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Assis, Itália: a mensagem viva de Francisco

Jorge Maria Bergoglio não esperava ser eleito papa. Jesuítas como ele consideram-se servos e, em geral, não almejam postos na hierarquia eclesiástica, resistindo até a se tornarem bispos e cardeais. Escolhido aos 76 anos, o argentino não havia sequer pensado em que nome usaria como pontífice. Encerrado o conclave, outro cardeal, Claudio Hummes, franciscano e gaúcho de Montenegro, aproximou-se de Bergoglio e, ao cumprimentá-lo, disse-lhe: “Não esqueça dos pobres”. Foi o sinal para que, pela primeira vez, um papa adotasse o nome do santo nativo de Assis.

Antes de invadir as vielas e praças medievais da pequena cidade na região italiana da Úmbria, a aproximação do monte Subásio, sobre o qual está situada, foi uma preparação do espírito para a atmosfera serena e singela legada pelo filho mais famoso do lugar. O patrono da Itália (com Santa Catarina de Siena) nasceu em Assis, em 1181, com o nome de Giovanni di Pietro di Bernardoni. Apelidado desde a infância de Francesco, era filho de uma família abastada, foi um adolescente extravagante, tornou-se soldado e, após ser feito prisioneiro, iniciou seu processo místico de conversão, renunciando aos bens materiais e recebendo visões divinas. Seguido e reverenciado por seu amor aos menos favorecidos e à natureza, fundou aos 27 anos a ordem religiosa dos franciscanos.

Um dos poucos benefícios da pandemia tem sido o de poder visitar alguns locais que, em períodos normais, estariam tomados por turistas, ou, no caso de Assis, peregrinos. Caminhando desde o pé da montanha, entrei na cidade com o cuidado de quem chega sem bater na casa de alguém. Não havia quase ninguém nas ruas e, ao ingressar na Basílica de São Francisco, construída no século 13, escutei um frade que, tomado de entusiasmo, dizia ao único fiel que ali estava: “Este é um dos lugares mais importantes da cristandade. É a apoteose do espírito humano”. Enquanto as paredes do piso superior contêm belos e exuberantes afrescos de Giotto sobre a vida do santo, a basílica inferior reflete mais o despojamento de Francisco, dando acesso à cripta onde está seu sarcófago. O corpo foi escondido durante séculos e revelado ao público somente em 1818.

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De acordo com a tradição cristã, em 1224 Francisco recebeu os estigmas – as cinco chagas de Cristo – em um êxtase religioso sobre o Monte Alverne (Monte della Verna, em italiano). Foi canonizado em 1228, menos de dois anos após sua morte e, além do rico legado de espiritualidade, deixou uma herança cultural, trazendo a vasta sabedoria e erudição dos mosteiros para fora das clausuras da Europa medieval. Na opinião de alguns especialistas, esse foi um dos catalisadores do Renascimento.

Outra filha da cidade, Chiara d’Offreducci, foi a primeira mulher a integrar a ordem franciscana. Santa Clara fundou com São Francisco o ramo feminino da ordem (Clarissas). A bela basílica que leva seu nome, também do século 13, guarda o corpo exposto da santa, assim como o enorme e icônico crucifixo sob o qual, em 1205, Francisco escutou o chamado divino para reformar a igreja: “Francisco, vai e repara minha casa que está em ruínas”.

Além de Francisco e Clara, há mais cinco santos em Assis, mas me chamou a atenção um jovem beatificado em 2020 que está sepultado na cidade. Carlo Acutis poderá ser declarado em breve um santo moderno. Nascido em Londres em 1991, de pais italianos, Carlo ficou conhecido pelo excepcional amor à Eucaristia e ao próximo. Especialista em informática e usuário ativo da internet, o jovem faleceu aos 15 anos e seu corpo, vestindo jeans, tênis e blusão de moletom, é exposto de tempos em tempos na Igreja de Santa Maria Maggiore.

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O poeta Dante Alighieri referia-se a São Francisco como “a luz que brilhou sobre o mundo”. Exaltando a criação, chamando todos os seres de irmãos e dedicando-se especialmente aos pobres, Francisco repelia a autoindulgência e o egocentrismo, algo que também vemos em pessoas com extraordinária  inteligência e talento que se inspiram em elevados ideais, além de si mesmos. Para citar apenas um exemplo, Johann Sebastian Bach, autor alemão da obra musical que demandou um sistema próprio de organização (BWV, Bach Werke Verzeichnis), escrevia no final de cada uma de suas 1128 composições: Soli Deo Gloria, latim para “Glória somente a Deus”.

Retornando ao primeiro pontífice sul-americano, Papa Francisco também está renovando o catolicismo, tornando a Igreja mais acessível, aberta ao diálogo e em contato próximo com problemas sociais e ambientais, sem abandonar a essência cristã. O trabalho é árduo, repleto de obstáculos e inimigos. Revela-se, porém, crucial em tempos de intolerância e conflito crescentes. Desejo a todos um fraterno e solidário Natal!

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