Enfim, férias. O momento mais esperado do ano. E, provavelmente, também o mais maluco.
Vou falar por mim, porque acho que nem todos se distanciam dos seus padrões de comportamento para se arriscarem a viver situações inusitadas e imprevisíveis.
Quando olho pelo retrovisor da memória o tempo que se passou, nem acredito que fui protagonista ou personagem de situações completamente alheias ao meu modo de ser e agir.
Nem sei por onde começar. Mas digamos que você, como eu, teve um Opala. Um carrão que flutuava nas estradas, macio como só ele, mas com um dengo: não podia ver um posto de combustível sem chegar.
Pois eu tive um Opala, nos anos de 1980. Na véspera de irmos para a praia, saímos, minha esposa e eu, à procura de uma babá para nos acompanhar e ajudar a dar conta de um filho pequeno.
Naquelas circunstâncias, só podia dar errado. E deu. Era verão, dias de calor e sem chuva, nuvens de poeira, e uma pedra na estrada – que não vi – e que fez um rombo no assoalho do carro (não sei se é assim que se diz).
No final das contas, o esforço até se justificou. Uma moça, com a anuência dos pais, nos acompanhou, feliz com a oportunidade do primeiro veraneio e com a expectativa, para nós, de alguns dias de sossego frente à energia de um pirralho pilhado.
Dia seguinte, na hora de ir para a estrada, começou a chover. Nada demais, não fosse o rombo debaixo do nosso Opala. Ainda antes de chegarmos em Venâncio Aires, muito distantes do nosso destino, tivemos que parar para escoar a água que os pneus jogavam para dentro do carro.
Foi surreal. Improvisamos uma espécie de caneca para escoar aquela inundação, coisa que, aliás, tivemos que repetir uma dezena de vezes ao longo do nosso percurso.
Mas chegamos bem. Havíamos alugado uma casa em Mariluz, pouco acima de Tramandaí, imóvel de esquina, próximo ao mar, com amplo gramado à frente e uma alameda de pinus na divisa.
O que fiz – e você faria, com certeza – foi aconchegar meu Opala na sombra daquelas árvores num dia de sol escaldante. Só não sabia, até porque ninguém me avisou, que sob a copa daquelas árvores havia uma fossa, o esgoto da casa. E caí com meu Opala furado para dentro daquela nojeira.
O vizinho ficou furioso. Era meio-dia e acho que o mau cheiro comprometeu o almoço dele e da família. Me desculpei, mas ele não quis conversa.
Lembro que foi um dia de férias perdido. Passei a tarde à procura de lajes, areia, cimento e arregimentando pedreiros para resgatar meu Opala e tapar o buraco. E colocar uma placa com um aviso: “Proibido estacionar”. Até para mostrar boa vontade com o vizinho furioso.
Passado o estresse daqueles dias, fiquei ainda mais convicto: seja qual for o tamanho do dissabor que você arrumou pra sua vida, pense uma ou dez vezes antes de se render à ignorância.
Mais: não alimente a expectativa de que tudo sempre vai dar certo.
Até fiquei a pensar: quais são as férias mais marcantes? As que ocorrem rigorosamente dentro do script, conforme o planejado, ou as que nos reservam surpresas, que nos submetem ao inusitado e que nos oferecem histórias para contar?
Se o propósito é sair da rotina, acho que temos muito a ganhar com a adrenalina do imprevisto.
Não é o meu modo de ser, mas às vezes me rendo a ele.
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