Andaram me perguntando como as crianças lá de casa vêm se acostumando ao uso de máscaras, inclusive cobrando que eu escrevesse sobre o tema nessa coluna. Admito que vinha adiando o assunto para fugir a um problema que nada tem a ver com a pandemia, e sim que é da ordem do campo semântico e/ ou gramatical: não há bons sinônimos para a palavra máscara, pelo menos não no sentido das máscaras usadas para prevenir o contágio. Pode-se encontrar uma gama de sinônimos para máscara no sentido metafórico – dissimulação, falsidade, fingimento – ou para as máscaras alegóricas – carranca, fantasia, caracterização –, mas nenhum sinônimo que me agrade no caso das máscaras utilizadas contra a Covid-19.
Dispositivo? Equipamento? EPI? Nenhum candidato a sinônimo para máscara, no sentido em questão, agrada-me. Qual o problema disso? A consequente repetição de uma mesma palavra, inúmeras vezes, ao longo do texto, comprometendo suas qualidades estilísticas, tornando o relato chato e massante. Máscara, máscara, máscara, máscara… O leitor mais atento já deve ter se dado conta de que, no jornalismo, abusa-se dos sinônimos justamente para evitar uma grande repetição da mesma palavra. Mas no caso da máscara – olha ela aí de novo – isso tem sido um desafio.
Enfim, dito isso, vamos ao que interessa.
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Com a instauração da obrigatoriedade do uso de máscaras, na segunda metade do mês passado, tratamos de ir atrás de algumas para as crianças. Até então isso não nos preocupava tanto, dado que o plano era manter a meninada em confinamento. Contudo, a partir da norma, pareceu-nos pertinente manter em casa alguns exemplares desses… ah… equipamentos, por assim dizer, para o caso de alguma saída emergencial ou imprevista com algum dos pequenos.
Contudo, as gurias logo apresentaram uma exigência: seus EPIs (é… não ficou bom) deveriam ter estampas bem específicas. Foi necessária uma gama de contatos com costureiras, via Whats, até que a Patrícia conseguisse exemplares que atendessem às exigências – para Ágatha, uma máscara com unicórnios sobre um fundo cor-de-rosa; para Yasmin, também unicórnios, mas sobre tecido azul. Já a Isadora contentou-se com elefantes estilizados, impressos também sobre a cor azul.
Com a chegada dos… dispositivos, as duas menores, Ágatha e Yasmin, passaram a insistir que era preciso testá-los e que não adiantaria fazê-lo em casa. Seria necessária uma caminhada na rua, para averiguar, principalmente, a ergonomia de seus… equipamentos. Precisavam saber se as (rendo-me) máscaras eram confortáveis, se permitiam a respiração e se não ocasionariam o efeito conhecido como “orelhas de Dumbo”. Então, após muita confabulação, Patrícia levou-as para uma caminhada de algumas quadras, quebrando um isolamento mantido desde a suspensão das aulas, séculos atrás.
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As traquinas voltaram exaustas, relatando que as máscaras lhes causaram terrível sensação claustrofóbica.
– Não dá pra respirar direito com isso – disse Yasmin.
– Aperta nas orelhas – complementou Ágatha.
E, desde então, ambas recolheram-se, resignadas, a seu confinamento em casa. Felizmente.
Creio que as máscaras são, de fato, uma alternativa pertinente para amenizar tanto o risco do avanço da pandemia quanto os estragos econômicos causados pelo confinamento. Porém, temo que muitos estejam se deixando enganar por tais… aparatos, cuja eficácia, sabe-se, é relativa e parcial. As máscaras não nos transformam em super-homens ou super-mulheres, não nos deixam imunes ao contágio. Portanto, cumpre lembrar: tais trecos (para não repetir a palavra) não bastam sem a adoção, por parte de cada um, dos demais cuidados com aglomerações e higiene.
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