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Assim Vivemos anuncia retomada do festival de filmes inclusivos

Uma década depois, os santa-cruzenses terão novamente a oportunidade de apreciar o Festival Assim Vivemos, evento que destaca filmes que contam histórias de vidas, amores, dúvidas, aceitações e frustrações de pessoas com deficiência. A exibição de oito obras vai ocorrer nesta terça, 31, e quarta-feira, 1º, no Memorial da Unisc. A curadoria é da santa-cruzense Lara Pozzobon da Costa e do cineasta Gustavo Acioli.

Esta será a terceira exibição de obras na cidade; a primeira foi realizada em 2010 e a segunda em 2012, na Unisc. O evento propõe reflexão sobre a riqueza e a beleza da diversidade humana, como um lugar de propostas para a construção de uma sociedade mais diversa, compartilhada e interessante. Também estão envolvidos no projeto os irmãos de Lara, Graciela e Fernando.

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O Assim Vivemos teve a primeira edição em 2003, no Rio de Janeiro e em Brasília. O festival é realizado a cada dois anos, por meio de edital do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), de ambos os estados. Desde 2009, também ocorre em São Paulo. O Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência é o mais importante festival de cinema sobre o tema e foi o primeiro a disponibilizar o recurso da audiodescrição para pessoas cegas e de baixa visão no Brasil.

Um evento que tem como objetivo a inclusão

A ideia de criar um festival no país com o objetivo da inclusão surgiu em 2001, após Lara Pozzobon da Costa e Gustavo Acioli produzirem o filme chamado Cão Guia, que tem como personagem principal uma pessoa cega. Na época, Gustavo estava no curso de Cinema, na Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro. Lara foi produtora do curta-metragem do marido, e convenceu-o a colocar a irmã dela, Graciela Pozzobon, no filme, já que ela estava se formando em Artes Cênicas.

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Na obra, a irmã interpretou a personagem cega. “O filme nos deu um destaque inesperado. Era um filme de universidade que foi selecionado para festivais de todo o país. Minha irmã ganhou quatro prêmios de Melhor Atriz, em Gramado, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília”, relembra a produtora e educadora Lara.   
Conforme ela, na época, o filme teve tanta repercussão que eles foram convidados para participar de festival de filmes na Alemanha que tem como foco obras inclusivas, que destaquem pessoas com deficiência. “Quando participamos, tivemos a ideia de trazer o evento para o Brasil. Foi então que inscrevemos o projeto no edital do Centro Cultural Banco do Brasil, e fomos selecionados, e o trabalho foi ganhando forma.” 

Com o passar dos anos, surgiu a ideia de levar o Assim Vivemos para outras regiões, como Santa Cruz do Sul. “Em 2010 e 2012, conseguimos editais extras da Petrobras; então levei uma amostra de três dias para Santa Cruz. Na segunda vez, também levei o evento para Porto Alegre e Pelotas”, ressalta Lara.

Acioli, carioca, hoje radicado em Santa Cruz, é um dos curadores
Lara Pozzobon, santa-cruzense, idealizadora junto com Acioli

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Um marco cultural nas grandes cidades

O Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência tornou-se um marco cultural no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília – cidades em que o Assim Vivemos é realizado. Nestes locais, a estrutura do festival acontece sempre com duração de duas semanas, com sessões durante a tarde e à noite. Ao todo, o festival costuma contar com 30 filmes e espaço para quatro debates.

A seleção das obras que irão participar do festival é realizada por meio da plataforma FilmFreeway, um site para cineastas enviarem filmes para centenas de festivais de cinema em todo o mundo. “Neste site, escolhemos as obras que combinam com nosso evento, e, claro, que tenham destaque para pessoas deficientes”, explica Lara.

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Gustavo Acioli foi o produtor do primeiro Assim Vivemos; atualmente, ele realiza o trabalho de curadoria. “Faz 20 anos que, a cada dois anos, eu assisto cerca de 200 filmes sobre pessoas com deficiência para poder selecionar as obras que vão passar no festival. Isso é uma coisa que não só mudou minha vida, mas que começou a pautar ela.”

O último festival ocorreu em 2021. A realização da nova edição irá sofrer alteração no cronograma, já que houve atraso no lançamento do edital do Centro Cultural Banco do Brasil. “Envolve vários processos, como a tradução dos filmes, audiodescrição e legendas”, destaca a curadora Lara. Historicamente, o evento acontece em agosto, setembro e outubro.

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Como funciona a audiodescrição

A audiodescrição é um recurso de acessibilidade que traduz imagens em palavras, para melhorar o entendimento das pessoas com deficiência visual. Conhecido pela sigla AD, a ferramenta faz parte de eventos culturais, programas de televisão, palestras e aulas. O recurso foi usado pela primeira vez no Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência, em 2003, no Rio de Janeiro, com o pioneirismo absoluto das santa-cruzenses Lara e Graciela em sua implantação, algo amplamente reconhecido desde então, inclusive em teses acadêmicas.

Um ano depois, a ferramenta passou a ser obrigatória para descrição de voz em imagens na televisão. A determinação para uso da ferramenta também é exigida pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), desde 2014, para projetos audiovisuais financiados com recursos públicos que precisam ter legenda descritiva, audiodescrição e Língua Brasileira de Sinais (Libras).

