Hoje famoso nas redes sociais e visto como um dos maiores agroinfluenciadores da Região Sul do Brasil, o agricultor Giovane Luiz Weber nem sempre esteve nos holofotes. Filho e neto de fumicultores, ele atua na atividade há cerca de 40 anos e conquistou uma longa experiência. Desde que passou a se dedicar à página Fumicultores do Brasil na internet, passou a ter a oportunidade de visitar regiões produtoras no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, além de feiras e eventos ligados ao agro.
A partir de todas as novidades que descobriu por onde passou e do conhecimento adquirido, Weber passou a investir em melhorias na propriedade, localizada em Linha João Alves, com o objetivo de aprimorar a qualidade de vida da família e otimizar o trabalho. Atualmente, o local conta com uma máquina multiuso que serve para plantar, adubar e colher o tabaco, múltiplos painéis de energia solar e, mais recentemente, estufa de carga contínua, sendo assim considerada um modelo para os demais produtores.
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Tudo começou com o tabaco
Filho de Aloísio e Rosa, ambos fumicultores e atualmente aposentados, Weber recorda que começou a plantar tabaco por conta própria por volta do ano 2000, já casado com a esposa Louvane. No começo era apenas uma estufa de tacos, depois construíram outra até chegar à terceira. Com o tempo, aprimoraram as estruturas para o formato cinco por oito com três estaleiros de altura. “Ou seja, evitava de duas pessoas terem que subir para pendurar. Era uma modernidade para a época”, observa.
Os anos se passaram e o formato permaneceu o mesmo, mas a infraestrutura foi aumentada aos poucos, conforme a necessidade. “Era aquela situação de um puxado aqui, outro puxado lá e de repente você tem uma construção grande, mas toda improvisada, sem um pavilhão único.”
Em 2017, Weber começou a usar as redes sociais. Não demorou a ganhar notoriedade em razão dos vídeos em que mostrava a rotina da fumicultura e as adversidades enfrentadas diariamente por quem vive da agricultura familiar.
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Em 2018, começou a sair de Santa Cruz do Sul para visitar outra regiões produtoras não somente no Rio Grande do Sul, mas também em Santa Catarina e no Paraná. “Eu voltei de lá deslumbrado com os pavilhões que eles têm, seja de estruturas metálicas ou de concreto”, conta.
Depois de conhecer essas novas realidades e as facilidades existentes, decidiu que era hora de mudar. “Se quisermos continuar na roça, precisamos nos modernizar. A propriedade é uma empresa, então se temos lucro, precisamos reinvestir para poder trabalhar com mais eficiência.”
Máquina auxiliadora de colheita foi o primeiro investimento da propriedade
Depois de algumas safras com resultado positivo, Giovane Weber entendeu que era a hora de investir na construção de um pavilhão. O alto custo da obra, contudo, o fez mudar de ideia. Considerando ainda o avançar da idade e a escassez de mão de obra para a colheita e secagem do tabaco, a opção foi por adquirir uma máquina auxiliadora. “A gente está chegando nos 50 anos e sabemos como as pessoas de mais idade ficam depois de uma vida inteira na lavoura. O trabalho é pesado”, enfatiza.
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A propriedade recebeu a máquina para um período de testes. Pôde adquiri-la depois, por meio de um financiamento obtido junto à empresa à qual são integrados. “Como mantivemos a estimativa contratada pela empresa e fortalecemos a parceria, entramos naquele grupo apto a receber financiamento para modernização”, explica.
Depois da chegada da Matilde, como é conhecido o implemento, a vida mudou. “Ela foi comprada para colher, mas fomos adaptando com o tempo. Hoje usamos também para colocar o adubo, salitre e o fertilizante.”
A máquina não precisa de piloto e avança ao longo das vergas de maneira automática. Além de sentados, os trabalhadores também permanecem sob uma cobertura de lona e protegidos da incidência direta dos raios solares. “Não deixa de ser quente, mas evita o sol, além de não precisar mais carregar o peso”, ressalta. No fim da verga, basta transferir o que foi colhido para a carreta.
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Weber destaca ainda a significativa redução na mão de obra contratada. Antes, eram necessárias sete pessoas para a colheita; agora, três dão conta de todo o trabalho. “Isso quando conseguíamos chegar a sete, às vezes era só quatro ou cinco.” Mesmo com alto custo, o número de pessoas interessadas em atuar na atividade está cada vez menor e não se vê melhora nesse cenário. “A máquina veio para mudar a nossa vida.”
