paraguaios são introduzidos em território nacional de forma clandestina e não recolhem impostos. Desde 2009, o governo deixou de arrecadar nada menos que R$ 62,4 bilhões em razão das operações criminosas.

Menos empregos
Em fevereiro de 2016, a Souza Cruz fechou uma fábrica de cigarros em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, sob alegação de perdas em função da expansão desenfreada do contrabando. Na ocasião, 190 funcionários foram demitidos. O episódio ilustra o impacto do crime sobre a geração de empregos formais.

De acordo com o estudo, as cigarreiras legalizadas sustentam 25,9 mil postos de trabalho no País, incluindo 4 mil diretos e 16,6 mil indiretos (o que inclui os fumicultores). “A produção de cigarros requer a aquisição significativa de bens e serviços de terceiros, provenientes de todas as partes da economia. Esses terceiros, por sua vez, compram bens e serviços de seus próprios fornecedores, sustentando outras atividades econômicas em todo o Brasil. E os trabalhadores empregados nas fábricas de cigarros, bem como seus fornecedores, gastam o salário que ganham em bens e serviços, impulsionando ainda mais a atividade econômica no País”, observa Marcos Casarin.

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A expedição
Pelo segundo ano consecutivo, a Gazeta do Sul pegou a estrada para conhecer os meandros do comércio ilegal de cigarros em alguns dos pontos estratégicos da rota do crime no país. Ao todo, o jornalista Pedro Garcia e o fotojornalista Alencar da Rosa rodaram quase 2,5 mil quilômetros primeiro até Foz do Iguaçu, no Paraná – onde boa parte do fluxo de mercadorias contrabandeadas ingressa por via fluvial – e depois até o Mato Grosso do Sul, que nos últimos anos tornou-se a principal porta de entrada de cigarros contrabandeados por meio terrestre.

No caderno especial, encartado na edição da Gazeta do Sul dos dias 14 e 15 de março, além de relatar em detalhes o funcionamento do crime após tê-lo visto de perto, a equipe apresenta análises e dados atualizados sobre o problema, bem como as iniciativas governamentais para tentar conter o seu avanço. O projeto “Os caminhos do tabaco” conta com patrocínio da Prefeitura de Santa Cruz, Sinditabaco, Unisc e Afubra e apoio da City Car.

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