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As lágrimas do Cristo Protetor

Por natureza, as tragédias intrigam. Por que isso foi acontecer justamente aqui? E conosco, que somos pessoas trabalhadoras, gente do bem, que luta para o sustento da família? Eu diria a mesma coisa! Todos diríamos, porque nunca estamos preparados para o infortúnio. Desde o início, me entusiasmou o projeto da comunidade de Encantado de construir o Cristo Protetor nos altos próximo à cidade. Na juventude, estudei e criei laços afetivos com aquela região.

Depois dos acontecimentos da semana que passou, me parece que o Cristo de braços abertos sobre o Vale do Taquari é mais do que a concretização de um sonho: ele é personagem e testemunha de um milagre. São coisas que nós, humanos, frágeis e muitas vezes incrédulos, custamos a enxergar. Mas, com certeza, há neste doloroso episódio um significado ainda maior que o tamanho da estátua do Cristo no alto do morro.

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Não sei quanto a você, mas sua voz e sua mensagem ecoam dentro de mim: “Eu vi o sofrimento, a angústia, o desespero dessa gente. Vi famílias sendo arrancadas de seus lares, vi mãos exaustas se desprenderem em meio ao turbilhão que a tudo ia arrastando e a dor de quem teve seus amados engolidos pelas águas. Me comovi com os gritos por socorro, com a fé dessa gente que não desistia de lutar e com a bravura dos que ainda encontraram forças para ajudar aos que submergiam ao seu lado.

Pensam que não me doeu ver histórias de vida sendo afundadas na lama, sonhos sendo tragados pela imensidão das águas, vidas de tantos seres indefesos sepultadas para sempre? Vi tudo. Sou testemunha, sou abrigo, amparo, conforto, esperança. Mas respeito os desígnios de meu Pai. Consternados com a dor pelas perdas em todas as dimensões, talvez não enxerguem o verdadeiro milagre que está acontecendo.

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Um milagre operado não por mim ou por intervenção divina, mas pela solidariedade humana. A dor despertou um sentimento que a quase todos já parecia esquecido no passado ou sufocado pelas diferenças mesquinhas que se desmancham em lama diante da força da verdade. Aqui do alto vejo multidões vindas de todos os horizontes, movidas por amor ao próximo e pelo desejo sincero de oferecer ajuda. Muitos mudaram planos, deixaram suas famílias e compromissos para trás, se desapegaram de pertences que lhes eram caros. E não é por mim. É para ajudar irmãos que não têm nome, endereço, não têm partido ou ideologia, nem clube, cor, condição social, seja o que for.

A única motivação é ser solidário, cuidar uns dos outros. Este milagre não é meu. É do bem que mora no coração das pessoas e que, por vezes, só renasce quando é sacudido pela dor”.

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Guilherme Bica

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