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A audiodescrição pode ser gravada ou ao vivo. No caso de gravação, ela é inserida previamente, por meio de uma faixa adicionada, ao áudio original de um programa ou filme. Após, ocorre a mixagem, processo que combina o aúdio. Para o ao vivo, é inserida a fala de um roteirista entre os diálogos de uma obra.

Para a atriz e audiodescritora Graciela Pozzobon, o Assim Vivemos é um projeto pioneiro que abriu espaço para a reflexão profunda sobre as questões relativas às deficiências, sobre os anseios e desejos deste público. “Isso contribui significativamente na disruptura de pontos de vista preconceituosos e capacitistas. Foi onde aconteceu a primeira sessão com audiodescrição no Brasil, que deu início à implementação deste recurso de acessibilidade em outros projetos e ambientes, em todo o país. Eu me sinto muito feliz em fazer parte desta trajetória.”

Um trio santa-cruzense: a partir da esquerda, os irmãos Lara, Fernando e Graciela

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Como será o formato em Santa Cruz do Sul

O evento comemora 20 anos de existência e é um dos mais importantes festivais sobre o tema no mundo. Esta edição especial em Santa Cruz do Sul está sendo viabilizada pelo edital realizado pela Secretaria Municipal de Cultura, com recursos do Funcultura. Nos dois dias de mostra, serão apresentados oito filmes de seis países (Estados Unidos, Rússia, Espanha, Myanmar, Israel e Brasil), construindo um grande mosaico de realidades sociais e de abordagens da questão da deficiência.

Serão quatro sessões gratuitas, abertas ao público, no Memorial da Unisc. Para grupos que se interessem em participar, deve ser feito contato pelo número de telefone (51) 99018 5252. 

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Para o secretário de Cultura, Marcelo Corá,  o Festival Assim Vivemos tem o poder de sensibilizar e emocionar as pessoas que nele comparecem. “Levando através de filmes-curtas de diversos países histórias que tratam do direito das pessoas por inclusão, igualdade de oportunidades e acesso à cultura. A pasta colabora para que essa temática chegue a todos através de ações como essa.”

A realização do Assim Vivemos é da Prefeitura de Santa Cruz do Sul, por meio da Secretaria de Cultura, com apoio do Núcleo de Arte e Cultura da Unisc. A produção é de Lavoro Produções e Cinema Falado Produções, com a curadoria de Lara Pozzobon da Costa e Gustavo Acioli.

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Programação

  • Terça-feira, 31
    • Sessão 1 – 10 horas
      • Documentário: Prezado Doutor, 8 minutos, dos EUA;
      • Documentário: Incapazes?, 22 minutos, da Rússia;
      • Documentário: Independente, 33 minutos, de Israel.
    • Sessão 2 – 14 horas
      • Documentário: Ver e Crer, 13 minutos, da Rússia;
      • Documentário: Uma menina em 10 x 10, 29 minutos, de Myanmar;
      • Documentário: Estrangeiros, 20 minutos, do Brasil.
  • Quarta-feira, 1º
    • Sessão 3 – 14 horas
      • Documentário: Sete Léguas, 65 minutos, da Espanha.
    • Sessão 4 – 19 horas
      • Filme: Não me Esqueci de Você, 81 minutos, do Brasil.
  • Haverá debate com quatro especialistas após a sessão de quarta. São eles: Tânia Manske, ex-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Compede); Débora Bizarro, educadora especial e intérprete de Libras; Karoline Kist, mestre em Educação e professora de Libras; e Cleide Lovatto Pires, coordenadora do Projeto Escola Inclusiva.

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Conheça três dos filmes que serão exibidos

  • Estrangeiros
    Duração: 20 minutos, Brasil (documentário com direção de Sônia Machado Lima, 2013. Classificação Livre.
    Sinopse: A fala tem poder e se impõe como forma superior de comunicação, forçando pessoas surdas a aprenderem a repetir sons que não conseguem ouvir. É um esforço tremendo e desgastante. Até que, muitas vezes, chega o momento em que o surdo descobre que foi inútil o tempo em que tentou aprender algo que simplesmente não lhe servia. O filme pretende mostrar um caminho de descoberta, dúvida, silêncio, alegria, aceitação, incompreensão e afirmação.
  • Sete Léguas
    Duração: 65 minutos, Espanha (documentário, com direção de Jon Ander Santamaria e Marcia Castillo, 2019). Classificação Livre.
    Sinopse: Uma notícia do outro lado do mundo leva um grupo de pessoas de diferentes origens a colocar em prática algo que parecia impossível: colocar crianças com deficiência motora como protagonistas em um palco de teatro. Para famílias que vêm sofrendo muitos percalços há anos, algo aparentemente tão comum como levar as crianças para aulas de dança é, na verdade, uma grande mudança em suas vidas. Todas as vozes que compõem esta pequena companhia de dança nos contam sobre essa experiência inspiradora.
  • Não me Esqueci de Você
    Duração: 81 minutos, Brasil (documentário, com direção de Rene Lopez, 2018). Classificação Livre.
    Sinopse: Não me Esqueci de Você é um documentário longa-metragem sobre educação inclusiva, que ouve diferentes vozes do processo educacional – pais de alunos, professores da rede pública especialistas na área – e busca sensibilizar sobre a responsabilidade social e política da inclusão de alunos com deficiência na educação básica.

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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