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As minúcias do nosso Estado

O Rio Grande do Sul é interessantíssimo. Em Pelotas fala-se de um jeito, em Porto Alegre é outro, e assim vai. Mas o que me assombra é o “você” entre as crianças. As professoras gostam de usá-lo. O “tu” está quase condenado à morte.

Mas existem lugares com uma fala muito interessante. Eles se situam na região perto de Santiago e proximidades.

Meu filho Rudolf Genro Gessinger, que praticamente se criou na nossa fazenda, é graduado em Direito pela PUC de Porto Alegre, tem pós-graduação pela mesma faculdade e cuida do nosso escritório perto do Palácio do Governo.

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Vou dar ao meu filho a palavra:
“Em Timbre de Galo, o lendário Pedro Ortaça já anunciava que ‘o campo é quase a cidade’. O campo ainda era, 20 anos atrás, um lugar regulamentado principalmente por usos e costumes da região. Os valores de seriedade, simplicidade e valentia eram lema para homens e mulheres que dificilmente mudavam de domicílio ou se deslocavam grandes distâncias por consideráveis períodos de tempo.
20 anos atrás, ainda não havia luz em muitas estâncias da região das Missões e Fronteira Oeste. O sinal de telefone era fraco e a maioria da peonada nunca tinha acessado a internet. Em verdade, mal e mal sabiam do que se tratava. Até mesmo o modo de se expressar do profissional do campo era vago e impreciso.

Um rádio ligado alto no galpão fornecia as notícias regionais e proporcionava distração para os momentos de intervalo e folga. Era difícil ter televisão na estância, fora a do patrão. Se tinha, era à parabólica.

O trabalhador rural era o que tinha se criado por ali. Havia, em regra, frequentado a escola agrícola. Fora dela, normalmente não era manso no estudo. Estudar era caro, longe e sem muito sentido para quem aprendeu o que sabia pela experiência e pelos costumes que lhe eram passados.
Assim, existiam profissionais especializados em só uma atividade rural. As microrregiões tinham um homem que era conhecido por ser, por exemplo, o alambrador.

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O alambrador, em geral, era o homem que lidava com o aramado (as cercas) ou ficava de caseiro, ponto. Para começar, o alambrador era, em maioria, um profissional autônomo, de forma que não era peão de ninguém. No máximo peão por dia (leia-se, para uma lida específica em que se precise de mais gente).
Quando precisava revisar uma cerca, era só chamar o alambrador. Nenhum peão de campo, 20 anos atrás, pararia a lida para consertar o aramado. Interromper a doma, então, menos ainda.

O pior dos castigos para um peão campeiro é mandá-lo carpir, desde sempre e até hoje. Tanto é que existe um dito para quem, digamos, está sendo inconveniente: ‘mas vai carpir um lote!’.” (Continua)

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caroline.garske

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