As nossas escolhas

Algumas décadas atrás, em uma segunda-feira como hoje, 26 de fevereiro, com certeza estaria cedo da manhã embarcando no ônibus da linha Monte Alverne-Santa Cruz do Sul para mais um ano de estudos no internato. Foram diferentes momentos e circunstâncias, afinal, do então Curso Ginasial, passando pelo Científico até o término da Filosofia, foram dez anos de plena formação para a vida.

Em qualquer recorte deste período já estaria carregando, junto com as malas, uma saudade incontida da família e dos amigos que ficaram para trás. De solavanco a outro, pela estrada empoeirada, me passaria um filme pela mente com os registros dos momentos mais marcantes das férias, sobretudo do último fim de semana, quando lá em casa se festejava o aniversário do nosso pai.

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Olhando as paisagens que ficavam para trás, após cada curva, recordo que me esforçava para conter as lágrimas que teimavam em escorrer. Como não lembrar da imagem tão viva do amor que fazia a mãe acomodar na modesta bagagem um pouco da cuca, do bolo e de alguma guloseima mais que havia sobrado da comemoração do fim de semana?

Este turbilhão de sentimentos, na verdade, era apenas o cenário de abertura de uma história que tinha roteiro, mas que a todo instante, como em tudo na vida, dialogava com o imprevisível.

Tão imprevisível quanto o desfecho de um ano eleitoral, que vai mobilizar eleitores e candidatos e alimentar interesses de todos os matizes por este Brasil afora. O que vai mover aqueles que querem nos governar ou representar? O real propósito de contribuir com seu trabalho, sua capacidade de gestão, seu capital moral para construir uma sociedade melhor? Ou o fascínio pelo poder e tudo o que ele pode proporcionar a quem não tem escrúpulo em se locupletar com a confiança do povo?

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Imprevisível também como o resultado de um Gre-Nal, que pode ser visto sob diferentes ângulos dependendo do lado pelo qual se torce. Se houvesse VAR para revisar lances capitais – muitos dirão – o jogo seria diferente. Faltas graves não ficariam impunes e linhas que o olho humano não consegue precisar seriam traçadas com auxílio da tecnologia.

Mas se no mundo competitivo do esporte parece não haver dúvida quanto à importância deste recurso tecnológico, é bom lembrar que para as decisões que tomamos todos os dias na vida real não existe a possibilidade do uso do VAR. Não é a tecnologia, mas a régua moral de cada um que haverá de consolidar os acertos e reconhecer os erros.

Na escolha de deixar tudo para trás em busca de conhecimento, na hora de definir um voto e de responder por nossos atos, a responsabilidade continua sendo nossa.

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