Quando Ademir Müller, no fim dos anos 1970, começou a pensar sobre a realização de uma festa anual em Santa Cruz do Sul, com a temática da cultura germânica, já imaginava que a ideia seria, também, o início de uma nova era para o turismo e para o desenvolvimento econômico do município. Na reportagem veiculada no último fim de semana na Gazeta do Sul, relatos e materiais de arquivo contaram sobre a primeira edição da Oktoberfest, em 1984.
Agora, com a ajuda da memória daqueles que viveram as edições posteriores, recuperamos o legado que a Oktoberfest deixou ao longo de suas 35 edições, não somente para Santa Cruz, mas para todo o Vale do Rio Pardo. Em entrevistas e com o apoio fundamental dos arquivos da Gazeta do Sul (que retrata a história desde 1945), esta reportagem mostra os avanços que foram sendo conquistados, em decorrência da realização anual do evento.
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O turismo ganhou força em Santa Cruz do Sul e na região
Não somente Santa Cruz ganhou com a criação da Oktoberfest, mas toda a região, de acordo com o presidente da Associação de Turismo do Vale do Rio Pardo (Aturvarp), Djalmar Ernani Marquardt. Envolvido na organização da festa desde 2011, chegando a ser presidente em 2017, ele enfatiza que vê a Oktober não somente como uma festa para elevar a cultura germânica, mas também para fomentar os negócios locais. “É importante para mostrar a pujança econômica, para se desenvolver economicamente e para mostrar o potencial turístico da nossa cidade e da região. Além de levar alegria e gastronomia, sempre tem o desenvolvimento de negócios”, avalia.
A Oktoberfest é responsável por trazer a Santa Cruz do Sul cerca de 400 mil pessoas por ano – com exceção deste momento atípico de pandemia. “São pessoas que vêm conhecer Santa Cruz e, com certeza, voltam para prestigiar os atrativos turísticos do município e da região e fazer negócios. É um evento que alavanca tanto economicamente quanto turisticamente.” Marquardt salienta que os setores de hotéis e de restaurantes foram muito beneficiados pelo surgimento do evento anual.
“Essas áreas não se beneficiam só durante o evento, mas o ano todo, porque a partir da Oktoberfest o pessoal retorna a Santa Cruz”, ressalta. “Enquanto empreendedores e Poder Público, temos que aproveitar esse momento em que há grande público para mostrar tanto nossos atrativos turísticos quanto nosso potencial de negócios.” O presidente da Aturvarp frisa que em 2021, pela primeira vez, a associação tem um estande no pavilhão da Feirasul, onde a entidade aproveita para falar sobre a força turística e econômica das cidades do Vale do Rio Pardo.
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Um dos hotéis que surgiram após a criação da festa foi o Águas Claras, que começou a ser construído em 1987, sendo inaugurado por volta de 1990. Segundo o gerente Sidnei Kanitz, a Oktoberfest é para Santa Cruz do Sul um evento tão relevante quanto o Natal Luz é para Gramado, por exemplo. “A cada ano, a festa vai aumentando e, ao mesmo tempo, vai ajudando a criar outros eventos. Divulga a cidade na mídia e faz com que as pessoas circulem e tragam renda para o nosso município. Não só os hotéis são beneficiados, mas também outros segmentos, como postos de gasolina, farmácias e restaurantes.”
Carlos Augusto Gerhard, sócio da empresa que construiu o Hotel Aquarius Flat e o Shopping Santa Cruz, comenta que, junto com outros eventos, a Oktoberfest influenciou o desenvolvimento de empreendimentos. “No fim da década de 1980 e no início dos anos 1990, batalhávamos para a cidade ser um destino turístico e um centro de feiras em razão da sua localização, pois as principais cidades distam cerca de 150 quilômetros”, comenta. “Um centro logístico e de distribuição de produtos e serviços acompanhava este projeto. A Oktoberfest, junto com o Enart e o autódromo, eram âncoras do projeto de atração de outros eventos.”
