A busca por momentos felizes faz parte do ser humano em todas as épocas da história, porém no mundo pós-moderno, tornou-se quase um dever. Atualmente, perpetua-se a ideia de uma “felicidade” muito pueril, praticamente divina. Acredita-se que depois de conquistada a vida será eternamente agradável e os problemas não trarão conflitos ou sofrimento.
A sociedade tende a criar modelos de felicidade ao ofertar diversos objetos como sendo os que terão o poder de proporcionar tal sentimento. Estas conquistas, porém, são realizações de desejos que transmitem sensação de bem-estar, mas assim que supridos a incompletude de algo a mais gera um desprazer novamente, uma sensação de vazio.
Este sentimento é mais superficial e rápido, sem sentido de vida e é visto como momentânea e impulsiva. Após sentir essa felicidade instantânea, a tendência é sentir vazio e desprazer, um ciclo sem fim. Não é saudável, do ponto de vista psicológico, viver constantemente em um estado de euforia, pois assim o indivíduo não entra em contato com outros aspectos de sua personalidade, de sua essência, que incluem as características tidas como positivas e negativas e que são tão genuínas como qualquer outra.
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Esse fenômeno é percebido nas redes sociais, onde todos parecem felizes, as pessoas mostram aquilo que na Psicologia Analítica chamamos de Persona: a máscara social usada para uma adaptação à coletividade. A Persona só revela aos outros os aspectos de nossa personalidade que achamos bacana, bonito e que seguem as normas de grupos sociais e culturais. Cabe apontar que ela é necessária para o desenvolvimento psíquico, um bom exemplo dela é a “roupagem” que colocamos quando vamos ao trabalho, nos posicionamos e nos mostramos de uma forma neste ambiente.
Assim, nas redes sociais, as pessoas, comumente, gostam de mostrar o melhor de si e possuem milhares de ferramentas para expor apenas uma parcela de sua personalidade, àquela que acham mais bonitas socialmente. Para isso, alguns se transformam em grandes personagens que só revelam aspectos maravilhosos, porém isso nunca corresponde a um ambiente real.
Para Psicologia Social essa questão é vista como sociedade do espetáculo, onde tudo se torna um teatro aos outros, devendo sempre mostrar alegria, felicidade. Como se a vida fosse uma novela para os outros assistirem, e não como ela deve ser vivida, tudo se torna irreal e superficial.
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Muitos estudos nesta área revelam que as exposições de muito sucesso, lazer, felicidade e conquistas nas redes sociais despertam sentimentos de inveja e insatisfação no outros com a própria vida. Pois a vida do outro parece ser boa a todo momento, sempre.
A felicidade é algo particular, portanto seria um grande engano acharmos que existe a pílula mágica ou uma receita pronta para felicidade. Além disso, o conceito de felicidade muda muito de acordo com o contexto e a forma de abordar, assim, é possível olhar pelo ponto de vista religioso, psicológico, filosófico, estético, e outros.
Será que felicidade é ter adquirido um monte de conhecimento? Ser o número um na área em que você atua? Não envelhecer? Não ter rugas na cara? Ter o carro da moda? Para nós, estar feliz não é estar alegre, é sentir-se bem com sua vida e suas fases, sabendo que há conflitos a serem trabalhados e dificuldades no caminho. É sentir-se completo e não perfeito.
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Temos diversos tipos emoções e formas de interagir com o mundo, mas não podemos focar apenas em uma parte, pois o equilíbrio de todas nossas partes, inclusive a raiva e a tristeza são importantes. Este equilíbrio que gerará a sensação de bem-estar, de que a pessoa está em contato com sua essência, conhecendo-se, dando chance para novas oportunidades. Neste sentido estamos correlacionando a felicidade muito mais com maturidade psicológica, sendo assim, para ser feliz é necessário conhecermos a nós mesmo e essa tarefa é difícil e complicada.
Fonte: Luciana Romano e Raquel Benazzi – Psicólogas do Grupo Terapêutico Núcleo Corujas
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