A proposta de “produtor multissafras”, em destaque na 33ª Abertura da Colheita do Arroz no Rio Grande do Sul, que ocorre até esta quinta-feira, 16, na Estação Experimental de Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado em Capão do Leão, no Sul do Estado, foi justificada e estimulada pelo depoimento de arrozeiros convidados. Jair Buske, de Agudo, e Ricardo Teixeira, Paulo Nolasco e João Paulo Silveira, do Grupo Quero-Quero de Jaguarão e Santa Maria, mostram bons resultados alcançados com esse sistema, agregando o cultivo de soja e milho, e inclusive trigo.
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Buske, que é também diretor na Depressão Central da Federação das Associações de Arrozeiros (Federarroz), promotora do evento, começou a implantar mais culturas na sua propriedade de 80 hectares em 2010/2011, tendo hoje 70 hectares com arroz, 2 de soja e 8 de milho. Foi movido pelos problemas com arroz vermelho e instabilidade de preços no cereal. Buscou conhecimento para planejar bem e readequar o uso do solo compactado, fazendo descompactação, subsolagem, canais secundários de irrigação e drenagem, de muita vazão, com entrada e saída rápida da água.
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Cada ano servindo de aprendizado, introduziu com sucesso soja e milho, além de ver oportunizada a implantação de cultura de inverno, o trigo, e plantas de cobertura de inverno, como ervilhaca e nabo forrageiro. Imbuído da ideia de que a outra cultura teria que dar retorno, o que passa pela irrigação, passou a obter bons resultados, com o milho produzindo acima de 12 toneladas/hectare, o próprio trigo com produtividade boa e sem invasoras e o arroz retornando sem o vermelho. “O custo no arroz diminuiu em 30% a 40% e a rentabilidade aumentou 30%, com melhor estrutura de solo e produtividade, maquinário otimizado e diluição de custos”, ressaltou Buske.
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Situações semelhantes foram verificadas na Fazenda São Francisco, do Grupo Quero-Quero em Jaguarão, no Sul do Estado, de grande porte, com 6.620 hectares (hoje com 2,8 mil de arroz irrigado, 3 mil de soja na várzea e 320 de milho irrigado). Conforme Paulo Nolasco, a rotação com soja foi iniciada em 2009/2010 e, “depois de se aprender com erros, foi possível um salto em qualidade e produtividade, deixando de ser mera rotação”.
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Ele citou ainda a relevância de iniciativas como o Sistema Clearfield da Basf e o Projeto 10 do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), bem como a importância fundamental de adequação de áreas e irrigação. Nolasco relatou que, de uma histórica produtividade de arroz entre 4,5 mil e 6 mil quilos/hectare, hoje se alcança faixa de 10 mil quilos/ha, “e se tem arroz preto apenas pincelado”.
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Outro setor do grupo, que opera em Santa Maria e em parceria com terceiros, também verificou “estabilidade e evolução de patamares produtivos, com curva de ascendência”, ao entrar em 2013/14 com soja além do arroz, testemunhou João Paulo Silveira. A novidade recente é a implantação de lavoura de trigo, em que estão sendo vencidos desafios e gargalos, assim como no sistema multissafras em geral. Mas a convicção que firmou é de que a rotação vai ser ampliada, “com o grande propósito de gerar mais renda, o que vai nos dar sustentabilidade”, asseverou.
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Custo de produção aumenta 60% em dois anos
A introdução de mais culturas no sistema de produção dos arrozeiros vem sendo defendida pela Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), que organiza a Abertura da Colheita do Arroz no Estado, neste ano com o tema “produtores multissafras”. “Isto porque temos a necessidade de altas produtividades para sustentar um custo de produção que aumentou em média 60% nos últimos dois anos. Não temos outra ferramenta hoje a não ser aumentar o rendimento por hectare, com a volta do arroz após a soja ou o milho, ou após a cobertura vegetal com pastagens, que estamos intensificando cada vez mais e aumenta a fertilidade do solo”, assinala o presidente Alexandre Velho.
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O dirigente reitera que o sistema de produção deve ser aliado a uma gestão eficiente, em que o produtor precisa atualizar e gerenciar esses custos que estão muito altos. Segundo ele, “chegam a R$ 12 mil só de desembolso por hectare, um número que assusta e traz a obrigação de uma profissionalização do processo de produção”. Não por acaso essa questão também recebeu enfoque especial na programação da abertura da colheita, com painel sobre gestão financeira e estratégica. Da mesma forma, a intensificação produtiva em terras baixas voltou a receber atenção e será destaque no último dia do evento, nesta quinta-feira.
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Um dos painéis vai enfocar estratégias para intensificação da pecuária de ciclo completo em sistemas de Integração Lavoura Pecuária (ILP), enquanto outro tratará de oportunidades com cereais de inverno. Também ocorrerá Seminário Duas Safras – Intensificação Produtiva em Terras Baixas, desenvolvido em várias etapas no Estado por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar/RS. Eduardo Condorelli, superintendente do Senar/RS, ressalta que “a produção multissafras vai muito além da escolha de cultura, mas é estratégica de quem se propõe a ser empresário rural e gestor do negócio com mais margem e segurança”.
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Pauta tributária
O presidente da Federarroz, Alexandre Velho, ainda enfatiza que, no evento e no ato oficial previsto para essa quarta-feira, 15, estava sendo reiterada a pauta tributária do setor já colocada à Secretaria da Fazenda do Estado. “Precisamos avançar nesse sentido, pois hoje temos uma concorrência desleal do Mercosul, e grandes centros consumidores como Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais estão importando muito mais”, afirma.
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Ele cita como exemplo Minas Gerais, que importava 4 mil toneladas de arroz há dez anos e agora importa 400 mil toneladas, com benefício fiscal de alíquota zero de ICMS. “Isso prejudica em especial a indústria, que já teve 300 unidades no Rio Grande do Sul e hoje fica em 140, o que reflete no produtor.”
Também nessa questão, segundo o dirigente da entidade dos produtores, estão sendo feitos encaminhamentos em nível federal, que envolvem a parte estrutural e a identificação nas embalagens do arroz oriundo de fora, do Mercosul, “que normalmente não é identificado como produto importado. Ficamos sujeitos à entrada de produto importado em que o tipo dois é vendido aqui como tipo um, prejudicando toda indústria e, em consequência, os produtores”, alerta.
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