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Conforme Gerhard, o esporte era outra âncora importante num calendário anual. “Com a construção do Aquarius, no início dos anos 1990, buscamos o selo turístico para Santa Cruz, e a Oktoberfest foi o argumento principal. Este selo concedia financiamentos especiais e verbas, além de colocar a cidade no calendário nacional”, cita. “A construção deste centro de eventos era de primordial importância para desenvolver este setor. Várias tentativas e projetos foram desenvolvidos no Parque da Oktoberfest, mas as gestões municipais tinham outras prioridades, e nada se concretizou.”
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![](https://www.gaz.com.br/uploads/2021/10/Hotel-Aguas-Claras-Santa-Cruz-01-110329-1024x680.jpg)
Apoio mútuo na cultura germânica
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Scherer destaca que o Centro Cultural 25 de Julho surgiu a partir de uma ideia dos bailes do chucrute que ocorriam na Comunidade Evangélica. Atualmente, a sede do Centro fica junto ao Parque da Oktoberfest. “Um foi importante para o outro, não havia nenhuma outra entidade na época e a Oktoberfest precisava de algo assim para manter a festa. Nós fomos importantes, e a festa também foi para nós, porque acabou ajudando na nossa divulgação.”
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Outra entidade que nasceu junto à Oktoberfest foi a Sociedade Cultural Folclórica Oktobertanz, idealizada também pelo criador da Oktober, Ademir Müller. Seu objetivo é realizar atividades que fomentem a cultura alemã.
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Empresariado assume a responsabilidade pela festa
É em 1998, também, que a Associação de Entidades Empresariais de Santa Cruz do Sul (Assemp) assume a responsabilidade – e principalmente, a parte contábil – da Oktoberfest. O primeiro presidente da Assemp, Mauricio Eduardo Keller, relembra que, desde 1994, empresários já tinham contato com o evento, participando de diversos setores da organização.
“O grupo que vinha trabalhando se formou em 1994 e, em 1998, a gente criou a Assemp. A Prefeitura abriu mão de fazer a festa porque não tinha condições. É muito complicado organizar um evento desses usando estrutura de Prefeitura porque tem que ter licitação. Sendo entidade, tu consegue fazer mais rápido, não é tão burocrático. Tivemos que construir banheiros e os barzinhos; para isso, fazíamos tomada de preço, não precisava de licitação, o que é mais ágil.”
Keller destaca que o prefeito de 1994, Edmar Hermany, foi quem convocou uma reunião com entidades empresariais. “Nesse encontro se tirou um grupo de empresários que levaria a festa adiante. Naquela época, a Prefeitura saía politicamente e daria o que dá hoje, apoio nas partes hidráulica e elétrica e em outras coisas que estão dentro do parque. Mas dali em diante, esse grupo tomou as decisões.”
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O prefeito da época conta que o problema é que as leis começaram a mudar e cada vez mais o Poder Público era obrigado a cumprir com licitações. “Para fazer contratação de shows, tudo era por licitação. Nosso entendimento era de que a Prefeitura não poderia fazer essa festa, quem tinha que organizar isso era a iniciativa privada. E assim seguiu, e hoje é um sucesso. Lógico que tem seus percalços, mas ela está consolidada”, frisa Hermany.
Um ano antes, em 1993, no mesmo mandato, a Oktoberfest não foi realizada. O então prefeito esclarece que a dificuldade era a falta de recursos. “Tinha muita despesa e o Tribunal de Contas começou a apertar; os prefeitos eram responsabilizados por essas despesas. Quando entraram os empresários, todas essas coisas foram sanadas. Mas a Prefeitura dá até hoje a infraestrutura do parque. Claro, hoje a Assemp aplica o superavit na melhoria do parque”, complementa.
ACONTECIMENTOS
- 1984 – É realizada a primeira Oktoberfest. Os desfiles já ocorrem no primeiro ano
- 1987 – Nasce o casal símbolo da festa, Fritz e Frida
- 1992 – Ginásio Poliesportivo é inaugurado no Parque da Oktoberfest
- 1993 – Oktoberfest não é realizada por falta de recursos
- 1994 – Entidades empresariais assumem a parte contábil da Oktoberfest
- 1997 – Monumento do casal Fritz e Frida é inaugurado no trevo da RSC-287
- 1998 – Casas da atual Vila Típica são construídas. Assemp é criada
- 2003 – Nascem os filhos do casal Fritz e Frida, chamados de Mili e Max
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