“As meninas” de Márcia: o feminino e a natureza

“A gente sempre vai desenvolvendo o olhar”, reflete Márcia Marostega ao falar sobre seu trabalho como artista plástica e a respeito da identidade que construiu durante os mais de 30 anos de carreira. Natural de Santa Rosa, ela reside em Santa Cruz há 28 anos. As “meninas” são fruto de um trabalho intenso de pesquisa e de experimentações constantes. Bem no começo, ainda na faculdade, Márcia, que é formada em Desenho e Plástica e pós-graduada em Design para Estamparia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), voltou seu olhar à natureza.

A linguagem artística era traduzida na forma de bambus, abstratos, pássaros, peixes e muitas flores. “Nos identificamos com algumas imagens e tentamos criar a nossa própria. Só que isso leva anos, vamos nos lapidando”, comenta. As meninas surgiram logo depois, diferentes das de hoje e, talvez, até das de amanhã, uma vez que a arte não é estanque.

Os traços e as inspirações ganharam novos ares, bem como as cores e as técnicas. A linguagem se aprimorou com a experimentação de novos suportes. E esse olhar se reflete nas nuances das obras, que trazem flores, borboletas, às vezes elementos do cubismo e, recentemente, da Art Nouveau, que se unem ao referencial feminino. “O ser feminino e a sua relação com a natureza, esse é o conceito do meu trabalho”, resume. Além disso, a repetição das formas na composição se destaca no identitário da artista.

Apesar de trabalhar com a mesma temática há mais de duas décadas, ela admite que as “meninas” passaram por muitas transformações. A fisionomia delas foi mudando: com o passar dos anos, elas se tornaram mais suaves e angelicais.

O porquê das meninas

A identidade da obra de Márcia carrega traços da sua personalidade misturados à cosmovisão dentro de possibilidades infinitas. “Vários artistas desenvolvem essa temática; em arte, quase tudo já foi feito, mas a maneira como cada artista se expressa é original, única”, pontua. A base da obra se estrutura no desenho. As técnicas e os suportes são variados. Tela, papel, tecidos, lona de caminhão reutilizada e até papelão recebem tinta acrílica, colagens, bordados, pastel bordado, pastel,  sanguínea, carvão, entre outros, numa experimentação permanente. Sobre influências e inspirações, ela cita Portinari, Art Nouveau, o designer têxtil do século 19 William Morris, Leonardo da Vinci, Kandinsky, Picasso,  Botero, entre outros.

As suas obras estampadas

A artista sempre desejou ver a sua obra estampada em um guarda-chuva como valor artístico agregado a um utilitário. E assim começou um projeto que vem se expandindo. São guarda-chuvas, canecas, lenços, camisetas e, em breve, agendas permanentes e cadernos, em edições limitadas com a marca registrada de Márcia. Em evento recente na Casa das Artes Regina Simonis, o Arte na Vitrine, com curadoria de Juliane Mai, a escola de dança Dugges Dance se apresentou com os guarda-chuvas e lenços da artista.

O ateliê: troca constante

Márcia possui um ateliê em que ministra aulas de pintura e desenho há 11 anos, na Rua Carlos Mauricio Werlang, 106. “Aprendo com minhas alunas, é gratificante  essa troca. Acompanhar o crescimento delas em suas trajetórias artísticas  me deixa muito feliz e grata”, ressalta. Ela também possui outro ateliê, onde realiza  pesquisas e se dedica ao trabalho solo como artista plástica. Diversas exposições individuais e participações em coletivas nacionais e internacionais fazem parte de seu currículo. Já recebeu vários prêmios e honrarias e tem exposições em galerias importantes do Estado.

Confira os trabalhos de Márcia no Instagram @marciamarostega

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