Antiga ligação para Rio Pardinho, a Avenida Independência abriga duas praças. Uma delas é a Hardy Elmiro Martin, um triângulo localizado entre a Rua Tiradentes, Avenida Independência e Rua Venâncio Aires. A outra, batizada de Gerson Künzel, fica no encontro das ruas Piratini e Padre Amstad, no Universitário.
Uma praça, quatro nomes
A praça em formato de triângulo foi inaugurada em 9 de setembro de 1922, como parte das comemorações do Centenário da Independência brasileira. O orador da cerimônia foi o capitão Francisco de Borja Richter. Intendente na época, Gaspar Bartholomay aprovou a realização de diversos eventos, como a Batalha das Flores, jogos e o lançamento do Monumento da Independência, na Praça da Bandeira, em frente ao Palacinho.
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Batizada de Praça Independência, a avenida de mesmo nome foi aberta. Uma bomba de combustível, onde atualmente fica um prédio da Unimed, era o último ponto de zona urbana. Ao lado, havia um armazém chamado na época de secos e molhados: Keller Niedesberg. Até pouco tempo, a loja funcionava e vendia roupas.
A primeira mudança de denominação aconteceu em 1931, quando recebeu o nome do diplomata, político e advogado Osvaldo Aranha. Já em 1969 foi rebatizada como Praça Presidente Castelo Branco, em homenagem ao primeiro presidente do regime militar. A troca definitiva veio na lei 3.207, de 23 de junho de 1998, de autoria do então vereador Elton Griebeler (PSDB), para homenagear o professor Hardy Elmiro Martin.
Hardy Elmiro Martin nasceu na localidade de Ferraz, Vera Cruz, em 22 de setembro de 1927. Foi diretor do Colégio Mauá durante 20 anos, onde lecionou por quatro décadas. Foi responsável pela implantação do Museu do Mauá. Fundou o Conselho Municipal de Cultura e foi presidente da Comunidade Evangélica e do Rotary Club. Também se destacou como jogador de basquete.
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Conforme o professor Marcelino Hoppe, da Unisc, havia uma estação meteorológica na praça entre 1914 e 1968. Segundo ele, o equipamento que registrava temperaturas e índice pluviométrico era do Ministério da Agricultura. Duas senhoras que moravam nas imediações coletavam os dados, às 9, 15 e 21 horas. Porém, o serviço não era constante. Há registros completos de apenas 34 meses durante todo o período.
A praça conta com três referências. Uma delas é a pedra de homenagem aos 100 anos do Rotary Club, em 23 de fevereiro de 2005. Nela também foram afixadas placas comemorativas das 44ª e 45ª conferências do Distrito 4680, em 2005 e 2006. No outro extremo, mais próximo da Rua Tiradentes, fica a placa do 18º Congresso Nacional da Liga das Senhoras Luteranas do Brasil (LSLB), realizado entre 10 e 14 de janeiro de 1996. E uma palmeira foi plantada em 1966 como símbolo de amizade, em referência ao Jubileu de Prata do Rotary Club Santa Cruz, conforme uma pedra com a inscrição em frente à árvore.
Atualmente, o entorno da praça conta com salão de beleza, ateliê de costura, escritório de arquitetura, lojas de máquinas agrícolas, clínica odontológica, escritório do Ministério do Trabalho e a sede da Guarda Municipal. Há duas paradas de ônibus e lixeiras do programa de coleta seletiva. Os brinquedos atraem as crianças. Enquanto esperava a filha que era atendida em um consultório médico, a aposentada Esther Ramos, de 60 anos, brincava com a neta Maria Júlia, 5 anos. “A praça é bonita, mas poderia estar mais limpa”, disse. À espera da esposa, também em razão de uma consulta, o pedreiro Josiel de Oliveira, 32, embalava a filha Maria Clara, de 7 anos, em um dos balanços. “Está bem cuidada, com a grama aparada e brinquedos em bom estado.”
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À noite, a situação é diferente. Os frequentadores são outros, sobretudo nos fins de semana. Cacos de vidro das garrafas de bebidas, carteiras e bitucas de cigarro e lixo em geral são encontrados pelo taxista Arnildo Haubert, 56 anos, há três anos no ponto da praça. “Quando chego, tenho que fazer uma faxina. É muita sujeira aqui na frente”, contou. A bela casinha do ponto, construída há dez anos, está pichada na lateral. Triste ficaria Hardy Martin, que morava nas proximidades da praça que hoje leva seu nome.
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Referência aos pracinhas
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Pouco abaixo da praça Hardy Martin há um outro triângulo, entre a Avenida Independência e as ruas Tiradentes e Ernesto Alves. Ali foi erguido um monumento, entre 1993 e 1994, em homenagem aos pracinhas, soldados que serviram à Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Na placa, constam 66 nomes de combatentes. Atualmente, o local é ponto de encontro para adolescentes nos fins de semana.