O investimento atual para adquirir um modelo semelhante, fabricado pela Irmãos Francisco, é de cerca de R$ 150 mil, podendo ser financiado junto aos bancos e às empresas fumageiras. Apesar do custo expressivo, Weber garante que o dinheiro que seria gasto na contratação de trabalhadores paga a parcela e ainda sobra. “E você não se incomoda em achar pessoas de confiança para trabalhar, essa é uma grande vantagem.”
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Estufa de carga contínua revolucionou
Após o sucesso com a máquina auxiliadora de colheita, o passo seguinte foi investir na substituição de uma das estufas de tacos por uma estufa elétrica de grampos. “Ajudou bastante, mudou de novo o nosso jeito de trabalhar. Porém, temos uma limitação aqui: a nossa energia não comportava colocar duas estufas de grampo ligadas ao mesmo tempo.” Agora, seguem buscando conquistar uma energia elétrica trifásica, mas o processo é complexo. “É uma burocracia terrível, uma peregrinação”, lamenta Weber.
Junto com a solução, o novo equipamento trouxe também um problema: o custo da conta de energia. “Nós gastávamos em torno de R$ 450,00 a R$ 500,00 para secar uma estufa, isso sem contar a lenha. Para secar dez estufas, o custo ficava na casa dos R$ 5 mil”, detalha. Diante disso, a ideia de investir em um pavilhão foi novamente adiada para dar lugar às placas de energia solar. “Foi um investimento alto e de longo prazo, mas que em quatro ou cinco anos vai se pagar e daí em diante é só alegria.”
Neste ano veio a estufa de carga contínua, uma tecnologia de última geração que revolucionou novamente o dia a dia da propriedade. As antigas foram vendidas e o equipamento passou a ser o único utilizado.
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“Colhemos todos os dias a quantidade certa para 40 grampos, ou aproximadamente 35 trouxas. Isso dá mais ou menos uma hora de colheita por dia, no sábado colhemos duas horas para folgar no domingo”, acrescenta. Assim, reduziu a necessidade de mão de obra e a família dedica cerca de cem dias por ano para a colheita e secagem do tabaco.
“Não precisamos mais começar cedo da manhã para finalizar de noite. Eram dias corridos, que esgotavam a todos com a colheita e estufas convencionais”, afirma Weber. Por ter um funcionamento contínuo durante todo o período, a estufa consome menos lenha e menos energia elétrica. Weber garante que a adaptação não é complicada e a assistência técnica ajuda muito, mas é preciso empenho por parte do agricultor e um pouco de conhecimento de tecnologia.
Paralelo a isso, a família está concluindo o pavilhão cuja construção havia se iniciado no ano passado. A estrutura mista de tijolos, metal e aluzinco abriga a estufa elétrica, galpões e toda a infraestrutura para a fumicultura.
Planejamento e sucessão familiar
Depois de tudo o que viu e aprendeu viajando pelo Sul do Brasil, Giovane Weber considera o planejamento como um dos conhecimentos mais valiosos. Segundo ele, é preciso tratar a propriedade como uma empresa e se organizar a curto, médio e longo prazo, tanto na questão dos investimentos como ter uma reserva de emergência para cobrir perdas causadas por eventos climáticos. “Existe o seguro e é claro que ele ameniza as perdas, mas não vai me remunerar como a venda de uma safra cheia.”
Finalizada a etapa de venda da produção, ele destina uma porcentagem para uma aplicação no banco. “Nós vimos neste ano o que aconteceu depois das enchentes. Se a pessoa não tem uma reserva, as prestações vêm da mesma forma no fim do mês.” Assim, ele considera a educação financeira fundamental para garantir o sucesso duradouro daqueles que optam por tirar da agricultura o sustento. “Lembrando que é para emergências, não pode mexer nela pra trocar de carro ou investir. Se não precisar usar, fica como uma aposentadoria para o futuro.”
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Com 18 anos completados em setembro, a filha de Weber, Giovana, pôde começar a auxiliar os pais na lavoura. Para incentivá-la no processo de sucessão, ela recebeu 5 mil pés de tabaco e terá participação no manejo, colheita, secagem e comercialização. No fim da safra, quando as contas estiverem finalizadas, ela receberá a parcela correspondente àquela área. “Ela precisa entender o processo e que nada cai do céu, tudo é trabalhoso.” Depois, a jovem poderá decidir se quer continuar e conciliar a fumicultura com os estudos ou se mudar para a cidade.
“Nós estamos fazendo o nosso papel de não apenas dar o dinheiro e sustentar, mas ensinar na prática. Temos algumas facilidades, mas a lavoura exige trabalho, suor e nem sempre colhemos bem, então ela vai sentir isso.”
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