Diante de vidas perdidas e municípios destruídos por enchentes, enxurradas e deslizamentos, o Rio Grande do Sul agora busca não apenas a reconstrução, mas também a qualificação das áreas urbanas e rurais para enfrentar eventos climáticos extremos. Um dos exemplos a seguir é Blumenau, município de 321 mil habitantes localizado no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Em entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9, o prefeito Mário Hildebrandt, que está auxiliando na recuperação de Lajeado e Estrela, falou sobre as ações executadas após 2008, ano em que uma precipitação de mil milímetros em três dias provocou uma destruição nunca antes vista.
Para evitar novas tragédias, o chefe do Executivo blumenauense diz que é preciso entender o processo. “Nós não conseguimos evitar que chova em grandes volumes, mas é possível minimizar os riscos”. Entre as intervenções, citou a limpeza dos leitos dos rios para conter o assoreamento e a construção de contenções e enrocamentos para impedir o avanço da água sobre as casas. “Eu tenho dito sempre que teremos enchentes e deslizamentos, mas precisamos estar preparados para retirar as famílias das áreas de risco em curto espaço de tempo para que elas não sejam vítimas”.
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Além das obras, o município investiu ainda em um avançado sistema de meterologia e alerta que informa à população o nível do Rio Itajaí-açu e também sobre a possibilidade de deslizamentos conforme o volume de chuva acumulado. “Tudo isso para que a comunidade esteja preparada e saia daqueles locais”.
Hildebrandt contou que a cidade teve seis enchentes e mais de 600 deslizamentos em 2023. Apesar da destruição de algumas casas e outras estruturas, não houve perda de vidas. “Esse é o propósito do sistema de monitoramento e alerta: possibilitar que essas pessoas busquem um local seguro em um curto espaço de tempo e não sejam vítimas”.
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Outra mudança significativa feita em Blumenau diz respeito à Defesa Civil, que até 2008 era composta por cinco técnicos e mais alguns profissionais no setor administrativo. Hildebrandt ressaltou que o órgão era estruturado e capacitado, tendo em vista alguns eventos climáticos extremos já enfrentados na década de 1980, mas não estava preparado para o ocorrido em 2008.
De lá para cá, a Defesa Civil recebeu investimentos significativos e hoje é uma das 20 secretarias existentes na estrutura de governo. “É uma pasta que tem geólogos, engenheiros, meteorologistas, agentes de Defesa Civil e dezenas de veículos. O atual secretário é um coronel da reserva do Corpo de Bombeiros”. O titular da Secretaria de Defesa Civil, Carlos Olímpio Menestrina, era o comandante do Corpo de Bombeiros de Blumenau em 2008 e atuou junto com Mário Hildebrandt, que na época era secretário de Assistência Social, no acolhimento de 25 mil desalojados e 6 mil desabrigados.
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Ainda sobre infraestrutura, Blumenau construiu um sistema de diques semelhante ao existente em Porto Alegre. Assim, a enchente é contida pelas barreiras e, caso os bairros sejam inundados pela rede de drenagem, entra em ação um sistema de bombeamento para retirar a água e impedir que ela invada as casas. “Hoje são cinco diques, todos eles com gerador. Quando tem uma enchente, falta energia elétrica e se não tiver gerador, não adiante ter o dique”. O gestor diz que é um modelo complexo de explicar e de operar, mas exige muito investimento e coragem para fazer. O orçamento anual da Defesa Civil local é de cerca de R$ 5 milhões só para a manutenção, sem contar os investimentos.
Ao reforçar que não é possível evitar a chuva, Mário Hildebrandt também repetiu a importância do investimento, tanto na Defesa Civil quanto em infraestrutura, para possibilitar uma convivência mais harmoniosa e menos perigosa com as águas. Recentemente, foi aprovada uma obra de R$ 25 milhões com recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para minimizar o risco de deslizamentos em uma comunidade afetada por esse problema de forma recorrente. Segundo o prefeito, o local já havia recebido melhorias, mas não foi suficiente, por isso a necessidade de mais intervenções.
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Além disso, outras dez obras, com valor somado também de R$ 25 milhões, terão o mesmo objetivo: conter deslizamentos e inundações. “São barragens, muros de contenção, arrimos, enrocamentos, depende de cada situação. É isso que temos feito para buscar soluções”. Enfático, o gestor volta a citar que é impossível evitar a chegada das águas, mas é possível minimizar os efeitos delas com obras de contenção e sistemas de informação e alerta para a população.
Uma das atribuições da Secretaria de Defesa Civil é a elaboração e atualização de um mapa geológico cuja função é monitorar as áreas de risco, classificadas em níveis altíssimo, alto, médio e baixo. Nos locais de médio e alto risco, salientou Hildebrandt, todas as construções precisam ter o aval da pasta e só são aprovadas mediante a apresentação de soluções de engenharia para prevenir ou evitar problemas. Os técnicos ainda fiscalizam regularmente para garantir o cumprimento das exigências da forma correta.
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Ainda foi necessária a remoção de pessoas das áreas com risco mais elevado. Algumas, que se recusaram a sair, foram notificadas de que estão residindo em um local perigoso. O prefeito recordou que, em 2008, antes dos desastres provocados pela chuva, o Conselho Tutelar foi acionado para retirar as crianças das famílias que não quiseram deixar as casas. “Fizemos isso porque não podíamos abandonar os incapazes à irresponsabilidade dos adultos”. Com isso, cerca de 60 famílias foram removidas e salvas, visto que a área onde elas estavam sofreu deslizamento.
Situada no Vale do Itajaí, Blumenau recebe águas vindas de outros municípios e regiões. Diante disso, explicou Mário Hildebrandt, a Secretaria de Estado de Defesa Civil é a responsável por verificar a situação de outros locais e também operar as barragens de Taió, Ituporanga e José Boiteux. A partir delas e também de pluviômetros e medidores de nível instalados por toda a região, Blumenau consegue estimar a subida do Rio Itajaí-açu com horas de antecedência, bem como fazer uma projeção de onde as águas poderão chegar.
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Na última enchente, registrada em meados de maio deste ano, o sistema alertou a comunidade no dia anterior que a água poderia alcançar um pico de nove metros. “Então, quem mora nessa cota, já estava sabendo que precisaria deixar a residência ou se prevenir levando os móveis para o segundo andar”. A projeção ficou muito próxima de se confirmar, com o nível chegando a 8,65 metros. “Tivemos seis famílias desalojadas, mas fora isso a enchente não teve impacto por conta dos nossos sistemas e profissionais.”
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