Empresário lembrado
A praça nas proximidades do Miller da Avenida Independência recebeu o nome do empresário Gerson Luis Künzel, conforme a lei 3.687, de 23 de março de 1998, de autoria do então vereador Antônio Nelson Nascimento (PTB). Künzel morreu aos 35 anos, em um acidente aéreo no dia 29 de julho de 1998. Ele pilotava um Cessna modelo 172 de Santa Cruz em direção a Pelotas, mas a aeronave caiu na localidade de Cerro Alegre. O motivo teria sido a falta de visibilidade. Ele era diretor industrial da fábrica de biscoitos e massas Füller e filho do ex-deputado estadual Roberto Künzel. Em 1966, a praça havia recebido o nome de Padre Amstad. Após quatro anos, o nome do logradouro foi alterado para Tuiuti.
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Há um mês, o grupo de voluntários Eu Amo Santa Cruz – Amigo da Gente adotou a praça de forma oficial, com a presença do secretário de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, Raul Fritsch. O cenário se transformou. A grama foi aparada, flores brotaram nos canteiros e o lixo desapareceu. Na quinta-feira, Traude Assmann e Clarice Dick empunhavam rastelos para limpar as folhas caídas e recolhê-las em sacos plásticos.
Queixas de moradores sobre as condições precárias da praça motivaram Marcelo Machado a criar o projeto, em novembro do ano passado. “É uma cidade bonita, e queremos engajar as pessoas para que fique ainda mais. Doamos um tempo nas horas vagas para o projeto e convidamos quem quiser ajudar. É uma forma de inspirar as pessoas a fazer mais, tornar os espaços públicos mais acessíveis”, comentou. A praça do loteamento Nova Santa Cruz também foi adotada e outras podem vir a ser em breve. O contato do grupo é 98128 1290.
Limberger, de 55 anos, acredita que é preciso uma conscientização maior por parte dos frequentadores. Ele observa lixo espalhado no local toda semana. Para Julci, seria necessário implantar um contêiner. Os resíduos de moradores do entorno ficam no chão à espera do recolhimento. Outro problema é a iluminação precária, o que favorece o vandalismo. Bancos com pedras de granito patrocinados por uma mamoraria já foram furtados. “Nos fins de tarde, os pais tomam chimarrão na praça enquanto as crianças brincam.”
Julci ainda salienta a necessidade de educação ambiental. “Tenho vontade de promover uma campanha de recolhimento do lixo na avenida, da rótula até a Unisc. Quando chove, os bueiros ficam entupidos. O lixo não pode ficar na rua.” Conforme ele, a praça conta com araucárias, pinus, tipuanas, fícus, café e pata-de-vaca. “Há belas flores também, como lírios e helicônias”, ressaltou Julci, que precisou instalar câmeras de segurança para coibir os furtos de pedaços do alambrado que separa a praça da floricultura.
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Histórias da infância
A aposentada Traudi Knak, de 70 anos, guarda lembranças da infância nos arredores da praça. O pai, Willy Fritsch, era proprietário de uma venda que reunia sorveteria e cancha de bolão, onde hoje está a Farmácia Independência. Ali passavam os carros fúnebres em direção ao cemitério e a “baratinha” de Oswaldinho de Oliveira em dias de corrida.
O estabelecimento comercial abastecia os ciganos, que acampavam temporariamente na área onde hoje é a Vila Militar. Os jovens dos anos 1950 chegavam de vespa para tomar chope. Onde funciona o Miller Supermercados, existia uma cooperativa de tabaco. Depois da safra, o pavilhão servia como salão de bailes.
Traudi conta que plátanos em ambos os lados tornavam a Avenida Independência um túnel verde. Na praça, as crianças tiravam fotos em carroças, como se estivessem guiando o cavalo que as puxava. Taquareiras ornamentavam a paisagem. Uma sanga corria ao lado, hoje canalizada e que pode ser vista na Travessa Meinhardt. Aliás, Gilberto Meinhardt tinha um cinema ao ar livre onde funciona o posto de combustíveis da rótula.
O irmão Xavier Fritsch tocava violão e atraía os moradores da Vila São Luiz, atual Bairro Universitário. Eles apareciam na venda para jogar clica, o que hoje se chama bolinha de gude. Na cancha de bolão, o primeiro televisor da cidade foi instalado. As famílias vibraram com o bicampeonato do Brasil em 1958 e 1962 na Copa do Mundo. Era o tempo de Garrincha e Pelé nos gramados. “Tenho saudades, mas conto com alegria sobre aquela época. Me lembro de bastante coisa”, resumiu Traudi, que mora em Linha Santa Cruz e sente falta do movimento daqueles tempos. “De vez em quando, vou para o Centro para conversar e ver gente”, brincou.
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AÇÕES DO MUNICÍPIO
Praça Hardy Martin: há cerca de um mês foi feita a recuperação dos equipamentos da praça (bancos, brinquedos…), com conserto e pintura. A manutenção da grama é providenciada, em média, a cada dez dias. A última foi na semana passada. A varrição é diária.
Monumento ao Expedicionário: a manutenção da grama é realizada, em média, a cada dez dias. A última ocorreu na semana passada. A varrição é diária.
Praça Gerson Künzel: há pouco mais de um mês, realizou-se a recuperação dos brinquedos (conserto e pintura). A manutenção da grama é feita, em média, a cada dez dias. A última foi na semana passada. A varrição é diária.
Os serviços são executados pelo Departamento de Melhorias Urbanas, da Secretaria Municipal de Transportes, Serviços e Mobilidade Urbana (Setsu).
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