Passados pouco mais de sete meses desde que o primeiro caso do novo coronavírus foi registrado na China, ainda no final de 2019, a ciência e a medicina já avançaram significativamente, tanto no estudo do vírus quanto nos tratamentos experimentais e na compreensão dos efeitos que a doença pode causar no corpo humano.
Ainda considerada por muitas pessoas como apenas mais uma gripe ou um novo tipo de pneumonia, a Covid-19 segue surpreendendo profissionais da saúde com as complicações e sequelas que pode causar nos pacientes.
Um desses profissionais é o venâncio-airense André Luis da Rosa, enfermeiro que atua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com Covid-19 do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o maior do Estado.
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“Para esclarecer: não é só uma gripe ou pneumonia, é uma doença muito mais potente e de evolução muito mais rápida. O quadro evolui para pior em questão de horas”, enfatiza. Segundo ele, não só a doença, mas o próprio tratamento podem causar falência renal e necessidade de hemodiálise em alguns pacientes, mesmo nos que nunca tiveram histórico de problemas renais.
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Em relação ao avanço do quadro, André afirma que cada paciente é único, mas as complicações mais comuns percebidas em sua unidade são a tosse seca, febre, fraqueza e dificuldade para respirar, que pode evoluir para falta de ar exacerbada, gerando uma sensação de estar “afogando-se no seco”, como ele descreve.
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O mesmo cenário é relatado pelo médico intensivista Rafael Foernges, coordenador das unidades Covid dos hospitais Santa Cruz e Ana Nery. “Em 90% dos que internam, a partir do sétimo ou oitavo dia, após a febre, começa a dor intensa no corpo e uma sensação cada vez maior de falta de ar. A maioria dos casos mais graves fica na emergência até o décimo dia e acaba na UTI”, afirma.
Os grupos mais afetados por essas complicações são os idosos, devido à capacidade pulmonar reduzida pela idade, e também os obesos. Já nos pacientes jovens e não obesos, os agravamentos, quando existem, são causados por alguma outra condição prévia.
Acerca de problemas causados pela Covid em outros órgãos, o médico afirma que são raros e normalmente provocados também por problemas já existentes. “Foram raros os casos de acidente vascular cerebral (AVC), complicações embólicas ou infarto. Tivemos duas pessoas que infartaram, mas já eram cardiopatas.”
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Sequelas
Quanto às complicações renais, muito mais comuns, Foernges explica que são causadas pela utilização de respirador. “A disfunção renal é decorrente da ventilação mecânica. Talvez nem tanto pela Covid em si, mas pela própria terapia. Na tentativa de salvar a vida, alteramos todo o mecanismo fisiológico do paciente, e isso acontece frequentemente na UTI. Em geral, o órgão que mais tem disfunção é o rim. Cerca de 25% dos internados críticos têm disfunção renal, muito pelas terapias que são utilizadas e pela sedação”, ressalta.
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Ocorrendo a entubação e eventual lesão pulmonar, a reabilitação é mais demorada. “Quando vai para a ventilação mecânica, são cerca de duas a três semanas de UTI, e esses pacientes prolongados são os que têm a recuperação mais lenta.” Após a desentubação, a abordagem indicada é a fisioterapia respiratória, com o objetivo de recuperar plenamente a função pulmonar e reduzir, possivelmente, sequelas a longo prazo. Esse processo se estende por aproximadamente três a quatro semanas.
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