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FORA DE PAUTA

Às urnas, sim

Faz um bom tempo que o voto no Brasil passa por um triste processo de desvalorização. Retornamos às urnas a cada dois anos, mas a impressão que tenho é de que isso não empolga mais quase ninguém. Talvez por conta das inúmeras frustrações e más experiências que acumulamos com figuras alçadas a governos e parlamentos, deixamos de acreditar no voto como um instrumento de potencial transformação.

O que, diga-se de passagem, é curioso, uma vez que o poder de um voto é gigantesco. Costumamos tratar os nossos representantes como se nada tivéssemos a ver com eles, quando na verdade não há nenhum vereador, prefeito, deputado, senador, governador ou presidente que não tenha sido indicado pela população. Ou seja, dar poder a quem merece e tirar de quem não merece está, sim, nas nossas mãos – ou nos nossos dedos, já que são eles que pressionam as teclas das urnas.

Gosto de votar, conforme o leitor já deve ter percebido, tanto que já defendi neste espaço a obrigatoriedade do voto. A cada vez que pressiono o “confirma”, sinto-me parte de uma democracia e isso é bom. Por conta disso, não faço coro aos que hoje criticam a realização da eleição municipal este ano.

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Compreendo os argumentos. De fato, o momento é de exceção e pode soar incoerente, cruel até, convocar as pessoas a irem votar quando os clamores oficiais vão na direção exatamente oposta – ficar em casa, ficar em casa e ficar em casa.

Mas há mais a se considerar. Primeiro, adiar a eleição abriria um flanco para um sem-fim de contestações nos tribunais. Quem foi eleito em 2016 ganhou, por lei, um mandato de quatro anos, que termina em 31 de dezembro próximo, e com base nisso o sistema político todo se organizou. Prorrogar esses mandatos seria como renovar a procuração de um advogado sem consultar o cliente ou mudar as regras do jogo aos 44 minutos do segundo tempo. O risco de uma celeuma jurídica é enorme.

A questão mais importante, no entanto, é a estabilidade da democracia. Eleições regulares são fundamentais em um regime democrático e, por mais excepcional que seja o período atual, é preciso manter vivo esse organismo. Ainda mais nesses tempos em que, frequentemente, a solidez de nossas instituições é colocada em xeque por rompantes autoritários.

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A propósito, são muitos os questionamentos da população em relação à forma como os gestores atuais, em todos os níveis, conduzem o enfrentamento à pandemia, tanto do lado de quem defende mais rigor para combater o vírus quanto de quem prega flexibilidade para reanimar a economia. Nada mais justo, portanto, que tenhamos a chance de indicar, em um primeiro momento em âmbito municipal, quem desejamos que assuma as rédeas das políticas sanitárias e econômicas. Não há dúvidas de que essa será pauta decisiva na campanha.

Ademais, me parece que não há maiores dificuldades em realizar o ritual do voto de forma razoavelmente segura. Haverá mais tempo de votação, horários especiais para idosos e a biometria foi dispensada. Sem falar que, para boa parte dos integrantes do grupo de risco, o comparecimento já é facultativo. Com uma boa dose do bom senso que não raro nos falta, podemos preservar um direito do qual não devemos abrir mão. Em épocas de crise, necessitamos de mais, e não menos, democracia.

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