Era 25 de setembro de 2018 quando agentes da 3ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico (3ª DIN), do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), de Porto Alegre, cumpriram um mandado de busca e apreensão em um apartamento da Avenida do Imigrante, em Santa Cruz do Sul. Entre outros itens apreendidos estava um celular. Tanto o aparelho quanto o imóvel pertenciam a um investigado, Cássio Alves dos Santos, de 35 anos.
Os agentes mal sabiam que ali se iniciava uma das maiores investigações contra lavagem de dinheiro e organização criminosa já realizadas pela Polícia Civil gaúcha. Os desdobramentos da apuração do Denarc contra o tráfico ganharam a atenção da Delegacia de Polícia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro (DRLD). A partir das informações obtidas no celular, ao longo de cinco anos, alguns dos principais segredos da facção Os Manos foram descobertos pelos investigadores.
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Entre eles, que Santa Cruz era pilar central na atuação da organização criminosa, voltada a narcotráfico e homicídios, comandada por Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, de 40 anos, que cumpre pena na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. O material embasou uma denúncia de 108 páginas do Ministério Público (MP), que foi aceita na íntegra pela 2ª Vara Estadual de Processos e Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro, na última segunda-feira, 28.
Ao todo, 24 pessoas, entre elas Chapolin, Cássio Alves, o advogado Jean Severo e mais oito santa-cruzenses, foram denunciadas por crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro e receptação. A reportagem da Gazeta do Sul inicia, neste fim de semana, a série Astúcia, que irá detalhar os bastidores da investigação histórica.
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Pelas apurações das forças de segurança, consta que de 2017 até 1º de fevereiro deste ano, as 24 pessoas indiciadas pela Polícia Civil e denunciadas pelo MP teriam cometido crimes como porte, armazenamento e transporte de armas de fogo e munições; receptação, lavagem de dinheiro, descaminho de cigarros, jogos de azar, do bicho, e tráfico de drogas.
Segundo a denúncia, os membros da facção Os Manos constituíram e integraram organização criminosa, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com objetivo de obter vantagens de qualquer natureza. Nesse caso, o posto de liderança máxima é de Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, identificado também pelo apelido de Menino.
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Ele é o único no primeiro escalão da organização. Para exemplificar o fato, a polícia apurou um áudio enviado por Chapolin a Cássio Alves em 29 de junho de 2018, onde informa as funções de lideranças dentro da facção, especificando em quem pode confiar e quem se responsabiliza pelo quê. O segundo escalão, segundo a denúncia, seria formado pelos considerados “braços direitos”.
Nele se destacam os gerentes operacionais e financeiros, onde estão o santa-cruzense Cássio Alves dos Santos; um homem que tem o apelido de Tano; e o advogado Jean Severo, conhecido por atuar em julgamentos famosos, como os dos casos da Boate Kiss, Bernardo e Rafael. Ainda fazem parte desse escalão duas mulheres com quem Chapolin teve relacionamento, e uma santa-cruzense que já foi companheira de Cássio Alves. Ela atuaria na lavagem de dinheiro do tráfico em uma distribuidora de bebidas em Santa Cruz.
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No terceiro escalão, estariam subordinados que se responsabilizariam por atividades relacionadas ao comércio irregular de cigarros, jogo do bicho e jogos de azar. Enquanto no quarto escalão estão os traficantes de rua, considerados a “mão de obra da organização”. Eles se comunicavam com os integrantes do segundo e do terceiro níveis e obedeciam ordens.
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